sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Visita pastoral a Pernambuco de Sua Eminência o Metropolita Amfilóquio

Bendito aquele que vem em nome do Senhor!

Sua Eminência Metropolita Amphilóquio de Montenegro e Litoral, administrador da Diocese de Buenos Aires, América do Sul e Central.


Queridos irmãos para nosso jubilo e para a Glória de Deus hoje com Sua permissão desembarca em Recife Sua Eminência Metropolita Amphilóquio de Montenegro e Litoral, administrador da Diocese de Buenos Aires, América do Sul e Central.

Após uma visita a Missão ortodoxa sérvia de São Pedro e São Paulo em Campinas cujo pároco é o Sacerdote Marko, nosso amado Metropolita Amphilóquio chega a Recife. Nessa sexta feira o Vladika descansará para com a graça divina celebrar a Divina Liturgia no Mosteiro da Santíssima Trindade cujo igúmeno é o Hieromenge Pedro, localizado em Aldeia, Camaragibe, Região Metropolitana do Recife, sábado às 9:30h horário local. Ainda no sábado realizará uma visita pastoral a paróquia de São João Crisóstomo em Caruaru cujo pároco é o Sacerdote Jairo. Domingo também as 9:30h, horário local, será celebrada a Divina Liturgia na paróquia da Dormição da Mãe de Deus cujo pároco é o Arcipreste Alexis, vigário geral da missão ortodoxa sérvia no Brasil.

Todos são bem-vindos as nossas celebrações e estão desde já convidados para partilharem do amor de Cristo nessa tão aguardada e esperada visita de nossa pai espiritual. Que seja tudo para a maior Glória do Deus Altíssimo e Triuno que pelas orações da Santíssima Deípara e de todos os santos e teóforos padres sejamos iluminados pela graça da visita do Metropolita Amphilóquio e que ele tenha uma boa viagem e uma boa acolhida.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

O Cristão Ortodoxo na era da informação - Parte 2


Protopresbítero Gregory Naumenko
pároco da Igreja da Proteção da Mãe de Deus, em Rochester,
Estado de New York, EUA.
Palestra proferida na 33a. Conferência Anual da Juventude Ortodoxa Russa (em 13/26 de dezembro de 1997), realizada na Igreja do Ícone da Alegria de Todos os Que Sofrem, em Geelong, Estado de Victoria, Austrália.

Quanto mais profunda e completamente o homem estuda as ciências e conhece os limites de suas competências, mais cultura filosófica e teológica o homem possui. Do mesmo modo, quanto mais profundo é o desenvolvimento de sua fé religiosa, tanto mais raras se tornam as contradições imaginárias entre fé e conhecimento, e entre religião e ciência...
A religião responde às indagações mais altas e intrincadas do espírito humano, às quais a ciência é absolutamente impotente para responder. Quanto mais altamente desenvolvida é a religião, tanto mais ela estimula o amor pelo conhecimento; não, é claro, o conhecimento vão, mas o conhecimento verdadeiro, que se chama sabedoria espiritual...
São Basílio o Grande, que era um erudito, um filósofo e um teólogo, disse: "No ensinamento filosófico pré-cristão havia apenas uma sombra das verdades reveladas, um pré-retrato da Verdade revelada na Sagrada Escritura, um reflexo da luz da verdade de Cristo semelhante ao reflexo do sol na água." Também sobre a relação entre fé e conhecimento São Basílio afirmou: "Na ciência, a fé precede o conhecimento. Isso é profundamente verdadeiro, uma vez que tudo o que há de mais fundamental e inicial no conhecimento científico é impossível de se provar, e é aceito como princípio básico por um ato de fé”.
Se os grandes Padres da Igreja consideravam o conhecimento científico e filosófico honesto com tão profundo respeito, então, por sua vez, os maiores sábios científicos genuínos do passado consideravam a fé religiosa com profunda estima e reverência. Eles notaram que o Conhecimento Verdadeiro é incompatível com o orgulho. A humildade é uma condição indispensável para a possibilidade de se apreender a Verdade. Apenas um erudito humilde, tal como um pensador religioso humilde, sempre a lembrar as palavras do Salvador: Sem Mim nada podeis fazer e Eu sou o caminho e a verdade e a vida, é capaz de seguir na direção correta que leva à consciência da Verdade. Porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.
As reflexões do Professor Andreev nos dão a esperança de que ainda haja conhecimento digno de ser perseguido lá no mundo da erudição. Entretanto, com que cautela se deve proceder num mundo em que palavras tais como Fé em Deus, humildade, reverência e até Verdade foram banidas do vocabulário da academia! Tal como o coletor de cogumelos em Rochester NY, deve-se ser extremamente cuidadoso ao escolher o que consumir, para não ser envenenado e arriscar-se à morte espiritual.
Isso nos leva ao próximo termo que devemos investigar, em nosso exame de nossa Era da Informação: Verdade. A simples definição de Verdade do dicionário é: A substância da realidade; veracidade.
Em uma de suas preleções, o Professor Andreev notou que toda pessoa normal, sensível e criticamente pensante, ao se desenvolver espiritualmente, mais cedo ou mais tarde põe diante de si uma linha inteira de questões acerca do que é a Verdade: qual é a natureza, sentido e propósito da vida, pessoalmente para cada indivíduo, e para o universo como um todo? O que é a vida? Qual é a origem de todas as coisas existentes? Há um Deus, Criador de todas as coisas, ou o mundo existe sem um Criador? Se há um Deus, é possível para nós termos comunhão com Ele? Existe um outro mundo além do visível? O que é a matéria? O que é a consciência? O que é o Espírito? O que é a morte? Existe a alma, e ela possui a imortalidade? O que são o bem e o mal? Pode-se conhecer a Verdade absoluta? Como se deve viver e o que se deve aspirar?
Essas são questões que, de uma forma ou de outra, todo ser humano normal e pensante tem que perguntar a si mesmo. Pois, se não há Verdade absoluta, então a vida não tem sentido nem objetivo. Contudo, essas questões levam tempo para ser formuladas. Elas não surgem todas de uma vez. Precisa-se de tempo para o processo de sua formulação, contemplação e resolução. Cada indivíduo precisa percorrer esse processo; do contrário, ele não se desenvolve como um ser humano, e permanece espiritual e psicologicamente retardado.
Uma pergunta pode ser validamente formulada em nossa era de hiper-informação, na qual, desde a mais tenra idade, os indivíduos são permanentemente sujeitos à Sobrecarga Sensorial Informativa: há tempo suficiente, sobra capacidade de atenção suficiente para que todas essas importantes questões sequer despontem no coração de um jovem -- que dirá para que sejam resolvidas? Talvez seja por isso que nos tornamos uma sociedade de desajustados espirituais e que dois de cada cinco norte-americanos sejam reconhecidamente doentes mentais.
É claro que, antes da Queda, quando o homem vivia em plena comunhão com Deus, seu Criador, a questão da existência de Deus não era suscitada. É apenas depois da Queda, quando o pecado passou a multiplicar-se geometricamente e a maioria da raça humana começou a perder o conceito do Único Deus Verdadeiro, é que o homem passou a se perguntar: há um Deus, há uma Verdade absoluta, e ela pode ser compreendida? No decorrer dos tempos, o homem decaído lidou com as questões da existência de Deus e da Verdade absoluta de uma variedade de maneiras falhas. Nosso século, que foi marcado pela reinvenção de todas as heresias de outrora, não deixou de abraçar também os sistemas filosóficos falhos do passado.
FALSAS VISÕES DE MUNDO
Definamos brevemente esses sistemas filosóficos falhos, para que possamos mais facilmente reconhecê-los em suas várias manifestações contemporâneas. Novamente recorreremos às definições concisas de Ivan Mikhailovich Andreev, nosso Professor de Teologia Apologética.
Ceticismo -- filosofia concebida em primeiro lugar pelos antigos gregos, posteriormente revivida na Europa após o chamado iluminismo. É um sistema de dúvida a respeito de tudo, que inclui a dúvida da existência de Deus e da verdade absoluta. Um cético responde à questão da existência da verdade absoluta dizendo: "Eu não sei." O ceticismo é estéril, na medida em que não faz qualquer esforço de vontade moral ou espiritual para apreender a Verdade absoluta. O ceticismo consistente se torna completamente impotente diante de questões sobre qualquer tipo de compreensão do mundo e do homem.
O criticismo é um sistema filosófico propagado por Immanuel Kant. É uma declaração de que a Verdade absoluta não é apreensível. À questão da existência de Deus e da Verdade absoluta, esse sistema responde: "Os métodos científicos são a única maneira de se provar concretamente qualquer coisa, e, uma vez que essas questões não podem ser respondidas pelo método científico, eu devo responder: não tenho como saber." O criticismo, no fim das contas, é tão-somente o reconhecimento da limitação do conhecimento científico e do método racional.
Os materialistas modernos convictamente adotaram uma combinação de ceticismo e criticismo como seu dogma e credo. Contudo, eles combinaram e modificaram as duas filosofias para satisfazer as suas necessidades. À réplica do cético "Eu não sei", o materialista contemporâneo acrescentou: "Eu estou ocupado demais conhecendo as coisas terrenas, e é reconfortante para mim saber (e sinto-me muito grato ao crítico por me informar) que eu não tenho como saber.
O positivismo, cujo principal divulgador foi Auguste Comte, é uma declaração de que a humanidade, em seu crescimento, passa por três estágios: o teológico, no qual predomina a fé; o metafísico, quando predomina a filosofia especulativa; e o positivo, no qual predomina a ciência. A resposta do positivismo à existência de Deus e da Verdade absoluta é: "Eu não quero saber disso."
O positivismo é a visão de mundo propagada pela série de TV e cinema "Jornada nas Estrelas". Com certeza a maioria de vocês são familiares a essa fantasia, na qual um grupo de humanóides se aventura pelo cosmo em busca de novas formas de vida e novas civilizações, corajosamente indo a lugares onde nenhum homem jamais chegará na realidade. A tripulação da espaçonave Enterprise (e, na última temporada da série, a espaçonave Voyager) viaja de planeta em planeta, supostamente encontrando civilizações formadas por seres em vários estágios do desenvolvimento evolutivo. Quanto mais desenvolvida é a raça encontrada, mais provável é que ela tenha abandonado qualquer crença no sobrenatural. Esse tema positivista é continuamente recorrente nos vários episódios da série, e procura martelar na cabeça do espectador a idéia de que as crenças religiosas são meras superstições e não têm credibilidade para o ser humano moderno. De acordo com Jornada nas Estrelas, tudo é explicável sem apelo ao sobrenatural.
Entretanto, o problema do positivismo é que, ao desligar-se das indagações mais importantes e urgentes do espírito humano, ele se emascula enquanto visão de mundo e vira uma maçaroca de conhecimentos científicos adequado apenas à satisfação de rasas questões práticas da vida. O positivismo sofre de uma ausência de vontade de aprender a Verdade. No fim das contas, aquilo que o Capitão Jean Luc Picard de Jornada nas Estrelas propagandeia como um gigantesco salto evolutivo para a frente é, na realidade, um gigantesco escorregão espiritual para trás.
O ateísmo é a afirmação de que não há nenhum Deus. O ateísmo é, em si, uma crença, uma vez que saber que não há nenhum Deus é impossível. Logo, o ateísmo é a fé na inexistência de Deus, a fé em não-Deus.
É claro que o ateísmo é o credo do socialismo e do comunismo. A grande multidão (mais de vinte milhões, pelas estimativas mais conservadoras) dos Novos Mártires e Confessores da Rússia que sofreram pela sua Fé ortodoxa em Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo atesta os extremos esforços militantes a que os ateístas inimigos de Deus tiveram que recorrer, em sua tentativa de inculcar suas falsas crenças nas massas. Na Rússia, o ateísmo fracassou miseravelmente, mas ele conseguiu um sucesso consideravelmente maior no Ocidente. Durante os anos 50 e começo dos 60, ele gradualmente virou o dogma do humanismo secular, que é a religião de facto da atual comunidade acadêmica. Nos EUA, à guisa de "separação entre Igreja e Estado", o Deus cristão foi totalmente excluído da sala de aula e só pode ser mencionado sob uma luz negativa. Por exemplo: muitas escolas da região de Rochester agora baniram até as decorações de Natal. No ano passado, quando um grupo de alunos, por sua própria iniciativa, colocou uma árvore de Natal no refeitório, a polícia foi chamada e a árvore foi prontamente removida. Tudo em nome da liberdade de expressão religiosa.
Todavia é impossível ao ateísmo satisfazer uma pessoa pensante. Sendo uma crença na ausência de Deus e da Verdade absoluta, ele se enreda numa massa de contradições e é incapaz de construir não só uma visão de mundo completa, mas sequer uma teoria mais ou menos satisfatória da matéria, que ele procura idolatrar imputando-lhe virtudes absolutas.
Não é surpreendente, portanto, que na América o ateísmo dos anos 50 e 60 tenha sido substituído pelo decadentismo e niilismo do final dos anos 60 e anos 70, que foi depois substituído pelo materialismo dos anos 80 e agora, nos anos 90, está sendo substituído por um retorno ao panteísmo pagão. O homem não pode viver sem Deus. Contudo, por causa de décadas de escárnio e guerra aberta contra o Verdadeiro Deus dos cristãos, o homem contemporâneo não consegue retornar ao Cristo e volta-se para outros deuses. Simplesmente não é politicamente correto admitir ser um cristão crente e praticante. Porém, ser um panteísta é agora perfeitamente aceitável. É considerado até esclarecido.
O panteísmo é a crença de que Deus e a natureza são uma só e a mesma coisa. Ao identificar Deus e a natureza como um só ser, a fé do panteísmo emaranha-se em contradições insolúveis, uma vez que ele é incapaz de explicar a origem, o propósito ou o sentido do mundo e do homem. Ele fracassa também ao abordar a conveniência do universo e a origem do mal, bem como em oferecer qualquer base para a lei moral. O panteísmo é o arrimo do hinduísmo, que se manifestou no Ocidente como "o movimento da Nova Era". Esse paganismo da Nova Era está sendo disseminado em nossas escolas hoje, tanto aberta quanto veladamente. A idéia mais perniciosa dessa antiga ilusão reciclada é a de que, uma vez que Deus e a natureza são um, e o homem é a coroa da natureza, então o homem tem que ser Deus. Ele precisa apenas tomar consciência de seu potencial divino. Isso não soa surpreendentemente parecido com a promessa da serpente: "Bem podeis estar seguros que não haveis de morrer:... tanto que vós comerdes desse fruto, se abrirão vossos olhos; e vós sereis como uns deuses, conhecendo o bem e o mal"? O homem contemporâneo, orgulhosamente confiante em si, está sendo mais uma vez enganado pelo pai das mentiras.
É claro que, como cristãos ortodoxos, nós somos teístas. O teísmo é a crença em Deus não apenas como o Criador e a causa original, mas também como o Intelecto do universo. Deus não é uma parte do universo, embora se possa dizer que Ele deixou Sua marca em Sua criação, tal como se pode dizer que um artista põe parte de si em sua pintura. Mais do que isso: o homem pode estar em comunhão com Deus através dos Sacramentos e da oração. O aspecto mais perfeito do teísmo é representado pelo Cristianismo Ortodoxo. Apenas o Cristianismo, em sua forma original e inalterada -- isto é, a Santa Ortodoxia --, dá a visão de mundo mais regular, completa, profunda, abrangente, razoável, verificada e convincente e, ao mesmo tempo, a mais brilhante, jubilosa e vital.
Se o orgulho foi a causa da Queda, então a humildade é o primeiro passo para a salvação. Temos que aceitar humildemente que a Verdade Absoluta é incompreensível ao homem. Há, contudo, uma condição sob a qual o reconhecimento dessa Verdade é possível. Se há um Ser Superior, Todo-Perfeito, Absoluto (isto é, Deus), que é o Indivíduo, o Originador de tudo, o Criador, e se esse Ser absoluto deseja revelar a Verdade absoluta ao homem, então, e só então, essa Verdade pode se tornar acessível à nossa consciência. Em outras palavras, a Verdade absoluta ou é incognoscível (caso em que a vida é destituída de sentido) ou pode ser conhecida somente através da revelação de Deus ao homem. A Verdade absoluta é revelada por Deus! Onde tal revelação de Deus pode ser encontrada? Ela pode ser encontrada na Santa Igreja Ortodoxa.
Percebendo isso, nós começamos a ver que, apesar da Era da Informação tornar disponível para nós uma ampla variedade de dados, essa informação só pode ser de natureza temporal, insignificante -- que, na melhor das hipóteses, não nos deixa mais próximos da compreensão da Verdade eterna, e na pior nos distrai para longe dela. Apenas através do Cristo e de Sua santa Igreja é que podemos nos acercar de qualquer conhecimento de significado perpétuo.
O Cristo falou disso clara, aberta e definitivamente: Eu sou o Caminho, e a Verdade e a Vida.
Caros irmãos e irmãs: como devemos considerar essas palavras do Cristo? Nós podemos crer nelas, ou descrer delas e ignorá-las. Se nós optarmos por descrer, então isso quer dizer que optamos por "não acreditar em nada". Nós, como todos os homens, temos um livre arbítrio, e desse livre arbítrio depende a escolha daquilo em que cremos! Entretanto, com a liberdade vem a responsabilidade. A Santa Escritura é bem explícita quanto a isso. No Evangelho segundo São João se diz claramente a nós: Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o Seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele. Quem crê Nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. E a condenação é esta: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz...
Portanto, é extremamente importante para nós que compreendamos, clara e definitivamente, que não existe nada, fora de nós mesmos, que possa definitivamente nos impedir de crer em Deus, no Cristo e nas revelações de Deus dadas a nós por meio de Sua Santa Igreja!
Para aquele que age com fé em Deus, no Cristo e na Revelação Divina, não há contradições ou obstáculos no processo de construir uma visão de mundo completa; muito ao contrário, é precisamente com esta fé que se torna possível conhecer a Verdade absoluta.
O Professor Andreev faz outra observação interessante. Ele escreve: "Só quando o conhecimento é meramente superficial é que surgem perante o intelecto do homem contradições imaginárias entre a fé e o conhecimento, entre a religião e a ciência. Porém, com um conhecimento profundamente penetrante, essas contradições imaginárias desaparecem sem deixar vestígio. O conhecimento superficial freqüentemente afasta de Deus. O conhecimento profundo aproxima de Deus."
Este ponto é tão importante que vale a pena repetir:
O conhecimento superficial afasta de Deus.
O conhecimento profundo aproxima de Deus.
Aqui precisamos fazer uma distinção entre mera verdade e Sabedoria. Algo pode ser verdadeiro; por exemplo, se digo: "hoje não há neve no chão lá fora"; mas isso não será necessariamente muito profundo... A Verdade eterna, profunda, penetrante e sempre significativa é a Sabedoria. Verdades eternas são reveladas à humanidade principalmente através do Logos, a segunda Hipóstase da Santíssima Trindade, o Filho de Deus, nosso Salvador. É por isso que um de Seus atributos é a Sophia, a Sabedoria Divina. Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo é verdadeiramente o Caminho, e a Verdade, e a Vida, a Sabedoria Divina. Ele concede essa Sabedoria a nós através de Sua Santa Igreja -- os Santos Sacramentos, as Sagradas Escrituras, as obras dos Santos Padres, os Ofícios Divinos e a nossa participação na Vida da Igreja em geral.
COMO LEMBRAR-SE DE DEUS NA ERA DA INFORMAÇÃO?
Que espécie de conhecimento a moderna Era da Informação proporciona? Ele em algum modo se aproxima da Sabedoria? Ou será que, antes, ela proporciona uma "anti-sabedoria"? Daquilo que foi dito até agora, segue-se que certamente ela nos oferece uma riqueza de informações. Contudo, todos esses megabytes de informação correspondem a muito pouco conhecimento -- e menos sabedoria ainda, se é que propicia alguma. O fato é que a superabundância de informação na verdade dificulta o conhecimento. Você já não consegue mais ver a floresta, mas só as árvores. Logo, o resultado cumulativo de toda a informação que recebemos é, quando muito, um conhecimento muito superficial. Lembrem-se: o que o conhecimento superficial pode fazer conosco? Ele tem a potencialidade de nos afastar de Deus.
Até sociólogos seculares estão chegando a conclusões parecidas. Em seu livro The Future Does Not Compute [O Futuro Não Computa], Stephen Talbott assinala o seguinte:
Pouco há de novo em comentar a dispersão pessoal tão prontamente induzida pela cultura moderna. Os jornais diários exibem ao meu olhar ligeiro uma colagem das imagens e histórias mais dissonantes que se podem imaginar, cada uma ocupando uns poucos dedos de espaço e uns poucos instantes do meu tempo. O sofrimento nalguma guerra africana imediatamente leva a um eufórico ganhador da loteria, que por sua vez cede lugar para uma polêmica na Câmara de Vereadores, seguida dos resultados de pesquisas sobre hábitos (corporais) norte-americanos. A corrida de olhos na previsão do tempo, nos quadrinhos, nos esportes, nas resenhas literárias: é com tudo isso que me preparo para enfrentar o dia que se levanta. Minha atenção, ao invés de articular os problemas à vista numa meditação profunda, é casualmente -- quase despercebidamente – dissipada.
De modo semelhante, as chamadas da televisão se tornaram notórias; assim também a vertiginosa sucessão de imagens no cinema e no vídeo. Revistas e outdoors, o chilrar dos aparelhos de som portáteis e os intermináveis quilômetros de prateleiras dos varejistas atulhados com um cortejo diabolicamente encantador de mercadorias: todos concorrem por um momento da atenção subliminar de um sujeito de resto ausente, para que intenções alheias possam surtir efeito sobre mim. Tudo é calculado para evitar que eu permaneça firmemente em meu pleno domínio e escolha meus próprios rumos com espírito consciente. Tendo-me tornado impotente para digerir muito do que quer que seja, não tenho escolha senão ir junto com a onda e deixar-me carregar para onde quer que ela vá.
A lei crítica que está em ação aqui é: seja lá o que eu incorpore sem ter digerido plenamente, seja lá o que eu receba com atenção menos que plena, nem por isso essas coisas perdem sua capacidade de atuar sobre mim. Elas simplesmente agirão além das margens da minha consciência. Nada é esquecido, tudo é apenas negligenciado. Isso é tão verdadeiro para a "música de elevador" quanto para as imagens de um filme; tão verdadeiro para as frases de efeito da TV quanto para os anúncios dos varejistas. Abrir-me desatentamente para um mundo caótico, apreendendo superficialmente "uma coisa após a outra", é garantir um comportamento aleatório controlado por esse mundo, e não pelas minhas próprias e ponderadas escolhas.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

DIDAQUÉ - A Instrução dos Doze Apóstolos

Didaqué:
A Instrução dos Doze Apóstolos

(Ano 145-150 DC)

O CAMINHO DA VIDA E O CAMINHO DA MORTE

CAPÍTULO I 

1Existem dois caminhos: o caminho da vida e o caminho da morte. Há uma grande diferença entre os dois. 2Este é o caminho da vida: primeiro, ame a Deus que o criou; segundo, ame a seu próximo como a si mesmo. Não faça ao outro aquilo que você não quer que façam a você.
3Este é o ensinamento derivado dessas palavras: bendiga aqueles que o amaldiçoam, reze por seus inimigos e jejue por aqueles que o perseguem. Ora, se você ama aqueles que o amam, que graça você merece? Os pagãos também não fazem o mesmo? Quanto a você, ame aqueles que o odeiam e assim você não terá nenhum inimigo.
4Não se deixe levar pelo instinto. Se alguém lhe bofeteia na face direita, ofereça-lhe também a outra face e assim você será perfeito. Se alguém o obriga a acompanhá-lo por um quilometro, acompanhe-o por dois. Se alguém lhe tira o manto, ofereça-lhe também a túnica. Se alguém toma alguma coisa que lhe pertence, não a peça de volta porque não é direito.
5Dê a quem lhe pede e não peças de volta pois o Pai quer que os seus bens sejam dados a todos. Bem-aventurado aquele que dá conforme o mandamento pois será considerado inocente. Ai daquele que recebe: se pede por estar necessitado, será considerado inocente; mas se recebeu sem necessidade, prestará contas do motivo e da finalidade. Será posto na prisão e será interrogado sobre o que fez... e daí não sairá até que devolva o último centavo.
6Sobre isso também foi dito: que a sua esmola fique suando nas suas mãos até que você saiba para quem a está dando. 


CAPÍTULO II 

1O segundo mandamento da instrução é:
2Não mate, não cometa adultério, não corrompa os jovens, não fornique, não roube, não pratique a magia nem a feitiçaria. Não mate a criança no seio de sua mãe e nem depois que ela tenha nascido.
3Não cobice os bens alheios, não cometa falso juramento, nem preste falso testemunho, não seja maldoso, nem vingativo.
4Não tenha duplo pensamento ou linguajar pois o duplo sentido é armadilha fatal.
5A sua palavra não deve ser em vão, mas comprovada na prática.
6Não seja avarento, nem ladrão, nem fingido, nem malicioso, nem soberbo. Não planeje o mal contra o seu próximo.
7Não odeie a ninguém, mas corrija alguns, reze por outros e ame ainda aos outros, mais até do que a si mesmo.

CAPÍTULO III 

1Filho, procure evitar tudo aquilo que é mau e tudo que se parece com o mal.
2Não seja colérico porque a ira conduz à morte. Não seja ciumento também, nem briguento ou violento, pois o homicídio nasce de todas essas coisas.
3Filho, não cobice as mulheres pois a cobiça leva à fornicação. Evite falar palavras obscenas e olhar maliciosamente já que os adultérios surgem dessas coisas.
4Filho, não se aproxime da adivinhação porque ela leva à idolatria. Não pratique encantamentos, astrologia ou purificações, nem queira ver ou ouvir sobre isso, pois disso tudo nasce a idolatria.
5Filho, não seja mentiroso pois a mentira leva ao roubo. Não persiga o dinheiro nem cobice a fama porque os roubos nascem dessas coisas.
6Filho, não fale demais pois falar muito leva à blasfêmia. Não seja insolente, nem tenha mente perversa porque as blasfêmias nascem dessas coisas.
7Seja manso pois os mansos herdarão a terra.
8Seja paciente, misericordioso, sem maldade, tranquilo e bondoso. Respeite sempre as palavras que você escutou.
9Não louve a si mesmo, nem se entrege à insolência. Não se junte com os poderosos, mas aproxima dos justos e pobres.
10Aceite tudo o que acontece contigo como coisa boa e saiba que nada acontece sem a permissão de Deus.

CAPÍTULO IV

1Filho, lembre-se dia e noite daquele que prega a Palavra de Deus para você. Honre-o como se fosse o próprio Senhor, pois Ele está presente o­nde a soberania do Senhor é anunciada.
2Procure estar todos os dias na companhia dos fiéis para encontrar forças em suas palavras.
3Não provoque divisão. Ao contrário, reconcilia aqueles que brigam entre si. Julgue de forma justa e corrija as culpas sem distinguir as pessoas.
4Não hesite sobre o que vai acontecer.
5Não te pareças com aqueles que dão a mão quando precisam e a retiram quando devem dar.
6Se o trabalho de suas mãos te rendem algo, as ofereça como reparação pelos seus pecados.
7Não hesite em dar, nem dê reclamando porque, na verdade, você sabe quem realmente pagou sua recompensa. reverência, como à própria imagem de Deus.
12Deteste toda a hipocrisia e tudo aquilo que não agrada o Senhor.
13Não viole os mandamentos dos Senhor. Guarde tudo aquilo que você recebeu: não acrescente ou retire nada.
14Confesse seus pecados na reunião dos fiéis e não comece a orar estando com má consciência. Este é o caminho da vida.

CAPÍTULO V

1Este é o caminho da morte: primeiro, é mau e cheio de maldições - homicídios, adultérios, paixões, fornicações, roubos, idolatria, magias, feitiçarias, rapinas, falsos testemunhos, hipocrisias, coração com duplo sentido, fraudes, orgulho, maldades, arrogância, avareza, palavras obscenas, ciúmes, insolência, altivez, ostentação e falta de temor de Deus.
2Nesse caminho trilham os perseguidores dos justos, os inimigos da verdade, os amantes da mentira, os ignorantes da justiça, os que não desejam o bem nem o justo julgamento, os que não praticam o bem mas o mal. A calma e a paciência estão longe deles. Estes amam as coisas vãs, são ávidos por recompensas, não se compadecem com os pobres, não se importam com os perseguidos, não reconhecem o Criador. São também assassinos de crianças, corruptores da imagem de Deus, desprezam os necessitados, oprimem os aflitos, defendem os ricos, julgam injustamente os pobres e, finalmente, são pecadores consumados. Filho, afaste-se disso tudo.

CAPÍTULO VI

1Fique atento para que ninguém o afaste do caminho da instrução, pois quem faz isso ensina coisas que não pertencem a Deus.
2Você será perfeito se conseguir carregar todo o jugo do Senhor. Se isso não for possível, faça o que puder.
3A respeito da comida, observe o que puder. Não coma nada do que é sacrificado aos ídolos pois esse culto é destinado a deuses mortos.

A CELEBRAÇÃO LITÚRGICA
 

CAPÍTULO VII

1Quanto ao batismo, faça assim: depois de ditas todas essas coisas, batize em água corrente, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
2Se você não tiver água corrente, batize em outra água. Se não puder batizar com água fria, faça com água quente.
3Na falta de uma ou outra, derrame água três vezes sobre a cabeça, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
4Antes de batizar, tanto aquele que batiza como o batizando, bem como aqueles que puderem, devem observar o jejum. Você deve ordenar ao batizando um jejum de um ou dois dias.

CAPÍTULO VIII

1Os seus jejuns não devem coincidir com os dos hipócritas. Eles jejuam no segundo e no quinto dia da semana. Porém, você deve jejuar no quarto dia e no dia da preparação.
2Não reze como os hipócritas, mas como o Senhor ordenou em seu Evangelho. Reze assim: "Pai nosso que estás no céu, santificado seja o teu nome, venha o teu Reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai nossa dívida, assim como também perdoamos os nossos devedores e não nos deixes cair em tentação, mas livrai-nos do mal porque teu é o poder e a glória para sempre".
3Rezem assim três vezes ao dia.

CAPÍTULO IX

1Celebre a Eucaristia assim:
2Diga primeiro sobre o cálice: "Nós te agradecemos, Pai nosso, por causa da santa vinha do teu servo Davi, que nos revelaste através do teu servo Jesus. A ti, glória para sempre".
3Depois diga sobre o pão partido: "Nós te agradecemos, Pai nosso, por causa da vida e do conhecimento que nos revelaste através do teu servo Jesus. A ti, glória para sempre.
4Da mesma forma como este pão partido havia sido semeado sobre as colinas e depois foi recolhido para se tornar um, assim também seja reunida a tua Igreja desde os confins da terra no teu Reino, porque teu é o poder e a glória, por Jesus Cristo, para sempre".
5Que ninguém coma nem beba da Eucaristia sem antes ter sido batizado em nome do Senhor pois sobre isso o Senhor disse: "Não dêem as coisas santas aos cães".

CAPÍTULO X

1Após ser saciado, agradeça assim:
2"Nós te agradecemos, Pai santo, por teu santo nome que fizeste habitar em nossos corações e pelo conhecimento, pela fé e imortalidade que nos revelaste através do teu servo Jesus. A ti, glória para sempre.
3Tu, Senhor o­nipotente, criaste todas as coisas por causa do teu nome e deste aos homens o prazer do alimento e da bebida, para que te agradeçam. A nós, orém, deste uma comida e uma bebida espirituais e uma vida eterna através do teu servo.
4Antes de tudo, te agradecemos porque és poderoso. A ti, glória para sempre.
5Lembra-te, Senhor, da tua Igrreja, livrando-a de todo o mal e aperfeiçoando-a no teu amor. Reúne dos quatro ventos esta Igreja santificada para o teu Reino que lhe preparaste, porque teu é o poder e a glória para sempre.
6Que a tua graça venha e este mundo passe. Hosana ao Deus de Davi. Venha quem é fiel, converta-se quem é infiel. Maranatha. Amém."
7Deixe os profetas agradecerem à vontade.

A VIDA EM COMUNIDADE
 

CAPÍTULO XI

1Se vier alguém até você e ensinar tudo o que foi dito anteriormente, deve ser acolhido.
2Mas se aquele que ensina é perverso e ensinar outra doutrina para te destruir, não lhe dê atenção. No entanto, se ele ensina para estabelecer a justiça e conhecimento do Senhor, você deve acolhê-lo como se fosse o Senhor.
3Já quanto aos apóstolos e profetas, faça conforme o princípio do Evangelho.
4Todo apóstolo que vem até você deve ser recebido como o próprio Senhor.
5Ele não deve ficar mais que um dia ou, se necessário, mais outro. Se ficar três dias é um falso profeta.
6Ao partir, o apóstolo não deve levar nada a não ser o pão necessário para chegar ao lugar o­nde deve parar. Se pedir dinheiro é um falso profeta.
7Não ponha à prova nem julgue um profeta que fala tudo sob inspiração, pois todo pecado será perdoado, mas esse não será perdoado.
8Nem todo aquele que fala inspirado é profeta, a não ser que viva como o Senhor. É desse modo que você reconhece o falso e o verdadeiro profeta.
9Todo profeta que, sob inspiração, manda preparar a mesa não deve comer dela. Caso contrário, é um falso profeta.
10Todo profeta que ensina a verdade mas não pratica o que ensina é um falso profeta.
11Todo profeta comprovado e verdadeiro, que age pelo mistério terreno da Igreja, mas que não ensina a fazer como ele faz não deverá ser julgado por você; ele será julgado por Deus. Assim fizeram também os antigos profetas.
12Se alguém disser sob inspiração: "Dê-me dinheiro" ou qualquer outra coisa, não o escutem. Porém, se ele pedir para dar a outros necessitados, então ninguém o julgue.

CAPÍTULO XII

1Acolha toda aquele que vier em nome do Senhor. Depois, examine para conhecê-lo, pois você tem discernimento para distinguir a esquerda da direita.
2Se o hóspede estiver de passagem, dê-lhe ajuda no que puder. Entretanto, ele não deve permanecer com você mais que dois ou três dias, se necessário.
3Se quiser se estabelecer e tiver uma profissão, então que trabalhe para se sustentar.
4Porém, se ele não tiver profissão, proceda de acordo com a prudência, para que um cristão não viva ociosamente em seu meio.
5Se ele não aceitar isso, trata-se de um comerciante de Cristo. Tenha cuidado com essa gente!

CAPÍTULO XIII

1Todo verdadeiro profeta que queira estabelecer-se em seu meio é digno do alimento.
2Assim também o verdadeiro mestre é digno do seu alimento, como qualquer operário.
3Assim, tome os primeiros frutos de todos os produtos da vinha e da eira, dos bois e das ovelhas, e os dê aos profetas, pois são eles os seus sumos-sacerdotes.
4Porém, se você não tiver profetas, dê aos pobres.
5Se você fizer pão, tome os primeiros e os dê conforme o preceito.
6Da mesma maneira, ao abrir um recipiente de vinho ou óleo, tome a primeira parte e a dê aos profetas.
7Tome uma parte de seu dinheiro, da sua roupa e de todas as suas posses, conforme lhe parecer oportuno, e os dê de acordo com o preceito.

CAPÍTULO XIV

1Reúna-se no dia do Senhor para partir o pão e agradecer após ter confessado seus pecados, para que o sacrifício seja puro.
2Aquele que está brigado com seu companheiro não pode juntar-se antes de se reconciliar, para que o sacrifício oferecido não seja profanado.
3Esse é o sacrifício do qual o Senhor disse: "Em todo lugar e em todo tempo, seja oferecido um sacrifício puro porque sou um grande rei - diz o Senhor - e o meu nome é admirável entre as nações".

CAPÍTULO XV

1Escolha bispos e diáconos dignos do Senhor. Eles devem ser homens mansos, desprendidos do dinheiro, verazes e provados pois também exercem para vocês o ministério dos profetas e dos mestres.
2Não os despreze porque eles têm a mesma dignidade que os profetas e os mestres.
3Corrija uns aos outros, não com ódio, mas com paz, como você tem no
Evangelho. E ninguém fale com uma pessoa que tenha ofendido o próximo; que essa pessoa não escute uma só palavra sua até que tenha se arrependido.
4Faça suas orações, esmolas e ações da forma que você tem no Evangelho de nosso Senhor.

O FIM DOS TEMPOS
 

CAPÍTULO XVI

1Vigie sobre a vida uns dos outros. Não deixe que sua lâmpada se apague, nem afrouxe o cinto dos rins. Fique preparado porque você não sabe a que horas nosso Senhor chegará.
2Reúna-se com freqüência para que, juntos, procurem o que convém a vocês; porque de nada lhe servirá todo o tempo que viveu a fé se no último instante não estiver perfeito.
3De fato, nos últimos dias se multiplicarão os falsos profetas e os corruptores, as ovelhas se transformarão em lobos e o amor se converterá em ódio.
4Aumentando a injustiça, os homens se odiarão, se perseguirão e se trairão mutuamente. Então o sedutor do mundo aparecerá, como se fosse o Filho de Deus, e fará sinais e prodígios. A terra será entregue em suas mãos e cometerá crimes como jamais foram cometidos desde o começo do mundo.
5Então toda criatura humana passará pela prova de fogo e muitos, escandalizados, perecerão. No entanto, aqueles que permanecerem firmes na fé serão salvos por aquele que os outros amaldiçoam.
6Então aparecerão os sinais da verdade: primeiro, o sinal da abertura no céu; depois, o sinal do toque da trombeta; e, em terceiro, a ressurreição dos mortos. 7Sim, a ressurreição, mas não de todos, conforme foi dito: "O Senhor virá e todos os santos estarão com ele".
8Então o mundo assistirá o Senhor chegando sobre as nuvens do céu.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O Cristão Ortodoxo na era da informação - Parte 1

Protopresbítero Gregory Naumenko
pároco da Igreja da Proteção da Mãe de Deus, em Rochester,
Estado de New York, EUA.
Palestra proferida na 33a. Conferência Anual da Juventude Ortodoxa Russa (em 13/26 de dezembro de 1997), realizada na Igreja do Ícone da Alegria de Todos os Que Sofrem, em Geelong, Estado de Victoria, Austrália.

INTRODUÇÃO
 
Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Vossa Eminência Vladyka Hilarião, Santos Padres, caros irmãos e irmãs aqui reunidos para a 33a. Conferência Anual da Juventude Ortodoxa Russa na Austrália:
Para aqueles que não me conhecem, eu sou o padre da Igreja Ortodoxa Russa da Proteção da Mãe de Deus em Rochester, NY, EUA.
Rochester é uma cidade bem interessante: é a capital mundial do lilás. Nosso Parque Highland orgulha-se de suas 528 variedades de lilases -- ao todo, mais de 1500 arbustos. Nossa cidade é a sede de muitas empresas famosas, como a Eastman Kodak, a Bausch & Lomb, a Xerox, a Rochester Products e a Paychecks, para citar só algumas. Um fato pouco conhecido sobre Rochester é que ela é única num sentido muito incomum: alguns naturalistas me contaram que ela é o único ponto geográfico no nordeste dos Estados Unidos onde cogumelos verdadeiramente venenosos (que os matarão se vocês os comerem) podem ser encontrados na natureza. A maioria dos lugares na América têm cogumelos que deixarão vocês bem indispostos caso vocês os comam por engano (em qualquer lugar vocês precisam ser cuidadosos ao colher e comer cogumelos selvagens), mas é só na área de Rochester que vocês vão de fato morrer caso comam uma certa espécie de cogumelo que cresce nos bosques locais. É interessante notar que esses cogumelos não são originariamente nativos de Rochester. De fato, até mais ou menos 1920, vocês não conseguiriam encontrar esses cogumelos mesmo que os procurassem de propósito. Diz a história que a variedade venenosa foi inadvertidamente trazida a Rochester por George Eastman, o fundador daquela que hoje é conhecida como Eastman Kodak Corp. Ele, sem saber, trouxe esses cogumelos -- e da Rússia, dentre todos os lugares possíveis!
George Eastman era uma figura bem interessante. Ele nasceu em Waterville, NY, em 1854, e ainda jovem mudou-se para Rochester. Ele inventou o filme transparente e organizou a companhia Eastman Dry Plate and Film em 1888. Em 1927, Eastman detinha o virtual monopólio da indústria fotográfica nos EUA e rapidamente ficou multimilionário. Ele não era um mau sujeito. Na verdade, era um dos mais generosos filantropos da América. Mas algo de estranho acontecia na vida de George Eastman. Quanto mais rico ele ficava, mais aborrecido se sentia com a vida. Nele, aquele processo que Fëdor Mikhailovich Dostoyevskii descreveu tão bem em seu romance Os Demônios manifestou-se com toda a claridade. Dostoevskii mostra que, materialisticamente, o homem obtém prazer apenas do desejo e da busca de bens e prazeres materiais; contudo, quando o objeto do desejo é de fato alcançado, quando nós de fato o temos nas mãos, ele rapidamente deixa de nos satisfazer; e aí é necessário voltar a atenção para outras coisas desejáveis. Isso não é verdade? Basta que pensemos na grande variedade de artigos -- artigos que, nalgum instante do tempo, nós desejamos tanto, e que agora estão juntando pó em nossos sótãos e garagens -- para que vejamos a validade da observação de Dostoevskii.
Isso é exatamente o que aconteceu a George Eastman -- em grande escala. Tão logo ele fez sua fortuna e teve todo o dinheiro e as coisas que um homem poderia querer, ele tentou se divertir com vários projetos e passatempos.
Eastman gostava de fazer as coisas de um jeito grande. Enquanto a maioria das outras pessoas se contentam em colecionar selos, moedas, obras de arte e coisas do tipo, ele decidiu colecionar árvores. Ele viajava pelo mundo e trazia árvores consigo, e as plantava dentro e ao redor de sua chácara em Rochester. Todos os tipos de variedades exóticas podem ser vistas ainda hoje em nossa East Avenue e nos diferentes parques ao redor da cidade. Essas árvores tinham que ser transportadas de vários lugares ao redor do mundo por navio e, para que elas não morressem na viagem, eram transportadas com bastante terra ao redor das raízes. George Eastman encontrou na Rússia uma variedade da qual ele particularmente gostava. O que ele precisava saber é que, junto com essas árvores da Rússia, ele transportou um solo rico em esporos de cogumelos mortalmente venenosos. Esses cogumelos agora estão espalhados pelas redondezas de Rochester. Apreciadores de cogumelos precisam ser muito cautelosos ao colhê-los por ali.
George Eastman tinha muitos outros projetos e atividades interessantes. Ele fez vários safáris na África e em outras partes. Era um grande amante do champagne. Seu entusiasmo pela culinária é bem documentado. Era um homem solteiro; entretanto, tinha familiaridades ilícitas com mulheres, freqüentemente casadas. De acordo com um de seus biógrafos, Eastman era um homem que viveu à sua vontade, que formou seu mundo para atender as suas próprias necessidades, que experimentou o valor de seu dinheiro. De um ponto de vista mundano, pode-se dizer que ele tinha tudo o que um homem poderia querer. Todavia, na manhã do dia 14 de março de 1932, George Eastman, depois de metódicos preparativos, foi para seu quarto e disparou uma bala contra sua própria cabeça.
Caros irmãos e irmãs em Cristo, o que levaria uma pessoa que tinha tudo -- riquezas, fama, fortuna --; uma pessoa que, de acordo com todos os testemunhos, não sofria de nenhuma doença mental; o que forçaria uma pessoa assim a tirar sua própria vida?
Talvez a causa disso seja a mesma razão pela qual tanta gente nos nossos dias, especialmente gente jovem, morre por suas próprias mãos. Está claro que, em nossa sociedade de hoje, o suicídio, especialmente entre adolescentes, está atingindo proporções epidêmicas. Por quê?
À superfície, pode parecer que há uma multidão de razões complicadas para isso. Contudo, se analisarmos honestamente a situação, veremos que a causa que está na raiz é, sempre, basicamente a mesma. Falando de um modo simples: nós todos fomos criados por Deus para viver em comunhão plena com nosso Criador e compartilhar de Sua glória divina. Quando Deus é retirado de nossas vidas, forma-se um vácuo espiritual. Nós tentamos preencher esse vácuo com várias distrações, mas, não importa o quanto nos empenhamos, nada consegue de fato satisfazer nossos anseios. Se nós não encontramos nosso caminho de volta para Deus (e, na terminologia ortodoxa, chamamos esse processo de arrependimento), se não retornamos para Deus, o desespero e a melancolia se instalam, e com freqüência levam ao suicídio. Em outras palavras, quando se está espiritualmente morto, parece bastante lógico que se chegue ao estado físico correspondente.
Nós todos estamos familiarizados com as maneiras pelas quais o homem contemporâneo tenta preencher o vazio espiritual que reina em seu coração como resultado de seu afastamento de Deus. Alguns caem no álcool, alguns nas drogas, outros numa obsessão por prazeres físicos e devassidão, outros ainda ficam preocupados com a aquisição de bens materiais. Vocês provavelmente já ouviram que o norte-americano médio, e provavelmente o australiano médio, "vai às compras no shopping" para despertar seu ânimo. Muitos lidam com sua depressão sobrecarregando-se de trabalho, tornando-se os assim chamados workaholics. Tudo isso são coisas que as pessoas fazem para amortecer aquele sentimento de vazio que as rói por dentro, aquele sentimento que talvez elas nem mesmo percebam que é um anseio por estar com Deus -- o Deus que as criou, as ama, e sobre Quem todavia elas sabem muito pouco, se é que sabem alguma coisa.
Nas últimas duas décadas uma nova distração apareceu, um novo método de entorpecer as próprias faculdades espirituais. É possível que este fenômeno seja o mais perigoso a aparecer, porque à superfície ele parece inocente, e mesmo saudável à primeira vista; e assim alcançou tamanha aceitação universal. Este fenômeno é a preocupação obsessiva com a aquisição de conhecimento e informação. Para o propósito da discussão de hoje, nós o chamaremos de Sobrecarga Sensorial Informativa.
SOBRECARGA SENSORIAL INFORMATIVA
Para ilustrar o que entendemos por Sobrecarga Sensorial Informativa, observemos um dia hipotético e típico na vida de um Joe Smith médio de nosso tempo.
Joe acorda de manhã ao som do seu relógio-despertador, que está pré-sintonizado numa estação de rádio só de notícias. Mesmo antes de estar plenamente desperto, ele é bombardeado com informações, algumas úteis, mas a maioria inúteis. Quando ele finalmente sai da cama e vai à cozinha para o café da manhã, sua atenção se divide entre o jornal matutino e a pequena televisão do canto da cozinha. Sua atenção pode ficar ainda mais "esquizofrênica" se ele tem um aparelho de controle remoto e pode "surfar" entre os programas matinais.
É claro que Joe tem em casa um computador com um modem, e verifica sua caixa de e-mails em busca de quaisquer mensagens que possam ter chegado ao longo da noite.
Quando termina seus preparativos matinais, ele entra em seu carro, no qual o rádio liga junto com a ignição. Ele pode ouvir a "Edição da Manhã", a CBC, algum apresentador local ou nacional de talk-shows telefônicos com os ouvintes, ou deixar-se relaxar pela música martelante de sua escolha. A menos que ele esteja nos degraus mais baixos da escada social, ele tem um telefone celular, por meio do qual pode se juntar aos debates do talk-show do rádio, ou conectar-se ao seu lap-top para obter as últimas cotações da bolsa via Internet; tudo isso enquanto desce a rodovia a quase 110 km/h rumo ao trabalho. Uma vez lá, a afluência de informação não cessa. Além das informações de fato necessárias para fazer seu trabalho, há o rádio do escritório que está constantemente ligado, ao fundo, tocando a chamada "música de elevador". Durante a pausa para o café, folheiam-se o The New York Times e o USA Today durante breves conversas com os colegas. Na hora do almoço, Joe costuma fazer cooper no parque próximo.
Isso é feito com o acompanhamento do walkman que a mulher de Joe lhe deu no último Natal. Ele não presta atenção ao piar dos passarinhos no parque; os fones de ouvido bloqueiam todos os sons do ambiente. Depois de mais meio dia no trabalho e uma volta para casa ouvindo o "All Things Considered", Joe está de novo em seu lar. Ele permanece sentado em seu carro, dentro da garagem, até que os comentaristas do jornal da rádio pública terminem suas análises. Antes de entrar em casa, Joe pára na caixa de correio e saca de lá uma pilha de dez centímetros de altura: são inúmeras cartas, informativos, brochuras, catálogos, revistas, folhetos, anúncios, junto com a edição vespertina do jornal local. Esse estoque de impressos rende leitura suficiente para três dias inteiros; contudo, um montante igual ou maior chegará no dia seguinte. O jantar é, de novo, em frente à televisão; mas não na cozinha, como foi o café da manhã. Agora ele se passa em frente à tela gigante no quarto da família. Esse é o aparelho ao qual Joe conectou sua nova mini-antena parabólica com recepção perfeita. Joe realmente passou por problemas ao escolher entre os dois provedores desse serviço. No fim, a empresa que ofereceu 157 canais ganhou. A outra empresa, afinal, ofereceu apenas 84 canais. Enquanto surfa pela miríade de possibilidades na tela grande, Joe termina em seu lap-top um trabalho que trouxe para casa. Antes de ir para a cama, ele gasta um tempo considerável em seu computador jogando um game interativo em rede, no qual ele acha que está viciado. O jogo é muito popular entre usuários de computador em rede e se chama MUSH. M.U.S.H. quer dizer Multi-User Shared Hallucination, "Alucinação Compartilhada Multi-Usuário". Joe disse a sua mulher, que uma vez reclamou desse hábito, que isso é melhor do que estar viciado em um MUD -- Multi-User Dungeon, "Calabouço Multi-Usuário". Os MUDs são uma versão brutalmente violenta dos MUSHes, porque o objetivo freqüentemente é matar ou ser morto.
Joe finalmente afasta-se do computador quando seus olhos não conseguem mais encarar a tela. Ele toma uma ducha enquanto ouve o rádio à prova d´água que está pendurado na torneira do chuveiro. Então, cai na cama, onde finalmente cochila sob a luz bruxuleante da TV de seu quarto e o acompanhamento de seu rádio-relógio -- que o despertará de novo na manhã do dia seguinte ao som das últimas notícias matinais.
Isso parece forçado, irmãos e irmãs? Temo que não.
Verdadeiramente nós vivemos na Era da Informação. Somos bombardeados com informação quase a todo minuto do dia. Isso é bom? É saudável? Nós fomos agraciados com uma sede pela Verdade que nos foi dada por Deus. Contudo, tal como fizemos com tantos outros dons de Deus, nós corrompemos essa sede e a transformamos numa paixão. Como nós, cristãos ortodoxos, deveríamos lidar com a superabundância de informação?
É geralmente aceito hoje em dia pelas autoridades da educação e pela sociedade como um todo que a aquisição de conhecimento é empiricamente boa. Quanto mais conhecimento se adquire, melhor a pessoa se torna, mais culta e mais esclarecida. Entretanto isso é necessariamente verdadeiro?

DEFINIÇÕES
É importante que compreendamos que há uma diferença entre informação, conhecimento, verdade e sabedoria. Devemos também perceber que um cristão define esses termos de maneira diferente de um não-cristão. Vamos dirigir nossa atenção para esses conceitos.
Informação, de acordo com o American Heritage Dictionary, define-se simplesmente como uma coleção de observações ou dados. Certamente, nós podemos concordar com essa definição. Uma lista telefônica é uma coleção de informações. Se nós tivéssemos chegado de fora da cidade à estação rodoviária de Melbourne e precisássemos de uma condução até a igreja, a lista telefônica sem dúvida conteria algumas informações muito úteis para nós. Entretanto, todos nós concordaríamos que, caso fôssemos decorar a lista telefônica da cidade de Melbourne, estaríamos enchendo nosso cérebro com um monte de informações irrelevantes. Portanto, nem toda informação é necessária, ou útil. Uma superabundância de informação pode na verdade ser dispersiva e até danosa.
Podemos também concordar que uma lista telefônica pode conter uma grande quantidade de informação; mas nós não chamaríamos essa informação de sabedoria, ou mesmo de conhecimento.
O dicionário define conhecimento como a soma ou extensão do que foi percebido, descoberto ou aprendido. Notem que, nesta definição secular, não há sequer uma sugestão de discernimento entre conhecimento saudável e conhecimento prejudicial. Contudo, a Igreja sempre distinguiu entre o conhecimento do bem e o conhecimento do mal. Precisamos lembrar que nossa atual condição decaída é o resultado da desobediência de nossos Primeiros Ancestrais ao comerem da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. O que levou Adão e Eva a violarem o único mandamento restritivo dado a eles por Deus no Paraíso -- dado a eles de modo que, como diz Santo Efrém o Sírio, ao permanecerem obedientes a ele, poderiam mostrar seu amor a Deus (Obras, vol. VI, pág. 233)? Por que eles transgrediram? Sim, eles foram tentados pelo Diabo; sim, eles ficaram orgulhosos, e começaram a pensar que sabiam mais do que seu Criador; contudo, uma grande dose de curiosidade esteve presente também. Ademais, o Diabo lhes prometera: ...tanto que vós comerdes desse fruto, se abrirão vossos olhos, e vós sereis como uns deuses, conhecendo o bem e o mal.
Não é a curiosidade pecaminosa que tão freqüentemente nos leva a vaguearmos por onde nós sabemos que não devíamos ir? Para buscar conhecimento que nós sabemos que não nos trará qualquer benefício? Qual é o resultado costumeiro dessa divergência? Estamos verdadeiramente satisfeitos com nossa incursão pelo pecado? Não, não estamos. O resultado é geralmente um sentimento de desonra e esvaziamento. O único conhecimento útil que podemos ter tirado de nossa ação é que é melhor não se desgarrar dos mandamentos do Senhor nosso Deus. Isso é exatamente o que diz São João Crisóstomo, um dos maiores Padres e mestres da Igreja, que compôs a Divina Liturgia que nós usamos mais freqüentemente. Numa resposta à questão: Por que a árvore se chamava 'árvore do conhecimento do bem e do mal'?, ele responde: A árvore não deu origem à natureza do bem e do mal. Ela meramente expôs a disposição do homem. Ela é chamada por esse nome não porque o bem ou o mal estivessem ligados à sua essência, mas porque ela serviu à revelação do bem e do mal. E de fato, continua São João, que conhecimento Adão obteve por comer da árvore? Ele descobriu que a obediência a Deus é o bem, enquanto a desobediência a Deus é o mal. É isso, portanto, conclui Crisóstomo, que é o conhecimento do bem e do mal; mais nada (Vol. VIII, pág. 799).
Conseqüentemente, vemos que nem todo conhecimento é saudável ou positivo. Pelo contrário: há muito conhecimento que é nocivo, e até venenoso.
As Divinas Escrituras assinalam que alguns conhecimentos podem ser inúteis. Elifaz o Temanita, no livro de Jó, pergunta: Porventura proferirá o sábio vã sabedoria? E encherá do vento oriental o seu ventre, argüindo com palavras que de nada servem, e com razões de que nada aproveita? (Jó 15:2-3). O que Elifaz teria a dizer sobre as infindáveis horas gastas por tantos que se envolvem nos intermináveis debates dos grupos de discussão da Internet?
Entretanto, como discerniremos o conhecimento valioso do conhecimento vão? O Santo Profeta Davi nos dá uma boa indicação disso em seu 118o. Salmo, essa belíssima oração noética. O salmista clama: Grande indignação se apoderou de mim por causa dos ímpios que abandonam a Tua Lei... Bandos de ímpios me despojaram... Ensina-me bom juízo e ciência, pois cri nos Teus mandamentos... Tu és bom e fazes bem; ensina-me os Teus estatutos.
Ensina-me bom juízo e ciência... O orgulhoso humanismo contemporâneo nos prescreve que o homem só pode alcançar o verdadeiro conhecimento através dos esforços de sua própria razão ou experiência. Todavia a Igreja, sempre tentando tornar humildes nossas almas orgulhosas, ensina-nos o oposto. O Rei Salomão, em seu primeiro Provérbio, afirma com franqueza: O temor do Senhor é o princípio do conhecimento. Podemos realmente acreditar que um mestre nos ensinará o discernimento genuíno se ele não apenas não teme o Senhor, mas nem sequer reconhece a existência de Deus?
É verdadeiramente humilhante perceber que São João Clímaco, em sua Escada da Ascensão Divina (um livro organizado como uma série de degraus de uma escada, em que cada passo representa uma virtude que se deve obter ou uma paixão que se deve superar), situa o discernimento no vigésimo-sexto de trinta passos. Há tanto o que superar e tanto a se atingir antes que se possa, com a ajuda de Deus, esperar possuir ao menos os gérmens do discernimento espiritual! Então, quão perto devemos permanecer da Igreja, de Seus bons Bispos e pastores, Seus Padres e Mestres; quão freqüentemente devemos sondar a Palavra de Deus, para que não sejamos desencaminhados, seguindo veredas de falso conhecimento, vãs fantasias da pecaminosa mente humana!
E mais: podemos levar uma vida pecaminosa, envolvermo-nos em relacionamentos ilícitos, poluir nossa imaginação com visões corruptoras, profanar nossa fala com palavras obscenas, encher nossa mente de fantasias vis, e ainda honestamente esperar que sejamos aptos a discernir o conhecimento indispensável do conhecimento vazio de valor ou significado? Em toda Liturgia de Domingo, nós ouvimos a Bem-Aventurança: Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus. Há apenas uma maneira de limpar o coração: através do arrependimento, da Santa Confissão e da Santa Comunhão. Ousamos viver neste mundo sem regressarmos freqüentemente a esses salutares Sacramentos?
Portanto é claro que, para que possamos discernir o conhecimento valioso do conhecimento vão, nós devemos levar uma vida de luta espiritual; isto é, devemos levar uma vida na Igreja. Isso requer tempo, dedicação, concentração e rejeição de distrações vãs. Isso requer que escapemos da Sobrecarga Sensorial Informativa que é despejada sobre nós pela Era da Informação.
Uma dúvida pode surgir, especialmente entre estudantes: tudo isso significa que o conhecimento secular e mundano é, na melhor das hipóteses, vão e inútil, e na pior, prejudicial e hostil ao Conhecimento Divino? Ivan Mikhailovich Andreev, de bendita memória, professor de Teologia Apologética Ortodoxa em nosso Seminário da Santíssima Trindade, deu uma boa resposta a esse dilema em sua conferência sobre a relação entre a religião e a ciência. O Professor Andreev afirma:
A verdadeira religião e a verdadeira ciência, demarcados os limites da esfera de suas competências, não podem jamais apresentar contradições entre si. Se tal contradição ocorre, isso significa que ou a religião ou a ciência traíram seus princípios e se tornaram pseudo-religião ou pseudociência.
A fé e o conhecimento, nas suas verdadeiras essências, são inseparáveis. É impossível supor que um crente não pense no objeto de sua fé e não conheça aquilo em que crê. Do mesmo modo é impossível que um filósofo ou erudito, ao investigar, não creia -- pelo menos em seu próprio intelecto.
O conhecimento é tão necessário e legítimo para a religião quanto a fé o é para a erudição. A fé pode ser indispensável ali onde o conhecimento é inadequado e impotente. Qualquer coisa aprendida através da fé não pode entrar em contradição com o conhecimento genuíno...