terça-feira, 30 de setembro de 2014

Vida de São Sérgio de Radonej



São Sérgio de Radonej - ícone séc 19
 

Um dos santos mais queridos da Igreja Ortodoxa Russa é São Sérgio de Radonej cuja vida para incontáveis gerações de ortodoxos piedosos, jovens e anciãos, serviu como fonte de alimento espiritual. 
Um bispo grego, contemporâneo de São Sérgio, duvidou dos muitos relatos que ouvira sobre a santidade do Sérgio e disse: "Pode haver tal como uma lamparina nesta terra e nestes últimos tempos". Desejoso de ver por si mesmo, ele partiu para Mosteiro de São Sérgio, mas "antes de ver o santo, ele foi atingido com a cegueira. O Santo levou-o pela mão, para sua cela, e o bispo confessou a sua incredulidade, implorando com lágrimas a cura. O Santo tocou seus olhos e o curou, exortando-lhe para que não fosse tentado como um simples monge. O bispo, agora iluminado, falou em voz alta em todos os lugares sobre ter visto um verdadeiro homem de Deus, um homem celestial, um Anjo na terrena.

São Sérgio nasceu em 1314 em Rostov de pais piedosos e devotos. Mesmo antes de seu nascimento, Deus operou um milagre sobre o futuro santo: ainda no ventre de sua mãe gritou em voz alta três vezes durante a Divina Liturgia. Seu biógrafo diz que a partir deste momento sua mãe "levou a criança em seu ventre como se fosse um tesouro precioso. Ela guardava-se de toda mancha de pecado, observando o jejum".
Batizado com o nome de Bartolomeu, o menino foi crescendo como um estudante pobre , incapaz de aprender a ler. Muitas vezes ele orou a Deus em segredo: "Ó Senhor, dá-me entendimento da aprendizagem!". Um dia, reuniu-se em torno de um santo ancião de aparência angelical, que lhe perguntou: "O que você está procurando, meu filho?" O rapaz respondeu que desejava acima de tudo ler e escrever. Assegurando-lhe que por sua fé o Senhor lhe daria a aprendizagem, o ancião na súplica do menino o acompanhou-o à casa de seus pais. Todos eles entraram na capela da casa e o ancião disse ao menino para ler em voz alta o Saltério. "Pai, eu não sei como", disse Bartolomeu. Mas o ancião ordenou-lhe para que lesse a palavra de Deus sem dúvida,  e o menino começou a ler com facilidade. Então predisse o ancião aos pais que seu filho seria uma habitação da Santíssima Trindade, que ele seria grande diante de Deus e dos homens, e que ele ensinaria aos outros uma vida virtuosa.

Algum tempo depois, caiu sobre Bartolomeu o cuidado de seus pais na velhice, uma tarefa que ele voluntariamente se comprometeu, apesar de querer tornar-se monge. Depois que seus pais morreram, abandonou o mundo e, juntamente com um de seus irmãos, refugiou-se na floresta para construir uma cela e uma pequena igreja dedicada à Santíssima Trindade. Seu irmão não conseguiu permanecer muito tempo com ele, e Bartolomeu continuou sozinho na floresta, aos 23 anos, onde recebeu a tonsura monástica com o nome Sérgio.

Tarde da noite, quando o Santo estava orando, escutou uma voz chamando: "Sérgio", abrindo a janela de sua cela, ele viu um brilho extraordinário no céu e uma infinidade de belos pássaros pairavam no ar.


São Sérgio trabalhava na moagem de grãos, fazia pão, preparava alimentos e produzia velas, bem como sapatos e roupas para os outros monges. Multidões se reuniam com ele, desejavam fazer parte desta família crescente de monges. Quando dissensões surgiam, o Santo não entrava nelas, preferindo, como quando os monges não aceitavam a correção, ficar em silêncio ao invés de participar de qualquer discussão.

Uma vez, após a oração diante do ícone da Mãe de Jesus Cristo, um luz brilhou deslumbrante em cima dele e ele viu a Virgem, juntamente com os Apóstolos Pedro e João. A luz brilhante da visão era insuportável e ele caiu no chão. Mas a Mãe de Deus tocou-o, prometendo que estaria com ele e com o seu mosteiro durante sua vida e após ela.

Ele faleceu no dia 25 de setembro de 1392 (8 de setembro no calendário atual), com 78 anos de idade. Após sua morte, o corpo exalava um perfume inefável, doce, e seu rosto resplandecia branco como a neve.

A Mãe de Deus manteve sua promessa a São Sérgio. Seu mosteiro é um dos últimos a permanecer aberto sob o jugo soviético, e inúmeros peregrinos continuam a venerar suas relíquias sagradas e seu corpo incorrupto. Hoje, a Lavra da Santíssima Trindade e São Sérgio tornou-se o coração espiritual da Igreja Ortodoxa Russa.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Aprendendo a orar - Parte II

As 24 orações de São João Crisóstomo
 
Segundo as horas do dia e da noite:
Senhor, não me prives dos Teus excelentes dons celestiais. Senhor, livra-me dos tormentos eternos. Senhor, se pequei com a mente e com os pensamentos, em palavras e atos, perdoa-me. Senhor, livra-me de toda a ignorância, esquecimento, pusilanimidade, e insensibilidade empedernida. Senhor, livra-me de toda tentação. Senhor, ilumina o meu coração que os desejos malignos turvaram. Senhor, como homem eu pequei, mas Tu, como Deus compassivo, tem piedade de mim ao veres a enfermidade da minha alma. Senhor, envia a Tua graça em meu socorro para que eu possa glorificar o Teu santo nome. Senhor Jesus Cristo, escreve meu nome, Teu servo no Livro da Vida e concede-me um bom fim. Senhor meu Deus, mesmo não tendo feito nada de bom à Tua vista, concede-me ainda pela Tua graça ter um bom começo. Senhor, derrama sobre o meu coração o orvalho da Tua graça. Senhor do céu e da terra, no Teu reino, lembra-Te de Teu servo pecador, vergonhoso e impuro. Amém.

Senhor, aceita-me em penitência. Senhor, não me abandones. Senhor, não me deixes cair em tentação. Senhor, concede-me bons pensamentos. Senhor, concede-me lágrimas, lembrança da morte e contrição. Senhor, concede-me confessar meus pecados. Senhor, concede-me humildade, castidade e obediência. Senhor , concede-me paciência, coragem e mansidão. Implanta em mim, Senhor, a raiz do bem, o temor de Ti em meu coração. Concede-me, Senhor, amar-Te com toda a minha alma e toda a minha mente, e em tudo fazer a Tua vontade. Protege-me, Senhor, dos homens maldosos, dos demônios, das paixões e de todas as coisas impróprias. Senhor, Tu sabes que tudo é feito segundo a Tua vontade: que a Tua vontade seja feita em mim também pecador, pois Tu és bendito pelos séculos dos séculos. Amém.

Uma oração dada por Deus:
O que mais pode ser dito sobre a oração? - Há uma oração que é feita pelo homem, e há uma oração que é concedida por Deus para o homem que ora. Quem não conhece a primeira? Você deve conhecer esta segunda também, pelo menos na sua forma inicial. No começo, quando o homem está voltando-se para Deus, sua primeira tarefa é orar. Ele começa a ir à igreja, e em casa lê as orações que estão no livro e as que sabe de cor. Mas seus pensamentos se distraem e ele não consegue controlá-los. E no entanto, quanto mais ele se empenhe em suas orações, mais equilibrados ficam seus pensamentos e sua oração se torna mais clara.

E ainda assim, a atmosfera da alma não ficará purificada até que seja acesa com uma pequena chama de espiritualidade. Esta chama é uma amostra da graça de Deus, mas é concedida a todos, não apenas aos escolhidos. Esta chama aparece como resultados de um certo estado de pureza no todo do sistema moral da pessoa que busca. Quando esta chama é acesa, e o coração retém dentro de si um calor constante, ela detém a desordem dos pensamentos. A alma experimenta o que aconteceu com a mulher que tinha um fluxo de sangue: "... e imediatamente seu sangramento parou" (Lucas 8:44). Neste estado, a oração se transforma mais ou menos em uma oração incessante. A oração de Jesus serve como mediadora para esta oração incessante. E este é um limite até o qual a oração feita pela pessoa pode ir.

A próxima etapa deste estado é quando a oração domina a pessoa, e já não é criada por ela. O espírito de oração cativa a pessoa e leva-a consigo para dentro de seu coração, como que se alguém a tomasse pela mão e a fizesse ir de um quarto até o outro. A alma fica presa lá por alguma força exterior e permanece lá dentro por vontade própria enquanto é dominada pelo Espírito que a cativou. Eu conheço dois graus deste enlevo. No primeiro a alma é capaz de ver tudo, percebe a si mesma e sua posição exterior conscientemente, é capaz de raciocinar e se controlar, e até mesmo de cessar este estado se assim desejar.

Os Santos Padres, em especial Santo Isaac da Síria, descreveram também um outro estágio da oração que é dada do alto e domina a pessoa. Neste estágio a alma também é dominada pelo espírito de oração, mas é carregada a tais esferas de contemplação que se esquece de sua posição exterior, não tem o poder de raciocinar, controlar ou cessar este estado, apenas de contemplar. Tal estado é mencionado no "Livro dos Santos Padres", no qual é descrito o caso de uma pessoa que começou a orar antes do jantar e recobrou os sentidos apenas pela manhã. Isto é exatamente o que chamamos de uma oração em êxtase, ou uma oração contemplativa. Em tal estado algumas pessoas ficavam cercadas por luz, ou seus rostos ficavam iluminados, algumas eram elevadas do chão. O Santo Apóstolo Paulo foi arrebatado aos céus neste estado.

Esclarecimento de alguns pontos difíceis:
Você escreve, "Minha oração feita com o livro piorou." - Isto não é uma perda: mesmo que você nunca mais pegue o livro de orações novamente. Um livro de orações é algo como um livro de frases em francês, por exemplo. Você decora os diálogos até que possa se expressar fluentemente, e depois de aprender a falar você esquece aquelas frases. Da mesma maneira precisamos de um livro de orações até que chegue o tempo em que a alma começa por si mesma a rezar, depois do que podemos deixar o livro de orações de lado. Porém, quando sua própria oração não estiver fluindo livremente, seria bom dar uma mexida nela orando com a ajuda do livro.
Você deve temer o deslumbramento. Ele acontece com aquelas pessoas que ficam orgulhosas pensando que, já que sentem o calor nos seus corações, isto significa que alcançaram a perfeição mais elevada. Mas isto é apenas o começo, e um começo instável, visto que o calor e o apaziguamento do coração podem ter também uma origem natural, como o resultado de uma diligência sincera. Mas a pessoa deve se empenhar mais e mais, esperar mais e mais até que o estado natural seja substituído por aquele que é concedido pela graça de Deus. A pessoa não deve achar nunca que alcançou alguma coisa, mas devemos enxergar nós mesmos como sendo pobres, nus, cegos e imprestáveis.

Você reclama que a sua oração é curta. - Mas você pode rezar não apenas ficando de pé diante dos ícones, já que qualquer ascensão da sua mente e coração até Deus constitui uma oração verdadeira. E se você fizer issto enquanto estiver fazendo alguma outra coisas, significa que está orando. São Basílio o Grande trata da questão de os Apóstolos estarem em oração incessante da seguinte maneira: não importa o que estivessem fazendo, estavam pensando sobre Deus e vivendo em devoção permanente a Ele. Este estado da sua espiritualidade era de fato sua oração incessante. Eis um exemplo. Como outrora lhe escrevi, exigências diferentes são apresentadas para pessoas que trabalham e pessoas que ficam à toa em casa. A principal preocupação das pessoas ocupadas é de não se permitir sentimentos ruins enquanto estão fazendo seu trabalho e tenar devotar todos os seus sentimentos a Deus. Esta devoção então se transformará em uma oração. Lemos que o sangue de Abel clama a Deus. Do mesmo modo, tudo que fazemos em devoção a Deus clama a Ele. Quando alguém eviou um prato de comida para um ancião, ele disse: "Isto cheira muito mal!" A comida, porém, era muito boa e fresca. Eles lhe perguntaram: "Como pode?" Ele explicou que ela não fora enviada por uma pessoa boa, e não fora enviada com sentimentos bons. As pessoas cujos sentimentos estão apurados sentem isso. Assim parece que, da mesma forma que um bom perfume é exalado por boas flores, também as coisas boas feitas com uma boa disposição exalam um aroma, que sobe como o incenso durante os ofícios divinos.
Você escreve sobre uma insensibilidade espiritual dos sentidos na oração. - Isto é uma grande perda! Dê-se o trabalho de despertar seus sentimentos. Nossas obrigações nos deixam apenas um tempo mais curto para fazer a oração, mas não nos obrigam a um empobrecimento da oração interior - este útimo é imperdoável. Você pode agradar a Deus com pouco, mas este pouco deve vir do seu coração. Eleve sua mente a Ele e diga com arrependimento: "Ó Senhor, tem piedade de mim! Ó Senhor, abençoa-me! Ó Senhor, ajuda-me!" - esta é uma exclamação piedosa. E se o sentimento para com Deus é reavivado e estabelecido no seu coração, então isto será uma oracção incessante sem palavras e sem ficar de pé e ler orações na frente dos ícones.

Sua consciência está preocupada por dizer as orações com pressa? - Isto é justo! Por que dá ouvidos ao Inimigo? É ele que estimula: "Depressa, mais rápido..." É por isso que você não sente nenhum fruto na sua oração. Faça para si mesmo uma regra de não se apressar e dizer cada palavra da oração com entendimento e, se possível, sentimento. Aceite esta tarefa com tanta resolução quanto um comandante-chefe que não permitiria nenhuma objeção. O Inimigo sugeriria: você precisa fazer isto e aquilo, e você deve apenas dizer para si mesmo: "Sei disso sem a tua tentação, vá embora..." E então verá quão próspera sua oração será. De outra maneira, você terá apenas a regra de oração, mas não a oração em si. É apenas a oração que alimenta sua alma.

Você deve checar no relógio o tempo dedicado para a oração que é dita calmamente e verá que ela requer apenas alguns minutos, enquanto que uma oração apressada traz muito prejuízo.

Quando repentinamente lhe ocorrer um pensamento ruim - esta é uma flecha atirada pelo Inimigo. Ele a atira tentando distrair você da oração e ocupar sua mente com algumas coisas mundanas. 

Se você começar a se concentrar neste pensamento, o Inimigo começará a criar várias histórias na sua mente de modo a manchar sua alma e estimular na pessoa alguns malignos pensamentos passionais. Portanto há apenas uma regra para isso: expulse rapidamente este pensamento e volte sua atenção para a oração.

Todas as nossas orações chegam até Deus? - Uma oração nunca é desperdiçada, independente de o Senhor nos conceder o que estamos pedindo ou não. Devido à nossa ignorância, freqüentemente estamos pedindo algo que nos traria prejuízo, e não benefício. Ao não atender esse pedido, o Senhor nos concede-nos alguma outra coisa pelo nosso esforço de oração, e Ele o faz de maneira imperceptível. É por isso que uma frase como esta: "Você reza a Deus, mas o que conseguiu com isso?" não faz sentido algum. A pessoa que ora está pedindo alguma coisa específica a Deus. Se Deus sabe que a realização da súplica eventualmente prejudicaria a pessoa, Ele não concede o desejo e assim nos faz o bem; pois se Ele tivesse atendido aquela súplica, isto teria feito muito mal àquela pessoa. Cuidado com as armadilhas entre as quais você está andando neste mundo enganador!

Sobre a Oração de Jesus:
 
Desde tempos imemoriavelmente antigos, Cristãos fervorosos repetiam curtas invocações a Deus para que orassem incessantemente e afastassem pensamentos errantes ociosos. Estas eram várias orações. São Cassiano disse que no Egito todos os Cristãos dizem: "Ó Deus, me ajude, ó Senhor, concede-me Teu auxílio." São Ioanício repetia constantemente: "Minha esperança é o Pai, meu refúgio, o Filho, minha proteção, o Espírito Santo; Santíssima Trindade, glória a Ti." Outra pessoa disse: "Como homem pequei, mas Tu, como Deus misericordioso, tem piedade de mim."

Certamente havia também outras orações curtas similares. Com o tempo, a oração de Jesus se estabeleceu e se tornou amplamente usada por todos: "Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, um pecador." O objetivo desta oração é o mesmo das outras: manter a mente voltada para Deus. Ao mesmo tempo, deve-se lembrar que dizer a oração de Jesus é apenas uma ferramenta ou obra que demonstra um forte desejo de encontrar o Senhor.

Todos se beneficiarão dizendo a oração de Jesus. Aqueles que integram as ordens monásticas devem repeti-la o tempo todo. Portanto não há perigo algum na oração em si, se é dita com reverência. No entanto, o que é perigoso é o "trabalho artístico" (isto é, alguns truques artificiais) inventados para acompanhar esta oração. Por exemplo, enquanto dizem a oração de Jesus, algumas pessoas colocam sua mão sobre a mesa e concentram sua atenção debaixo de seu dedos - isto é uma esquisitice inconsistente. Ou então, eis aqui outro capricho: tocar o dedo da sua mão direita contra a palma da sua mão esquerda e assim tentar concentrar a mente na oração.

A primeira pessoa a escrever sobre a execução "artística" da oração de Jesus foi São Gregório do Sinai, no século XIII... Foram estes truques que afundaram algumas pessoas em um estado delirante de encantamento, enquanto outras, por mais estranho que pareça, em um estado constante de luxúria. É por isso que estes truques devem ser reprovados e condenados absolutamente. E devemos urgir a todos a ensinar todas as pessoas a aclamar o dulcíssimo nome do Senhor de um modo simples e sincero.

A essência da oração é fácil de explicar. Faça com que seu coração e sua mente se apresentem diante do Senhor e supliquem a Ele: "Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, um pecador." Esta será a sua obra de oração. O Senhor verá quem ora piedosamente e concederá à pessoa que ora uma oração espiritual de acordo com seu zelo. Esta oração espiritual é na verdade o fruto da graça do Espírito Santo. Isto é tudo que precisamos dizer sobre a oração de Jesus. Todo o resto que foi inventado nada tem a ver com ela: é o Inimigo que está tentando nos distrair da oração. 

Conclusão
 
Portanto, a essência da oração consiste em dirigir-se a Deus com atenção e suplicar a Ele com um sentimento caloroso e sincero - quer você esteja expressando sua gratidão, arrependimento ou alguma outra coisa em sua oração. Se não houver tal sentimento, então não há oração verdadeira.

De modo a aprender a rezar, reze com mais freqüência e mais zelo e aprenderá: não precisará de mais nada. Se trabalhar duro e com paciência, com o tempo adquirirá a habilidade de orar sem cessar. Faça disso o seu objetivo - buscar e buscar. O Senhor está perto de você. Mantenha Deus sempre na sua mente e tente sempre ver o Senhor diante de si e venerá-Lo.

Quando pensamentos perturbadores vierem até você durante a oração, afaste-os; se eles persistirem, expulse-os novamente... e seja desta maneira em tudo. Esta é uma obra de sobriedade. Esforce-se a manter no seu coração um espírito religioso. Quando seu coração é dominado por um sentimento, pensamentos vãos não o perturbam.

Quando começamos a escrever, isso acontece com esforço e com o desejo de realizar uma obra corretamente. Da memsa forma devemos aprender a orar através do esforço e da persistência. Uma oração não virá por si mesma, você precisa aprendê-la, como que se sua alma fosse aquecer-se ao esfregá-la. Quando o calor vier, seus pensamentos se acalmarão, e sua oração se tornará pura. Tudo vem através da graça de Deus. É por isso que precisamos orar ao Senhor para que Ele nos conceda a oração.

No que diz respeito à regra de oração, você pode escolher qualquer uma delas, desde que esteja 
mantendo sua alma em reverência a Deus.

Seria bom se acostumar a suplicar a Deus com orações curtas durante o dia. A principal oração dentre todas elas é a oração de Jesus, "Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, um pecador." Aprenda as 24 orações da São João Crisóstomo e ora a Deus com elas. Utilizar orações curtas concentra sua atenção, e perfaz todas as suas necessidades espirituais.

Não esqueça que a força da oração é o "espírito contrito", isto é, o estado no qual seu coração está repleto de arrependimento e humildade. Entreguem-se nas mãos de Deus e Ele nunca os deixará. Enquanto estiver orando, você não deve tentar visualizar Deus ou a Mãe de Deus, ou os santos, ou os anjos, ou qualquer outra visão; apenas ore tendo a certeza de que Deus e os santos escutam sua oração. Como eles conseguem escutar? De que vale discutir isto? Eles simplesmente escutam, e isso é tudo. Se você começar a criar várias imagens na sua mente, surge o perigo de rezar para alguma fantasia. Como podemos visualizar algo que nunca vimos? E também, o estado no qual os santos se encontram naquele outro mundo é tão diferente de qualquer coisa que nos é familiar que todas as nossas visualizações estão destinadas a ser fraudulentas e equívocas. É por isso que devemos nos acostumar a dizer uma oração sem criar imagens nas nossas mentes.

Death to the World: Do Punk à Ortodoxia (Entrevista)


Conte-nos um pouco sobre como Death to the World começou. Justin Marler (Abestos Death, Sleep) ainda está envolvido?
Death to the World foi criado por punks convertidos a fé Ortodoxa Oriental que se tornaram monges em um mosteiro no norte da Califórnia. Eles começaram a publicação para chegar aos velhos amigos que ainda estavam tragados pela cena punk. Sim, uma dessas primeiras pessoas era Justin Marler, da banda Sleep, mas ele não é mais um editor principal. Nós ainda enviamos zines e ele está trabalhando conosco para re-imprimir o livro "Youth of the Apocalypse" que foi impresso pela primeira vez durante os primeiros anos da existência do Death to the World.
Na sua opinião, quais são os principais desafios enfrentados a pela nossa juventude do século XXI?
Como nosso Padre Serafim Rose disse uma vez, "Nossa vida anormal de hoje pode ser caracterizada como mimada, "super protegida". Desde a infância a criança de hoje é tratada, como regra geral, como um pequeno deus ou deusa na família: seus caprichos são atendidos, seus desejos são cumpridos, ele é cercado por brinquedos, de diversões, conforto; ele não é treinado e educado de acordo com os rigorosos princípios do comportamento Cristão, ao contrário, deixa-se desenvolver de maneira que satisfaça suas inclinações". (The Orthodox World View). Nós somos a geração "MEU", os narcisistas. Vivemos em um mundo de fantasia, um Disneyworld, desde a juventude, raramente somos dirigidos para a seriedade da vida e para o que o mundo exige de nossas almas. Assim, quando crescemos, somos atormentados pelo mesmo desejo de nos cercar de tantas distrações e aparelhos como pudermos. A vida no século 19 foi drasticamente diferente. Hoje, ao invés de uma chama cintilante de uma vela de oração, que em outros tempos servia para iluminar nossas casas, é a televisão que emite sua "des-luminada" luz. Nossos valores já não são mais ditados pelas palavras de Cristo ou pela vida de Seus Santos, os valores são regurgitados através deste aparelho brilhante. As salas costumavam ser usadas para conversações sobre Deus e uns aos outros, agora vejo o que temos feito! Nos cercamos em volta da televisão! Quando isto aconteceu?! As crianças andam por aí com as cabeças coladas em telefones celulares; preferem fones tocando música alta nos ouvidos do que uma conversação séria. Onde tudo isso nos levou? Nós que somos tão superiores aos antigos por causa de nossos "avanços". Nós esquecemos a santidade; paramos de lutar pela sabedoria. Muitas almas hoje vivem do choque elétrico que sai dos nossos computadores e não pela virtude ou pureza. Crimes sexuais, assassinatos, suicídios, etc acontecem nas ruas de hoje como matilhas de cães selvagens, consumindo muitos, alguns que conheço pessoalmente. Toda nossa sociedade e a forma como ela está estruturada é um desafio para a juventude de hoje. Um monge nos primeiros séculos do cristianismo perguntou uma vez ao mais velho, "Será que nos últimos tempos, os Cristãos poderão ressuscitar os mortos ou realizar milagres?" O ancião respondeu-lhe "Será um esforço maior ainda, ser Cristão naqueles tempos". Estes são os tempos em que estamos vivendo; a sociedade que vivemos é demasiadamente anticristã, fazem que nos olhem como estranhos, radicais religiosos, as vezes até mesmo para os cristãos dos nossos dias. Como Santo Antônio, um monge antigo disse uma vez; "Está chegando a hora em que as pessoas irão enlouquecer e quando encontrarem alguém que não é louco, irão atacá-lo, dizendo: "Você é louco, você não é como nós.".”

Muitos veem a subcultura punk, aqueles perdidos nas drogas, com comportamento auto-destrutivo ou niilistas, como "causas perdidas". Você obviamente discorda. Por quê?
Ninguém é uma causa perdida. Como Santa Isabel, a Nova Mártir, disse certa vez: "A imagem de Deus pode ser ofuscada, mas nunca destruída." As vezes, essas subculturas criam uma forte rebelião no indivíduo, mas o problema é que eles não sabem para onde direcioná-la. Eles sabem que o mundo é ruim, mas a rebelião que eles têm é dirigida politicamente, ou algumas vezes, em formas de autodestruição. Death to the World tenta direcionar essa rebelião contra o mundo de uma forma saudável, citamos Santo Isaac da Síria (séc VI d.C) em todas as publicações, "O "mundo" em geral é o nome genérico para todas as paixões [...] Observe para quais dessas paixões você está vivo. Então você vai saber o quão distante você está vivo para o mundo, e quão distante você está morto para ele". Assim, DTTW propaga que quanto mais você morre para seus desejos e quanto mais você corta sua própria vontade, maior a "rebelião" e a rejeição ao mundo. Dessa forma, se torna não apenas uma luta física, mas se desenvolve em uma luta espiritual e interior.
Por que você usa a frase "A Última Verdadeira Rebelião"?
Subculturas atuais estão cheias de jovens que querem lutar pela verdade através da rebelião contra esse mundo. A subcultura punk é uma rebelião, mas é falsa rebelião, pois se alguém segue até o seu fim, encontrará o niilismo completo e o desespero. Essas rebeliões dentro das subculturas podem ser eficazes, mas a verdade pela qual eles estão lutando, geralmente não é a mesma verdade tal como a conhecemos, a Verdade como uma pessoa, como Jesus Cristo. Ao contrário das rebeliões deste mundo, Death to the World é uma rebelião que não é um beco sem saída, é uma aceitação de algo real, algo de outro mundo. É por isso que é "A Última Verdadeira Rebelião", porque é a única verdadeira.

Death to the World muitas vezes destaca sobre mártires e santos da Fé Ortodoxa. Por que histórias sobre mártires parecem ter alguma ressonância com o seu público?
As almas das pessoas de hoje que estão buscando pela Verdade estão sufocadas pela nossa sociedade falsa. Os programas de televisão, outdoors, filmes, etc, mais frequentemente não possuem nenhuma boa pessoa para servir de inspiração. Nossa sociedade não apenas é rodeada, mas também é bombardeada pela falsidade todos os dias. Parece triste dizer, mas algum de nós nem sequer temos país que nos sirvam como inspiração. Os santos e mártires se relacionam conosco de uma forma que sentimos que nenhuma outra pessoa poderia. Com suas vidas, eles nos trazem a realidade da vida, a realidade do que significa seguir Cristo de uma forma verdadeira, sem compromisso. As mortes brutais dos Santos, Justino, Inácio, George, Pantaleão, e outros grandes cristãos, durante os primeiros séculos contem algumas das mais incríveis histórias de fé inabalável que uma pessoa pode ler. As vidas dos Santos João de São Francisco, Nikolai do Zhica, Herman do Alaska, Raphael do Brooklyn, e outros santos americanos ou aqueles que viveram durante o nosso tempo, revela-nos como Deus não deixou Sua Igreja, mesmo nestes tempos escuros. Na experiência Ortodoxa, os Santos são reais, vivos, e intercedem por nós diante do trono de Cristo. Eles trazem o céu para próximo de nós através de suas orações e adoração diante de nosso Criador nos Céus. Eles são os "amantes da verdade" que sacrificaram completamente tudo e qualquer coisa terrena, dedicando suas vidas para a Verdade Suprema, que é encontrada no Cristo encarnado. Assim, ao ver essas vidas tão reais, radicais e seus testamentos para a vida além-túmulo, as pessoas veem que nossa "rebelião" não é falsa, mas muito real.
A Fé Ortodoxa tem uma rica tradição de ter belas obras de artes e ícones. Como você incorpora essa tradição em suas publicações?
Iconografia está na Igreja desde seu início. Segundo a tradição, o Apóstolo Lucas foi o primeiro que pintou Cristo e Sua Mãe em uma prancha de madeira retirada da mesa na casa da Virgem Maria onde Cristo comia. Foi proclamado ao longo dos séculos que o ícone é como uma janela para o céu, revelando o mundo vindouro. Por dois mil anos, a Ortodoxia sempre deu uma grande ênfase na adoração a Deus com todo o nosso ser, com todos nossos sentidos, e o ícone é a representação visual da teologia para nós. Em um ícone, a pessoa pode ver toda a salvação; a renovação da natureza humana, a promessa e o brilho do céu, a exaltação da humildade, etc. O ícone intriga as pessoas porque é uma forma de arte que é sagrada, provém de uma tradição apostólica e move as almas das pessoas. Em nossas publicações, usamos muitas representações de ícones e eles ressoam nos corações das pessoas, há algo neles que prendem a atenção do indivíduo. São João Damasceno falou que os ícones eram o Evangelho dos iletrados. É bem verdade, pois, mesmo que uma pessoa possa ler, a sua alma pode ser analfabeta para as coisas espirituais e os ícones podem comunicar o Evangelho a eles.

Muitas igrejas (protestantes, católicos, etc) oferecem o evangelho para jovens utilizando música. O que torna a sua abordagem diferente? Como a sua perspectiva única sobre Cristo apela para os seus leitores?
A Igreja Ortodoxa é a Igreja Cristã mais antiga, traçando suas raízes diretamente aos Apóstolos. Tem existido antes tanto do Catolicismo Romano quanto do Protestantismo, sendo abençoada pelo próprio Cristo, sendo os Apóstolos os primeiros Cristãos Ortodoxos. Pode-se apontar as origens da Igreja Ortodoxa até o tempo de Cristo, mas seria mais apropriado dizer que sempre existiu, como nós exclamamos que nossa Fé "estabeleceu o Universo" (Synodikon Ortodoxo). A Tradição Ortodoxa é muito profunda e não muda desde os primórdios do Cristianismo, mantendo-se em linha com as palavras de São Paulo, quando disse: "...esteja firme e conservai as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, ou nossas epístolas" (2 Tess. 2:15). O profundo entendimento do homem e do que significa ser transfigurado através de Cristo têm florescido abundantemente ao longo dos séculos em comunidades monásticas e deu à Igreja um sentido muito espesso e denso do que significa ser cristão neste mundo. Ortodoxia incubou e floresceu no Oriente, preservando os ensinamentos de Cristo e continuar a celebrar a forma mais antiga de cultos cristãos, a Divina Liturgia, que pode ser rastreada até o próprio Apóstolos Tiago, o irmão de Cristo. Eu acho que é isso que nos destaca, o que nos torna únicos para nosso público. Há muitas igreja hoje que oscilam com os tempos, que mudam de ano para ano, dependendo da cultura que os cerca, porque eles acham que irão trazer mais pessoas para dentro. As pessoas veem que a ortodoxia não é assim, ela não muda com o mundo ao seu redor, porque ela é profundamente centrada na vida do mundo por vir, jamais será tragada e está dirigida para o céu. As pessoas que veem a falsidade neste mundo e querem a Ortodoxia porque eles a enxergam como um refúgio que sempre será preservado e firme entre o mundo que já está se desintegrando em torno deles.

Apesar de tudo, você sente que o Death to the World tem sucedido em trazer os jovens para Cristo?
Com a depressão, a tristeza e desconforto que assola a nossa sociedade e as pessoas ao nosso redor, as perspectivas Ortodoxas sobre o sofrimento é uma das principais coisas que o DTTW se relaciona. Os antigos Cristãos e monges do passado viam as lutas e o sofimento como um meio para colocar a nossa carne em sujeição, para aprender a carregar a nossa cruz sem reclamar, tudo, em última análise, se relaciona com o sofrimento de Cristo. Como a nossa sociedade frequentemente varre o sofrimento, o pobre e os miseráveis para baixo do tapete, longe da vista do "civilizado", a Ortodoxia estende a mão para eles e relacionam a um Deus que sofre com eles, não um Deus envolto em uma bonita caixa Americana com um laço no topo. Nós gostamos de falar das coisas como elas são, a vida não deve ser revestida de açúcar. Tanto a alegria e o sofrimento devem ser reconhecidos como parte da nossa viagem em direção a salvação. O sofrimento faz parte da nossa vida que deve ser abraçado por nós com mais frequência, não fugindo dele, mas, infelizmente, nós que crescemos em uma sociedade muito confortável e relaxada temos pouco tempo pra isso, para nosso própria perda. (Ensino Prático sobre a Vida Cristã) Portanto, o sofrimento é dado a nós com amor de Deus, para que pudéssemos lembrar a nossa queda e cultivar dentro de nós um amor mais profundo para o Reino dos Céus. Quando jovens e adultos que estão sofrendo veem as vidas dos Santos e os ortodoxos que carregam seus sofrimentos com alegria, dá-lhes a esperança e a coragem para abraçar e conquistar suas lutas. O coração humano é muito complexo e não pode ser remediado por distração ou por prescrição de medicamentos, é necessário algo mais, algo que o homem e este mundo não pode dar. Quando as pessoas que sofrem vêm a nós, sempre nos humilha ver que estas pessoas em sofrimento estão, por vezes, mais perto de nosso Cristo do que nós. Como nós cantamos para Deus, em um culto chamado Akathist da Ação de Graças, "Tu descendeste para à cama do doente e seu coração comunica Contigo. Tu inspiras a alma com paz no momento de dor e sofrimento. Envias ajuda inesperada. Tu és o confortador. Tu és o amor onisciente. A ti eu canto: Aleluia!"

O que você diria para os nossos leitores, que estão preocupados com a educação dos seus filhos em Cristo nesta geração?
Faça os crescer dentro da verdade. O mundo em torno deles lhes dará muitas contradições e falsas doutrinas, ajude e explique essas coisas para eles. Cultive dentro de si a pureza e amor para com o seu Criador. Seja uma família, comam juntos, rezem juntos, unam suas almas, sua casa deve ser uma pequena capela. Seja direto, em vez de vago sobre coisas como sexo, drogas, etc, para que eles saibam o que essas coisas são e quais as suas consequências, não só do corpo, mas o mais importante, sobre a alma. Ajude-os a abraçar o sofrimento e não os mime, eles vão criar a resistência e atenção para com a alma, em vez de distraí-los com coisas temporais. Acima de tudo, eles precisam de buscar alguma verdade que os façam ser capazes de viver em nossa sociedade anticristã - torne-os amantes da Verdade. Há um excelente livro sobre o chamado, "Raising them Right" por São Theophan o Recluso que disse uma vez que, de todas as obras santas, a educação dos filhos é o mais santo.

Onde é que os leitores interessados ​​saber mais sobre Death to the World ou a Igreja Ortodoxa?
Informações sobre DTTW pode ser visto do nosso site, www.deathtotheworld.com e informações sobre a Fé Ortodoxa podem ser encontrados no www.orthodoxinfo.com, www.stherman.com ou www.ancientfaith.com.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A História da Igreja da Sérvia


A origem do cristianismo na Sérvia é bastante obscura já que encontramos registros da atividade de missionários latinos na região costeira da Dalmácia no inicio do século VII. Sobre a atividade de missionários bizantinos encontramos registros somente no século IX, quando o Imperador Basílio I enviou missionários para lá.

Devido a sua situação geográfica, a Igreja da Sérvia oscilou entre Roma e Constantinopla, mas, finalmente, os bizantinos prevaleceram. Em 1219, São Savas, foi consagrado pelo Patriarca de Constantinopla como primeiro arcebispo de uma Igreja Ortodoxa Autônoma que, naquele tempo, residia na cidade de Nicéia, devido a ocupação das tropas latinas em sua sede Patriarcal.

O reino da Sérvia alcançou seu apogeu durante o reinado de Stevan Dushan que foi quem estendeu o poder sérvio até Albânia, Epiro e Macedônia. O rei Dushan foi coroado Imperador dos sérvios, estabelecendo um Patriarcado sérvio em Pec, no ano de 1346. Esta situação foi reconhecida por Constantinopla somente em 1375.

Os sérvios foram derrotados pelos turcos em 1389, passando assim a integrar o Império Otomano. Este suprimiu o Patriarcado Sérvio em 1459 que somente teve sua condição restaurada em 1557. Novamente foi suprimido em 1766, quando todos os bispos sérvios foram substituídos por bispos gregos sob o omofórion do Patriarcado de Constantinopla.

O surgimento de um Estado autônomo sérvio, em 1830 esteve estreitamente ligado ao restabelecimento de uma Metropolia Ortodoxa Autônoma com sede em Belgrado e também com a substituição dos bispos gregos pelos de nacionalidade sérvia.

Em 1878, a Sérvia recebeu o reconhecimento internacional de país independente e um ano mais tarde, em 1879, o Patriarcado de Constantinopla reconheceu a autocefalía da Igreja Ortodoxa Sérvia.
 
 Em 1918, com a formação do Estado multinacional chamado Iugoslávia, as várias jurisdições ortodoxas fundiram-se em uma única, formando a Igreja Ortodoxa da Sérvia.

Em 1920, Constantinopla reconheceu a dita união, elevando esta Igreja ao status de Patriarcado.

A Igreja Sérvia sofreu duramente no período da II Guerra Mundial, especialmente na região que estava sob o controle do Estado fascista Croata, perdendo cerca de 25% de suas igrejas e mosteiros e 1/5 de seu clero. Após o estabelecimento do governo comunista em 1945, a Igreja Ortodoxa Sérvia teve que reformular sua relação com o novo Estado ateu. Durante esta época muitas propriedades foram confiscadas; a educação religiosa nas escolas públicas foram abolidas; houve preconceitos quanto os sérvios estarem num território Iugoslavo.

O Presidente Tito rompeu em 1948 com a então URSS estabelecendo melhores relações com os países do Ocidente. Com isso houve maior tolerância religiosa e uma posição mais amena em relação às Igrejas. Entretanto, a relação entre Igreja e Estado não esteve isenta de alguns arranhões , como por exemplo, na ocasião em que o governo apoiou o surgimento de uma Igreja Ortodoxa de Macedônia. Isto foi interpretado pela Igreja da Sérvia como um cisma.
 
Depois da desintegração da Iugoslávia , a Igreja da Sérvia envolveu-se em assuntos políticos, denunciando estrondosamente as práticas anti-religiosas do passado durante o regime comunista.
Em maio de 1992, começava a distanciar-se do governo de Milosevic.

A Igreja Ortodoxa da Sérvia , durante a Guerra da Bósnia Herzegovina, fez freqüentes apelos em favor da paz. A hierarquia da Igreja apoiou os esforços da minoria sérvia naquele país e na Croácia com o objetivo de integrar-se politicamente com a própria Sérvia.

Em 1994, os bispos ortodoxos sérvios se reuniram em Banja Luka (setor sérvio da Bósnia) e ali afirmaram que muitos sérvios estavam fora da Sérvia como resultado de fronteiras que foram artificialmente impostas pelo regime totalitário com fins administrativos, portanto, aquelas fronteiras poderiam não ser aceitas como definitivas.

Em 1996, os bispos sérvios chamaram a uma renovação moral do povo sérvio, mas perceberam que isto não se poderia conseguir, pois o sistema educacional permanecia com o espírito do antigo regime marxista. Denunciaram a reaparição de velhos métodos totalitários na sociedade e continuaram proclamando que as ações da Comunidade Internacional em Bósnia e no Tribunal de Haia, estavam predispostas contra a Nação Sérvia.

No mesmo ano, Milosevic, tratou de suprimir o resultado das eleições no qual foi condenado em duros termos pelo Santo Sínodo. Em janeiro de 1997, o Patriarca Pavle, organizou uma movimentação com mais de 300 mil pessoas pelas ruas de Belgrado, com intenções pré-democráticas.

Em meados de 1997, em um Assembléia em que se reuniram todos os bispos sérvios, fez-se um apelo aos seus compatriotas exilados na Croácia e Bósnia para regressar a suas antigas moradas, exigindo que os governos garantissem a segurança de seus compatriotas.
Os bispos também chamaram ao diálogo o governo da Iugoslávia para tratar de assuntos relativos às propriedades eclesiásticas que foram confiscadas durante o período comunista e o restabelecimento de instrução religiosa nas escolas públicas.

Quanto a questão do Ecumenismo , os bispos manifestaram abertura ao diálogo e interesse para promover a reconciliação e unidade entre os cristãos.

A mais alta autoridade na Igreja Ortodoxa da Servia é o Santo Sínodo dos Bispos, composta de todos os diocesanos que se reúnem uma vez a cada ano no mês de maio. O Santo Sínodo é constituído pelo Patriarca e pelos bispos que governam a Igreja.
 
Na cidade de Belgrado está o Instituto teológico (fundado em 1921). A Igreja conta com 4 seminários e uma escola para a formação de monges. São impressas 15 publicações patrocinadas pelo Patriarcado e pelas dioceses.

A Igreja Ortodoxa da Sérvia criou dioceses fora de seu país para os sérvios residentes no estrangeiro como nos EUA, Europa Ocidental e Austrália.

A Comunidade Sérvia na diáspora experimentou uma divisão em 1963 quando o Patriarcado Sérvio foi acusado de manter relacionamento com o Governo Marxista da Iugoslávia . Esta controvérsia deu origem a uma Igreja Ortodoxa Servia Livre que rompeu sua comunhão canônica com Belgrado.

Em 1991, ambos grupos se reconciliaram sob a condução do Patriarca Pavle. No entanto, frise-se que por algum tempos estas jurisdições co-existiram adotando uma constituição comum somente no ano de 1998, trilhando o caminho para uma futura unidade administrativa. Até 1998, estava sob a proteção do Metropolita Irineu que morava nos EUA que, devido a uma enfermidade, foi transferido para ocupar o cargo de Administrador em Dalmácia.

Síntese Histórica

Os povos da Sérvia adotaram o cristianismo na segunda metade do século IX (870), por intermédio de missionários enviados pelo Patriarcado Ecumênico, sendo a sede de seu bispado a cidade de Rask;
Os Papas conseguiram subjugar a Sérvia nos meados do século XI, porém na era do Rei Estêvão Niman (1159 - 1195), acabou-se a soberania de Roma sobre a Sérvia, ficando esta, entre o fluxo e refluxo políticos;
Em 1219 houve um levante na Igreja da Sérvia declarando-se o Arcebispado independente, na cidade de Ibik, e em 1346, o Santo Sínodo da Sérvia elevou o Arcebispado à categoria de Patriarcado, sem o consentimento do Patriarcado de Constantinopla, o que provocou uma dissidência entre as duas Igrejas, da Sérvia e de Constantinopla, que só veio a terminar quando as Dioceses, motivo da discórdia, voltaram para a Igreja do Patriarcado de Constantinopla;
Em 1766, o governo da Turquia aboliu o Patriarcado de Ibik, mandando submeter todas as Dioceses da Sérvia ao Patriarcado de Constantinopla, na era de seu Patriarca Samuel I;
Em 1831, a Igreja da Sérvia conseguiu a sua autonomia, sob o patrocínio do Patriarca Ecumênico e o Arcebispado de Belgrado e o Metropolita Sérvio e em 1879, declarou-se a sua independência integral na era do Patriarca Ecumênico Joaquim III.

Fonte: Pro-ortodoxia
Tradução do Espanhol por: Pe. André Sperandio, hieromonge