Poucas realidades no seio da Igreja são tão importantes para compreendermos a nossa caminhada em Cristo como as Santas Procissões. Elas não são algo desvinculado da Santa Liturgia, mas acontecem dentro dela, simbolizando a mais vívida experiência do genuíno povo de Deus.
Para exemplificar, uma das procissões feitas durante a Divina Liturgia diz respeito à entrada dos anjos de Deus no santuário juntamente com os sacerdotes. Ela acontece, curiosamente, enquanto as Bem-aventuranças do Evangelho são solenemente melodiadas, evidenciando assim o acesso propiciado pelo Evangelho de Cristo, devidamente acompanhado de Sua Santa Doutrina, ao altar do santuário celeste, uma entrada triunfal ao Trono da Graça, diante do qual o Cordeiro, de eternidade a eternidade, é oferecido ao Pai pelo Espírito Eterno.
Que privilégio temos nós de participar desta ação litúrgica que, iniciando na eternidade a ela nos conduz em meio à atropelada caminhada da existência!
As procissões, de acordo com a Ortodoxia da Igreja, são portanto uma espécie de oportunidade franqueada a todos indistintamente de caminhar com Cristo em Sua obra redentora. Eis a razão porque nelas somos, ao mesmo tempo, responsáveis e portadores das promessas de vida do Evangelho com todas as bem-aventuranças que isso implica.
Sim! Responsáveis, pois, só participam dignamente de uma procissão aqueles que verdadeiramente se consideram pobres de espírito e por isso choram sua situação, adquirindo assim as virtudes da mansidão, da pureza de coração, da misericórdia, etc, colocando-se assim na caminhada da vida virtuosa, liturgicamente simbolizada pelas procissões da Igreja.
Sobretudo, porém, somos portadores da graça a caminho das promessas do Evangelho aos perseguidos e injuriados por causa da justiça de Deus, à semelhança dos santos profetas, os quais, não mais do que nós, exultaram e se alegraram com o Dia da recompensa quando nos será dado o galardão no Reino dos Céus.
Sem dúvida, as procissões da Igreja não são resquícios das antigas procissões pagãs do mesmo modo como não é o sacrifício de Cristo resquício dos antigos sacrifícios oferecidos pelo paganismo. Tanto quanto o sacrifício do "Cordeiro que tira o pecado do mundo" é o cumprimento escatológico dos sacrifícios da antiga aliança, as procissões da Igreja são a mais pura antecipação histórica daquela plenitude escatológica anelada pelo salmista ao melodiar: "Quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus? Dentro de mim derramo a minha alma, pois eu havia ido com a multidão, fui com eles à casa de Deus, com voz de alegria e louvor, com a multidão que festejava..." e isso não com aquela multidão que festeja, clamando: "Hosana nas alturas! Bendito aquele que vem em nome do Senhor!", mas com a grande multidão de todos os povos, raças, línguas e nações que, no seio da Divina Liturgia da Igreja, canta o Sanctus ('Agios) na qualidade de representantes sobre a terra do coro dos santos e anjos a melodiar: Santo, Santo, Santo é o Senhor...". Eis, uma multidão que constantemente cresce vinda de grande tribulação?
Em verdade, a procissão é uma das mais nítidas evidências de nossa retirada da causticante caminhada da vida e de nossa participação responsável na Pátria Trinitária na qualidade de portadores de Espírito Eterno a caminho da Vida Eterna na Divina Procissão gerada e procedente unicamente do Pai Eterno, a quem seja toda glória, honra e adoração, juntamente com o Seu Filho Unigênito e o bom e vivificante Espírito, agora e sempre, e pelos séculos dos séculos. Amém.
Pe. Jairo
Paróquia São João Crisóstomo
Caruaru - PE
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