segunda-feira, 6 de abril de 2015

RAMOS ETERNOS NA ESTRADA DE JERUSALÉM



Não é sem razão que o tropário da festa hoje celebrada melodia:
Sepultados contigo pelo batismo, ó Cristo nosso Deus,
por tua ressurreição, nos tornamos dignos da vida imortal.
Por isso a ti cantamos em alta voz:
Hosana no mais alto dos céus;
bendito o que vem em nome do Senhor!

Tamanho foco na morte e ressurreição de Cristo pode ser percebido já no início do Evangelho deste Domingo que nos põe à mesa com Lázaro, o ressuscitado, e sua irmã Marta a servir, numa relação de comensalidade, o iminente Senhor ressurreto, sobre o qual Maria, aquela irmã de índole mais monástica derrama o caríssimo perfume, interpretado por Cristo como ensejando a Sua morte redentora em meio à Páscoa da Eterna Ressurreição.
Sim! A morte e a ressurreição de Cristo são o foco inicial de tão precioso evangelho, à semelhança do que cantaria mais tarde a Igreja por entre os tropários do Domingo de Ramos:
Querendo, antes da Tua Paixão, cimentar nossa Fé na comum ressurreição, Tu ressuscitaste Lázaro de entre os mortos, ó Cristo nosso Deus. Eis porque, como as crianças de então, nós levamos os símbolos da vitória e Te cantamos a Ti, vencedor da morte: Hosana no mais alto dos Céus! Bendito Aquele que vem em Nome do Senhor!
Seriam, no entanto, os ramos estendidos à entrada do Rei que se assentou sobre o filho de uma jumenta símbolos de que vitória? Aquela pretendida pela multidão que uma semana depois gritava: Crucifica-o!, perante o tribunal da impiedade? Aquelas vitórias que temos intencionado em nosso egoísmo quando desejamos o triunfo sem cruz, o êxito sem renúncia, a vida eterna sem ascese?
Terminantemente, não! A vitória entoada pelos hinos da festa de Ramos não é igualmente acariciada pelos nossos ideais mais nobres de igualdade, liberdade e fraternidade. A vitória que rezamos é a de Cristo, o vencedor da morte, a vitória da imortalidade sobre todo e qualquer programa de ação transitório e fugaz.
Como nos indica a Madre Maria Donadeo, de fato, «O triunfo de Jesus na cidade santa na véspera da Páscoa é um grande mistério. Contemplando os textos bíblicos, as profecias, os evangelhos, a liturgia sempre descobre neles novas facetas. A entrada de Jesus em Jerusalém é uma teofania, na linha das antigas teofanias do Antigo Testamento. A glória de Deus entra na cidade santa (Ez. 43:4), mas humilhada na humildade do rei manso, do Cordeiro (Jo 1:29), que vem para ser imolado. Com as crianças, os discípulos, as multidões, os povos, todas as criaturas participam desse rito de entronização: as forças angélicas, os elementos cósmicos.»
Sem dúvida, os céus e a terra pressentem a Ressurreição a anunciar-se, bem como o sacrifício que a precederia, enquanto os religiosos de plantão apenas maldiziam os da multidão, apostando na ignorância reinante no meio dela. Eles não conheciam as Escrituras, ao menos não como em sua exegese fria e mórbida.
Os discípulos nem ao menos desconfiaram que as promessas dos profetas naquele Domingo de ramos se cumpriam. Isso ficou desapercebido até mesmos pelos supostos exegetas de então, pois só, à luz da ressurreição e glorificação do Senhor, seria possível fazer conexões tão profundas, muito para além da mera letra das Escrituras.
E assim, no Evangelho de hoje nos deparamos com os pés de Cristo sendo perfumados ao lado daquele que ressuscitara e daquela que O servia. Bendita Maria! Quanta intuição! Que inspiração! Ela contemplara precisamente o que hoje constatamos nesta festividade da Igreja em nossa preparação para a Páscoa da eternidade. Ramos eternos!, foi o que Maria contemplou ao mirar o Corpo de Cristo à mesa. Ramos às mãos daqueles que participariam de Sua ressurreição, fazendo-se co-participantes de Sua missão de serviço.
Por tão glorioso estado de coisas, empunhemos os ramos bentos que recebemos da Igreja neste Domingo como ramos eternos advindos da estrada de Jerusalém, pela qual o Senhor percorreu com Seus santos pés banhados em perfume a fim de que, tantos quantos estamos em Cristo, em comunhão com o Seu corpo ressurreto, continuemos a quaresma da existência em direção à Páscoa da eternidade, quais bons perfumes de Cristo, cujo odor exala vida aos que buscam a imortalidade e morte aos que se limitam a ideais meramente políticos e econômicos.
Abdiquemos de nossos sonhos de igualdade, de nossas utopias de liberdade e de nossa fraternidade hipócrita. Corramos a carreira que nos é proposta, deixando para trás o que para trás fica e seguindo para o alvo pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo, a vida da imortalidade no reino do Pai, do Filho e do Espírito Santo, agora e sempre, e pelos séculos dos séculos. Amém.

Pe. Jairo
Homilia do Domingo de Ramos
2015
Comemoração dos Santos Nicon, Lídia e Amphilochius.

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