segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Mensagem de Natal do Patriarca Pavle em 2007

DA IGREJA ORTODOXA SÉRVIA PARA SEUS FILHOS ESPIRITUAIS NO NATAL DE 2007



PAVLE
Pela Graça de Deus

Arcebispo Ortodoxo de Pec, Metropolita de Belgrado e Karlovci e Patriarcado Sérvio, com todos os Hierarcas das Igreja Ortodoxa Sérvia para o Clero, Monges e todos filhos e filhas de nossa Santa Igreja: graça, misericórdia e a paz de Deus-Pai, de Nosso Senhor Jesus Cristo e do Espírito Santo, com a radiosa saudação de Natal:

A PAZ DE DEUS! CRISTO NASCEU!

Hoje Belém recebe Aquele que é co-entronado com o Pai. Hoje os Anjos louvam de forma admirável o Recém-Nascido exclamando: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa-vontade”.

A Igreja, em suas súplicas cotidianas, queridos filhos espirituais, ora, antes de tudo pela PAZ QUE VEM DO ALTO. Nós não rezamos por uma paz indefinida, vinda de um mundo desconhecido; nós rezamos pela PAZ trazida e concedida a nós por Nosso Senhor Jesus Cristo.
“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou: não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”. João 14: 27

Aqui no começo da celebração da radiosíssima festa da Natividade do Filho de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, nós iniciamos com orações pela Paz que vem do Alto. Enviamos a todos vós a mensagem da Paz celestial que,almejamos, entre em vossos corações, e em vossas almas e em vossas vidas, como naquela noite abençoada da Natividade do Emanuel ela entrou no coração e na alma dos pastores de Belém. Ter a paz de Deus significa ter paz com Deus, com nossos irmãos e nossos companheiros, assim como com a criação inteira de Deus.

Este é o privilégio concedido aos Santos Cristãos. Mesmo quando as ondas deste mundo agitado ameaçam afogar e destruir tudo, como é o caso em nossa época (em nosso tempo), nós permanecemos calmos e seremos, repletos da graça e da paz divina, porque nós sabemos que Aquele que encoraja os cristãos de todos os tempos é fiel: “Não temais! E acrescenta: “Estarei convosco até a consumação dos séculos”. (Mateus: 28: 20). Na paz divina entre Deus e a Santíssima Theotokos cumprida no mistério da Anunciação, o Unigênito de Deus foi concebido como a Paz e o Amor de Deus, e nasceu na quietude da gruta de Belém. A Santíssima Theotokos recebeu a saudação da Paz - “rejubila. ó bendita “ (Lucas: 1: 28) dirigida a ela pelo anjo de Deus, e aceitando a Paz do Altíssimo, ela respondeu: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a sua palavra”. (Lucas 1: 38). Era aquela a vontade de Deus: que ela, a qual encontrou graça diante de Deus, se tornasse aquela que dá à luz a Deus, pois ela dá a luz o Deus encarnado – o Messias e Salvador do mundo, Nosso Senhor Jesus Cristo.

Com a saudação: “Cristo nasceu”, nós cremos e confessamos que Cristo – o ungido de Deus – nasceu em Belém da Judéia, segundo a vontade de Deus. Nós não apenas cremos, mas também sabemos, por nossa experiência, e confessamos que Cristo é Emanuel, o que significa Deus conosco. Assim, a certeza de que Deus VERDADEIRAMENTE ESTARÁ CONOSCO faz-nos abrir e purificar nossos corações para que eles possam tornar-se a Sua morada. Possam os nossos corações tornar-se hoje uma nova Belém, uma nova manjedoura para Ele a quem nada pode conter; uma graça encheu o órgão no qual o nascimento do amor de Deus em Belém encontrará sua permanente morada. Desse modo, hoje e durante estes radiosos dias de Festa, sejamos anfitriões de Nosso Senhor. Recebamos e saudemo-Lo em nossos lares, recebendo os mais humildes como se fossem Ele próprio, sem distinguir quem é quem. Em nossas Igrejas, celebremo-Lo de modo digno e que convenha a Ele. Que possamos guardá-Lo como a vida de nossas vidas e a luz de nosso ser. Deixemos tudo que é nosso,e o que é apenas humano em nós,ser submetido para sempre à vontade de Deus, a fim de que possamos dizer, como a Santíssima Theotokos: Senhor, eis aqui tua serva, faça-se em mim e comigo segundo a Tua vontade.

Por que nós dizemos isso? Porque, ano após ano em torno da festa da Natividade de Nosso Senhor Jesus Cristo aquilo que é humano é cada vez mais enfatizado, e aquilo que é divino é enfatizado cada vez menos. Nós somos perigosamente expostos a celebrações comerciais e folclóricas, comemorações que suprimem a verdadeira essência da Festa. Se reduzirmos o significado da Festa para simplesmente manter os costumes, nossos corações permanecerão submersos na agitação individual e nas tempestades do mundo, continuando longe do Senhor, distantes do Divino Infante. Nossos corações e nossa vida foram criados para Deus. Somente com o coração e a alma repletos da Paz de Deus seremos capazes de celebrar Cristo, o divino Infante, com a canção: “Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade!” O nascimento de Cristo é, acima de tudo, o ato do amor de Deus, que se revela inteiramente no Cristo Jesus Encarnado e nascido.

S. João, o teólogo, confirma este mistério do amor de Deus com as seguintes palavras: Deus amou de tal maneira o mundo que deu o seu Filho Único, para que, aquele que n’Ele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna (João; 3: 16).

O nascimento de Cristo é um evento histórico – um evento que se passou num concreto tempo histórico e num lugar geográfico particular. Ele nasceu durante o reinado do imperador romano César Augusto e durante o recenseamento do povo, que ele havia ordenado. Cristo nasceu durante o reinado de Herodes, o Grande, que, no tempo, governava a Judéia. Ele nasceu em Belém de Judá. Seu nascimento não foi despercebido na Judéia e no grande Império Romano, especialmente nas regiões do Oriente Médio. Primeiro os anjos avisaram aos pastores de Belém, que saíram glorificando e louvando a Deus:
 
E, vendo-O divulgaram a palavra que acerca do menino lhes fora dita (Lucas 2: 17)
O aviso dos anjos rapidamente espalhou-se por toda a Judéia e Jerusalém, “e todos que ouviram isso maravilhavam-se com o que os pastores lhes diziam.(Lucas 2: 18).
 
As notícias chegaram até o rei Herodes que cruelmente tinha governado as tribos de Israel. Embora de início ele menosprezasse as estórias e narrativas do povo que lhe era subjugado, seu coração perturbou-se quando os sábios chegaram do Oriente, inquirindo sobre o rei judeu, com a seguinte pergunta: “ onde está aquele que é nascido rei dos judeus?porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos a adorar.(Mateus 2: 2)
 
Esta questão perturbou grandemente o astuto Herodes, e a essência dela tornou-se o divisor do tempo em velho e novo, ou seja, tempo da profecia e da prefiguração, e tempo de cumprimento da mesma.

Tomado de exaltação por esse mistério,o Apóstolo S. Paulo exclama: assim que se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez nov. (II Cor. 5: 17). No Deus-homem recém-nascido “tudo tornou-se novo”, mas acima de tudo nós renascemos n’Ele e por Ele – com a sinergia do Deus e homem, isto é, sinergia do Criador e do criado nós nos tornamos UMA NOVA CRIAÇÃO. Isto não de modo mitológico, como alguns interpretariam, mas, nós, verdadeira, essencial e completamente nos tornamos uma criação divino-humana.

Infelizmente, por causa da diminuição do amor e das virtudes no mundo, nós diariamente ouvimos e vemos instabilidade, conflitos, grandes tragédias humanas e desastres naturais. Vendo e ouvindo isto, muitos perguntam: “são estes os últimos tempos?” São estes os tempos do cumprimento da palavra de Nosso Senhor sobre os sinais dos últimos tempos e da segunda vinda de Cristo?” O povo tem razão de perguntar isto e de temer. Mas seria muito melhor se nós nos enchêssemos do temor de Deus e assim, nos tornássemos sábios guardiões da herança que Deus nos deu, em vez de estultos, e que, em vez de agentes constantes da perversão deste mundo, nos tornássemos o sal da terra, luz para o mundo, o caminho e a porta através dos quais o mundo pudesse ser salvo. A causa de todos estes trágicos eventos é, por um lado, a ruptura da paz entre Deus e o homem e, por outro, a ruptura do equilíbrio entre o homem e a natureza. Neste mundo tumultuado, várias iniciativas pela paz têm sido feitas por indivíduos, grupos e organizações. Apesar disto, não se vislumbra no horizonte paz para o mundo. Por que?
 
Porque a PAZ DE DEUS está sendo rejeitada e a paz do homem está tentando substituí-la – uma paz de homens controlados pela paixão que, em vez de paz, insuflam a agitação. Para tornar completo o paradoxo, mesmo os deflagradores de guerra do mundo e em nosso próprio solo, desavergonhadamente tentam enganar o mundo com suas pretensas “iniciativas de paz”. Na realidade, estas são pseudo-intenções pacíficas que servem para iludir o mundo. O que importa para eles é uma paz interesseira, uma paz da qual obterão benefícios políticos e materiais.
Hoje nós saudamos especialmente os nossos irmãos e irmãs em Kosovo e Metohija e suplicamos que o Divino Infante os proteja e fortaleça-os a fim de que eles possam carregar a cruz que pesa sobre os seus frágeis ombros e que lhes foi imposta pelos poderes deste mundo. Como nos anos anteriores, este ano também partilhamos com tristeza e preocupação por causa dos eventos em Kosovo e Metohija – nossa terra santa – coração e alma do povo sérvio, nossa Belém espiritual e berço de nossa cultura.

Os poderosos deste mundo atacam nossa terra santa de S. Lázaro e vergonhosamente ofendem nossos sentimentos e nossa dignidade. Em nome de seus interesses nos Bálcãs e na Europa, e transgredindo todas as normas da lei internacional – sobre as quais repousa o mundo atual – eles querem tirar do povo sérvio o seu berço, sua alma e coração, que permanecerão para sempre em Kosovo e Metohija. Que todos aqueles que continuam a quebrar as normas da justiça humana e da justiça divina, e, acima de tudo, os direitos do povo sérvio à sua terra natal, possam parar e refletir sobre este fato.

Nesta alegria e espírito festivo, não esqueçamos nossos irmãos e irmãs exilados da Bósnia e Herzergovina, Croácia, Kosovo e Metohija. Apelamos a todos os governos oficiais na Sérvia e Montenegro para proporcionarem uma vida normal e decente, fazendo tudo o que for possível para o seu retorno seguro e para que eles possam retomar o seu patrimônio pessoal. Apelamos especialmente para todos vocês, queridos irmãos e irmãs, para que compartilhem este Santo Dia com todos os exilados. Lembremo-nos hoje de todos aqueles que permaneceram em suas casas e daqueles que regressaram para sua casas incendiadas. Nós sabemos e vemos que eles sofrem diariamente discriminação e humilhação, justamente porque são sérvios e porque encontraram força e coragem para retornar e permanecer em suas casas.

Apelamos aos governos oficiais na Croácia, na Bósnia e Herzegovina para que eles tenham boa-vontade de resolver os problemas emergenciais de seus cidadãos exilados, quer da Sérvia, quer de outras nacionalidades. Conclamamos a todos para respeitar os direitos humanos básicos, direitos nacionais e religiosos do nosso e de outros povos, direitos garantidos por todas as convenções internacionais. Que eles igualmente – nem mais nem menos – respeitem nosso povo sérvio ortodoxo que, através da longa história de sua existência, e através de suas contribuições nos paises já mencionados, deixaram um indelével selo na cultura e histórias desses paises, com os quais eles compartilham uma história centenária. Temos sempre e em toda parte criado uma cultura de paz e de amor, através de cooperação com outros. No espírito daquela Divina paz e amor, tolerância e estima, renovemos o estabelecimento de pontes entre os homens de boa-vontade. Não rejeitemos os perturbadores da paz, independente de quem sejam. Tenhamos paz, amor e boa-vontade com todos.

Saudamos nosso povo jovem – as crianças e a juventude. Incessantemente ofereçamos nossas orações ao Senhor, queridas crianças e jovens, para que Ele os proteja de todas as tentações contagiosas de nosso tempo: drogas, álcool e outros vícios. Sabendo que o mundo prosseguirá com os jovens desejamos que vocês, amadurecendo e tornando-se nossos herdeiros se armem com virtudes e com o bem, para que possam defender-se de todas as tentações que o mundo oferece e que impõe a vocês. Nos momentos mais difíceis da vida, lembrem-se das tentações sofridas por Nosso Senhor Jesus Cristo. Invoquem a ajuda d’Ele e Ele certamente ajudará vocês. Um programa deliberado para impor pseudo-cultura e sucumbir a ela constitui um perigo particular. Os caminhos da vida têm suas encruzilhadas. Depende de cada um escolher a direção que leva para a vida eterna, em cujo fim não haverá tristeza, mas alegria com todos os nossos ancestrais.
Estamos também preocupados com todos os nossos filhos da Diáspora – na América, Austrália, Europa, África e Ásia, que vivem longe de suas pátrias de origem,dos lugares santos e dos cemitérios. Embora vocês – em razão de circunstâncias históricas e desafortunadas – tenham sido forçados a viver na Diáspora, espalhados pelo mundo afora, não esqueçam que, celebrando o Natal, vocês encontrarão sua pátria, a alegria da infância, e o pãozinho fresco feito por mamãe. Lembrem-se de suas velhas Igrejas e dos santos mosteiros, e ensinem a seus descendentes a fazer o mesmo. Salvaguardem a unidade de vossa igreja como o fariam com a pupila dos próprios olhos. Reúnam-se em torno de seus Bispos como filhos em torno dos pais, reúnam-se e concordem no bem, nas virtudes e na glorificação a Deus.

Hoje Cristo, o Divino Infante, nos reúne em nossas santas igrejas para trocar a saudação “A Paz de Deus” uns com os outros, para unificar, para nos tornarmos como Cristo e para crescer, de acordo com a vontade de Deus!

Possa a luz da gruta de Belém brilhar sobre todos os povos e todas as nações do mundo, concedendo a Paz que vem do Alto a tudo e a todos.
Saudando a todos vocês, queridos filhos espirituais, conclamamos uma vez mais a todos e a todo povo de boa-vontade para celebrar o Dia Santo da Natividade de Nosso Senhor Jesus Cristo em paz, alegria e disposição espiritual.

A PAZ DE DEUS – CRISTO NASCEU!

Que todos vocês possam ter um Ano Novo abençoado!

Dado no Patriarcado Sérvio em Belgrado. Natal de 2007
Seus intercessores diante do Divino Infante:
Todos os Bispo do Santo Sínodo Sérvio.

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