quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O Natal, os Reis Magos e os presentes





O Oriente cristão comemora o Natal em 07 de janeiro. A maioria das igrejas ortodoxas celebra com uma liturgia na véspera na noite do dia 06 que no ocidente corresponde ao dia dos Reis Magos. A Tradição e a Sagrada Escritura comentam que José e Maria buscam um lugar em Belém para o menino nascer e não encontram, pois  “ o colocam numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem (Lc 2: 7) ”. A passagem mostra que ainda hoje o menino busca espaço para poder nascer; e hoje nos corações  “também não existe espaço para ele” mesmo que em seu nome se faz a festa e muitas vezes Ele nem está presente...

O evangelista São Mateus (cap 2: 1-12) é o único a fazer o relato da passagem dos Reis Magos. Esta é uma das mais bonitas e mágicas passagens das Escrituras e dá o clima de especial  que a festa de Natal nos proporciona: luz, encantamento, misterio, magia e presentes...Segundo a Santa Tradição os Reis Magos eram conhecedores profundos das ciências dos astros e seguindo uma brilhante estrela desde o oriente vieram  para adorar  o Rei nascido em Belém e trazem seus presentes: ouro, incenso e mirra. Daí o Natal é um tempo de dar presentes. Em primeiro lugar o Menino Deus é um presente de Deus Pai para toda a humanidade e vem nos oferecer a salvação e mais, a possibilidade de tornarmos Filhos de Deus, por Cristo, e cidadãos do Reino.
Os presentes que os Reis Magos oferecem ao Menino-Deus,  segundo lemos em Mateus 2:1-12, são  o Ouro: por que Ele é Rei; Incenso: por que é Sacerdote; Mirra: por que é Profeta. Em verdade, Cristo presenteia à humanidade com a sua Encarnação entre nós, Ele é o presente, daí este tempo deve ser comemorado de verdade. Mas o Natal se transformou numa festa pagã mesmo! Infelizmente as pessoas não sabem mesmo o que comemorar, ficamos entre o consumismo e o sentimentalismo culposo, alguns têm e outros não têm o que comemorar...é tempo de lembrar o que deixamos de fazer: confraternizar, abraçar, beijar e presentear. E Cristo onde fica?  Bom, não se sabe.... Cada vez mais o Natal sem Cristo é a tônica, a origem e fim do Natal se perdem.

Mas os Reis Magos, tudo indica sabiam o que comemoravam, a final de contas vieram de muito longe para adora-lo como Rei, Sacerdote e Profeta... Ele era o centro da sua viagem...

Natal é tempo de presentes e de trocas. Cristo nascendo da Virgem Maria de quem toma sua carne, asssume nossa humanidade nos oferece a salvação e a deificação pela qual seremos cidadãos do seu Reino. Se nós diferentemente dos Reis Magos não temos nem ouro, nem incenso nem mirra para oferecer-lhe, segundo o comentário de Paul Evdokimov, na falta de ouro ofereçamos a virtude da obediência, pois pela obediência à Deus suprimimos toda auto-suficiência e toda dominação vinda do mundo. Aquele que obedece à Deus  domina o mundo e se torna regiamente livre. Em troca Deus lhe confere a dignidade da realeza, que é o domínio de si próprio e está liberto de toda dominação imposta pelo mundo. Esta é a Realeza do Reino. (Meu Reino não é deste mundo...)

Se não temos incenso, ofereçamos à Deus a virtude da castidade (significa estar inteiro naquilo que fazemos e não fragmentados), que consiste na desapropiação e consagração total da existência. Encontra-se na estrutura do espírito e na oferta sacerdotal. Cristo concede em troca a dignidade sacerdotal pela qual o cristão vive sua natureza litúrgica, pois, criado à semelhança da Santíssima Trindade ele é comunhão. O cristão oferece-se a si próprio em sacrificio, renuncia  a si , oficia a própria liturgia, torna-se oferta viva à Deus: este é o incenso que agrada à Deus (um perfume de espiritual suavidade). Pela castidade o homem não está mais dividido, o homem se oferece inteiro a Deus.

Se não temos mirra, ofereçamos a virtude da pobreza. Esta é abertura e receptividade aos designios de Deus. É penetração profética que só quer conhecer e ouvir o Verbo de Deus  e só aspira a uma posse: os dons do Espírito Santo. O modelo é São João o Precursor, para quem sua única alegria está no Senhor. `A virtude da pobreza  Cristo corresponde com a dignidade profética . O profeta é o amigo do Esposo, aquele que se diminui para que Ele apareça. A tarefa do profeta é ver o que os olhos não viram. Somente na pobreza de si é que possui os dons do Reino, pois os pobres herdarão o 
Reino, pois os cheios de riqueza e de si próprios não encontrarão lugar no Reino...

No Natal por tanto, Cristo nos confere verdadeiros presentes, que são as três dignidades dos filhos de Deus: Em Cristo nos tornamos um povo de Reis, Sacerdotes e Profetas, para isto é necessário uma verdadeira troca de presentes entre nós e Cristo. Este é o Mistério do Natal, a festa é verdadeira, os presentes também, o aniversariante é Cristo. Nós os participantes da festa.

A Igreja guardou esta Tradição à semelhança de Maria a Mãe de Deus guardou estes presentes, pois o Menino-Deus nem podia sequer agradecer os presentes aos Reis Magos.

Que a festa de Natal nós tranfigure em verdadeiros seguidores de Cristo e que possamos aceitar e trocar com Ele nossos presentes é o que mais desejamos neste período.

Um Feliz Natal a todos, pois o nascimento de Cristo nos nossos corações é sempre hoje!!!

Arcipreste Alexis Peña-Alfaro
Paróquia da Dormição da Mãe de Deus
Vigário Geral da Igreja Sérvia no Brasil

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