O Oriente cristão comemora o Natal em 07 de janeiro. A
maioria das igrejas ortodoxas celebra com uma liturgia na véspera na noite do
dia 06 que no ocidente corresponde ao dia dos Reis Magos. A Tradição e a
Sagrada Escritura comentam que José e Maria buscam um lugar em Belém para o
menino nascer e não encontram, pois “ o
colocam numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem (Lc 2:
7) ”. A passagem mostra que ainda hoje o menino busca espaço para poder nascer;
e hoje nos corações “também não existe
espaço para ele” mesmo que em seu nome se faz a festa e muitas vezes Ele nem
está presente...
O evangelista São Mateus (cap 2: 1-12) é o único a fazer o
relato da passagem dos Reis Magos. Esta é uma das mais bonitas e mágicas passagens
das Escrituras e dá o clima de especial
que a festa de Natal nos proporciona: luz, encantamento, misterio, magia
e presentes...Segundo a Santa Tradição os Reis Magos eram conhecedores
profundos das ciências dos astros e seguindo uma brilhante estrela desde o
oriente vieram para adorar o Rei nascido em Belém e trazem seus
presentes: ouro, incenso e mirra. Daí o Natal é um tempo de dar presentes. Em
primeiro lugar o Menino Deus é um presente de Deus Pai para toda a humanidade e
vem nos oferecer a salvação e mais, a possibilidade de tornarmos Filhos de
Deus, por Cristo, e cidadãos do Reino.
Os presentes que os Reis Magos oferecem ao
Menino-Deus, segundo lemos em Mateus
2:1-12, são o Ouro: por que Ele é Rei;
Incenso: por que é Sacerdote; Mirra: por que é Profeta. Em verdade, Cristo
presenteia à humanidade com a sua Encarnação entre nós, Ele é o presente, daí
este tempo deve ser comemorado de verdade. Mas o Natal se transformou numa
festa pagã mesmo! Infelizmente as pessoas não sabem mesmo o que comemorar, ficamos
entre o consumismo e o sentimentalismo culposo, alguns têm e outros não têm o
que comemorar...é tempo de lembrar o que deixamos de fazer: confraternizar,
abraçar, beijar e presentear. E Cristo onde fica? Bom, não se sabe.... Cada vez mais o Natal sem
Cristo é a tônica, a origem e fim do Natal se perdem.
Mas os Reis Magos, tudo indica sabiam o que
comemoravam, a final de contas vieram de muito longe para adora-lo como Rei,
Sacerdote e Profeta... Ele era o centro da sua viagem...
Natal é tempo de presentes e de trocas. Cristo
nascendo da Virgem Maria de quem toma sua carne, asssume nossa humanidade nos
oferece a salvação e a deificação pela qual seremos cidadãos do seu Reino. Se
nós diferentemente dos Reis Magos não temos nem ouro, nem incenso nem mirra
para oferecer-lhe, segundo o comentário de Paul Evdokimov, na falta de ouro
ofereçamos a virtude da obediência, pois pela obediência à Deus suprimimos toda
auto-suficiência e toda dominação vinda do mundo. Aquele que obedece à Deus domina o mundo e se torna regiamente livre.
Em troca Deus lhe confere a dignidade da realeza, que é o domínio de si próprio
e está liberto de toda dominação imposta pelo mundo. Esta é a Realeza do Reino.
(Meu Reino não é deste mundo...)
Se não temos incenso, ofereçamos à Deus a virtude da castidade
(significa estar inteiro naquilo que fazemos e não fragmentados), que consiste
na desapropiação e consagração total da existência. Encontra-se na estrutura do
espírito e na oferta sacerdotal. Cristo concede em troca a dignidade sacerdotal
pela qual o cristão vive sua natureza litúrgica, pois, criado à semelhança da
Santíssima Trindade ele é comunhão. O cristão oferece-se a si próprio em
sacrificio, renuncia a si , oficia a
própria liturgia, torna-se oferta viva à Deus: este é o incenso que agrada à
Deus (um perfume de espiritual suavidade). Pela castidade o homem não está mais
dividido, o homem se oferece inteiro a Deus.
Se não temos mirra, ofereçamos a virtude da pobreza.
Esta é abertura e receptividade aos designios de Deus. É penetração profética
que só quer conhecer e ouvir o Verbo de Deus e só aspira a uma posse: os dons do Espírito
Santo. O modelo é São João o Precursor, para quem sua única alegria está no
Senhor. `A virtude da pobreza Cristo
corresponde com a dignidade profética . O profeta é o amigo do Esposo, aquele
que se diminui para que Ele apareça. A tarefa do profeta é ver o que os olhos
não viram. Somente na pobreza de si é que possui os dons do Reino, pois os
pobres herdarão o
Reino, pois os cheios de riqueza e de si próprios não
encontrarão lugar no Reino...
No Natal por tanto, Cristo nos confere verdadeiros presentes,
que são as três dignidades dos filhos de Deus: Em Cristo nos tornamos um povo
de Reis, Sacerdotes e Profetas, para isto é necessário uma verdadeira troca de
presentes entre nós e Cristo. Este é o Mistério do Natal, a festa é verdadeira,
os presentes também, o aniversariante é Cristo. Nós os participantes da festa.
A Igreja guardou esta Tradição à semelhança de Maria a
Mãe de Deus guardou estes presentes, pois o Menino-Deus nem podia sequer
agradecer os presentes aos Reis Magos.
Que a festa de Natal nós tranfigure em verdadeiros
seguidores de Cristo e que possamos aceitar e trocar com Ele nossos presentes é
o que mais desejamos neste período.
Um Feliz Natal a todos, pois o nascimento de Cristo
nos nossos corações é sempre hoje!!!
Arcipreste Alexis Peña-Alfaro
Paróquia da Dormição da Mãe de Deus
Vigário Geral da Igreja Sérvia no Brasil
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