1. Existem
três métodos de atenção e oração, pelos quais a alma é elevada e segue adiante
ou é rebaixada e destruída. Quem quer que utilize esses métodos, no momento e
forma corretos segue adiante, mas aquele que os use de forma pouco sábia e nos
momentos errados é rebaixado.
A atenção
deverá estar ligada à oração tão inseparavelmente quanto o corpo à alma. A
atenção deve seguir em frente, espionando o inimigo como um batedor. Deve ser a
primeira a entrar em combate com o pecado, e em opor-se aos pensamentos
malignos que ingressam na alma. A oração deve seguir logo após,
instantaneamente exterminando e destruindo todos os pensamentos malignos com
que a atenção estava em batalha antes; porque a atenção, sozinha, não é capaz
de destruí-los.
Nessa batalha
contra os pensamentos pela atenção e oração jaz a vida e morte da alma. Se pela
atenção mantivermos a oração pura, iremos fazer progressos; se não tivermos
atenção para mantê-la pura, e a deixamos desprotegida, torna-se poluída com
maus pensamentos e permanecemos como tentativas fúteis. Assim, como existem
três métodos de atenção e de oração, temos de explicar as características
distintas de cada um, de maneira que aquele que ama a salvação possa escolher o
melhor.
2. Sobre o
Primeiro Método de Atenção e Oração
As
características distintas do primeiro método são as que se seguem: se um homem
ficar em oração e, erguendo as suas mãos, olhos e a sua mente ao céu, mantém em
sua mente pensamentos Divinos, imagina bênçãos celestiais, hierarquias de anjos
e as moradas dos santos, rapidamente concentra em sua mente tudo aquilo que ele
aprendeu das Santas Escrituras e pondera sobre tudo isso durante a sua oração;
olhando para o céu e assim incitando a sua alma a ansiar e a amar a Deus, e em
alguns momentos até mesmo chorando e soltando lágrimas, isso será o primeiro
método de atenção e oração.
Mas se um
homem escolhe apenas esse método de oração, acontece que, pouco a pouco, ele
começa a ficar orgulhoso em seu coração, sem perceber que isso está
acontecendo; parece-lhe que o que ele está fazendo está vindo da graça de Deus,
enviado a ele como um consolo e ele pede a Deus para que lhe garanta sempre
permanecer nessa tarefa. Mas isso (ou seja, pensar desta forma sobre esse
método de oração), é um sinal de desvio; porque o bem não mais é o bem se não
for feito corretamente.
Se então tal
homem ingressar num silêncio total (ou seja, torna-se um heseicasta, um
anacoreta), ele praticamente não será capaz de enlouquecer (estará correndo um
risco extremo disto acontecer com ele). Se por acaso não enlouquecer, de
qualquer forma lhe será impossível adquirir virtude ou o domínio das suas
paixões. Esse método contém um outro risco de desvio ou seja, quando um homem
vê luz com os seus olhos corporais, sente odores agradáveis e doces, ouve vozes
e muitos outros fenômenos.
Alguns ficaram
totalmente possuídos e, em sua loucura, vagam de um lugar para outro; outros
foram desviados, confundindo o demônio por um anjo de luz, sob cujo disfarce
ele lhes apareceu sem que fossem capazes de reconhecê-lo.
Assim eles
permaneceram incorrigíveis até o fim, recusando-se a ouvir o conselho de um
outro irmão. Alguns deles, instigados pelo demônio, cometeram suicídio:
atiraram-se de um precipício ou se enforcaram. Quem poderia enumerar as várias
formas de enganos pelas quais o demônio busca seduzir, uma vez que são
inumeráveis?
Daquilo que eu
disse, não é difícil para um homem sensato compreender que tipo de dano pode
advir deste primeiro método de atenção e oração (se é tomado como a perfeição
na oração). Se qualquer pessoa consegue evitar em cair nesses males enquanto
praticando esse primeiro método, porque vivem numa comunidade (porque é
principalmente o solitário que está sujeito a esses enganos), ele irá
permanecer toda a sua vida sem obter sucesso (na vida espiritual).
3. Sobre o
segundo método de atenção e oração O segundo método é este: um homem arranca a
sua mente de todos os objetos percebidos e a conduz para dentro de si,
guardando os seus sentidos e coletando os seus pensamentos, de maneira que eles
param de vagar no meio das vaidades deste mundo; agora ele examina os seus
pensamentos, e pondera sobre as palavras de oração que os seus lábios estão
murmurando; agora puxa de volta os seus pensamentos como se, atormentados pelo
mal, ele voam em direção a algo maligno e vão e, com grande labuta e
auto-esforço, luta para voltar para si mesmo, depois de ter sido pego e
conquistado por alguma paixão.
A
característica distinta deste método é que ele acontece dentro da cabeça,
pensamento lutando contra pensamento. Nessa luta contra si próprio, um homem
nunca estará em paz consigo mesmo, nem irá
encontrar
tempo para praticar virtudes para obter a coroa da verdade. Tal homem é como
aquele que luta contra os seus inimigos à noite, na escuridão; ouve as suas
vozes e sofre os seus golpes, mas não é capaz de vê-los claramente, quem são,
de onde vieram e qual o propósito de seu ataque contra ele; isto porque ele
próprio permanece em sua cabeça enquanto que os pensamentos malignos nascem do
coração.
A escuridão
que envolve a sua mente e a tempestade que ruge em seus pensamentos são a causa
desse defeito (porque o impedem de perceber isso), e lhe é impossível escapar
dos demônios, seus inimigos e evitar os seus golpes. Mas se, juntamente com
tudo isso, um homem é dominado pela vaidade e imagina que ele tem atenção sobre
si próprio como deveria ter, este infeliz trabalha em vão e irá até mesmo
perder a sua recompensa para sempre. Em seu orgulho, ele despreza e critica
outros e eleva-se, acreditando-se digno de ser um pastor de ovelhas humanas e
um guia de outros - assim ele é como um homem cego que se propõe guiar aos
cegos.
Tal é o
segundo método de atenção e oração. Cada homem que busca pela salvação deveria
conhecer o dano que esta causa à alma e deveria cuidadosamente prevenir-se
contra isto. Ainda assim, esse método é melhor do que o primeiro, da mesma
forma que a luz da luz é melhor do que uma noite escura sem lua.
4. Sobre o
terceiro método de atenção e oração Verdadeiramente o terceiro método é
maravilhoso e difícil de explicar; e não somente difícil de ser compreendido
mas até mesmo incrível para aqueles que não o tentaram na prática. Eles até
mesmo recusam-se em acreditar que possa existir uma tal coisa. E, realmente,
nos nossos tempos, esse método de atenção e oração raramente é encontrado; e
parece que essa bênção nos desertou, na companhia da obediência. Se alguém
observa a obediência perfeita com respeito ao seu pai espiritual, torna-se
livre de todas as preocupações, porque de uma maneira definitiva colocou todas
as suas preocupações sobre os ombros de seu pai espiritual. Portanto, ao estar
longe de todas as ligações mundanas, ele torna-se capaz de uma prática zelosa e
diligente do terceiro método de oração, contanto que ele tenha encontrado um
verdadeiro pai espiritual, que não está sujeito a desvios. Porque se um homem
entregou-se inteiramente a Deus e deixou de lado toda as preocupações a Deus e
ao seu pai espiritual, de maneira que em sua obediência ele não mais vive a sua
própria vida ou segue a sua própria vontade, mas está morto para todas as
ligações mundanas e ao seu próprio corpo - que coisa acidental poderia jamais
vir a conquistar e escravizar tal homem? Ou que cuidados ou preocupações
poderia ele ter? Portanto, todas as baixezas e estratagemas utilizados pelos
demônios para atrair o homem em direção a diferentes e variados pensamentos são
destruídos e dispersados por esse terceiro método de atenção e oração. Pois
então a mente de tal homem, estando livre de todas as coisas, possui o espaço suficiente
para examinar, sem ser molestada, os pensamentos que lhe são trazidos pelos
demônios e pode rapidamente repeli-los e orar a Deus com um coração puro. Tal é
o início de uma verdadeira vida (espiritual)! E aqueles que não começam assim,
trabalham em vão sem perceberem isso.
O início deste
terceiro método não é olhar para cima em direção ao céu; erguer as mãos ou
manter a mente continuamente em coisas celestiais; estes, como já dissemos, são
os atributos do primeiro método e não estão muito longe do engano. Nem também
consiste em guardar os sentidos com a mente e direcionar toda a nossa atenção
sobre isso, nem também observar os ataques dos demônios sobre a alma
internamente (eles olham e lutam, mas tudo isto está na cabeça, e assim eles
estão desprotegidos.) Este é o atributo do segundo método e aquele que o
pratica torna-se escravizado pelos demônios e não pode vingar-se, porque os
demônios tanto os atacam constantemente, seja aberta ou secretamente, quando os
tornam orgulhosos e vaidosos.
Mas você,
amado, se deseja ser salvo, comece a trabalhar assim: tendo estabelecido a
perfeita obediência em seu coração que, como dissemos, deve ser exercida com
respeito ao seu pai espiritual, atue em tudo o mais com uma consciência pura,
como se estivesse sempre na presença de Deus; porque é impossível manter uma
consciência pura sem obediência. Você deve manter a consciência clara em três
aspectos: com relação a Deus, com relação ao seu pai espiritual e com relação
aos outros homens, assim como com as coisas e objetos desse mundo (da vida).
Com relação a
Deus, é seu dever manter a sua consciência limpa, não se permitindo nenhuma
ação que, dentro do seu conhecimento, seja desagradável ou ofensiva a Deus. Com
relação ao seu pai espiritual, faça apenas aquilo que ele lhe manda fazer,
permitindo-se não fazer nada nem de mais nem de menos e siga em frente, guiado
apenas pela sua vontade e intenção.
Com relação a
outras pessoas, irá manter a sua consciência limpa se você evitar em fazer a
elas qualquer coisas que você odeia ou não goste que seja feito a você mesmo.
Com relação às coisas, o seu dever é manter a sua consciência limpa, ao delas
fazer um uso sempre correto - isto quer dizer, alimento, bebida e roupas.
Prossiga neste
caminho como se estivesse na presença de Deus e assim, em tudo que fizer, nunca
permita com que a sua consciência lhe machuque ou o denuncie, por não ter feito
bem o seu trabalho. Seguindo assim neste caminho, você irá facilitar e criar
para si próprio um caminho verdadeiro e reto, em direção ao terceiro método de
atenção e oração, que é como se segue: a mente deve estar localizada no coração
- uma característica distinta do terceiro método de oração. Ela deverá guardar
o coração enquanto este ora, revolve, mantendo-se sempre no interior e daí, a
partir das profundezas do coração, oferece preces a Deus. (Isto é tudo,
trabalhe desta maneira até que lhe seja dado um saborear do Senhor.) Quando a
mente, ali no interior do coração, finalmente saboreia e vê que o Senhor é bom
e com isto se delicia (o trabalho é nosso, mas este saborear é a ação da graça
presente num coração humilde), então esta não mais desejará abandonar este
lugar no coração (e irá dizer as palavras do Apóstolo Pedro: 'É bom estarmos
aqui'- Mateus, xvii, 4) e irá sempre olhar para o interior, para as profundezas
do coração e ali permanecerá revolvendo sempre, repelindo todos os pensamentos
semeados pelo demônio. (Esse é o terceiro método de atenção e oração praticado
como deve ser.) Para aqueles que não têm nenhum conhecimento desse trabalho e
nenhuma experiência deste, parece ser difícil e opressivo. Mas para aqueles que
saborearam a sua doçura e souberam apreciá-lo nas profundezas de seus corações,
estes gritam juntamente com o divino Paulo: 'Quem irá nos separar do amor de
Cristo?' (Rm 8: 35).
Portanto,
nossos santos padres, ouvindo àquilo que o Senhor disse: 'Porque de nossos
corações nascem os pensamentos malignos, assassinatos, adultérios, fornicações,
roubos, falsos testemunhos, blasfêmias' e: 'essas são as coisas que poluem um
homem' (Mt 15, 19,10), e também ouvindo que em outro lugar dos Evangelhos somos
instruídos a 'limpar primeiro aquilo que está dentro do cálice e do prato, para
que o lado externo também fique limpo' (Mt 28: 26) renunciaram a qualquer outro
trabalho espiritual e concentraram-se inteiramente nessa única tarefa, a de
guardar o coração, convencidos que, através dessa prática, alcançariam
facilmente todas as outras virtudes, enquanto que sem ela, todas as demais
virtudes não poderia sem estabelecidas firmemente. Alguns dos padres
denominaram-na de silêncio do coração; outros a chamaram de atenção, ainda
outros - de sobriedade e oposição (aos pensamentos), enquanto que outros a
chamaram de exame dos pensamentos e guarda da mente. Eles todos a praticaram
com preeminência e, através dela, receberam os presentes Divinos. O Eclesiastes
indica a mesma coisa quando diz: 'Alegra-te jovem, em tua juventude... e
caminha nos modos do teu coração'(Eclesiastes, xi, 9), na pureza, retirando o
coração do meio dos pensamentos malignos. Em outro lugar, ele fala a mesma
coisa: 'Se o espírito do dominador erguer-se contra ti, não abandona o teu
lugar'(Eclesiastes, x, 4) - o lugar aqui significando o coração. Também o
Senhor nos diz nos Evangelhos: 'Também não sede de mente duvidosa'(Lc 12: 29) -
não vos impulsioneis como meteoritos, nem correi de um lado para outro com a
vossa mente. Novamente, em outro local, Ele diz: 'Abençoados os pobres de
espírito'(Mt 5: 3), ou seja, abençoados aqueles que não tem nenhum apego ao
mundo em seus corações, mas estão destituídos de todo pensamento mundano. Todos
os santos padres escreveram muito sobre isso. Aqueles que desejam podem ler as
suas obras e ver o que São Marcos, o Lutador escreveu ou que São João da
Escada, Hesiquio de Jerusalém, Philotheus de Sinais, Abba Isaias Barsanufius o
Grande e muitos outros.
Numa palavra,
aquele que não tem atenção em si mesmo e não guarda a sua mente, não pode
tornar-se puro em coração e portanto não pode ver a Deus. Aquele que não tem
atenção em si próprio não pode ser pobre em espírito, não pode chorar e ser
contrito, nem ser gentil e manso, nem ter fome e sede de justiça, nem ser
misericordioso, nem umpacificador, nem sofrer perseguição pelo bem da justiça.
Falando em termos gerais, é impossível adquirir virtude de qualquer outra
maneira, exceto através deste tipo de atenção. Portanto, você deve tentar
ganhar isto mais do que tudo, de maneira a aprender aquilo que eu lhe digo em
palavras em termos de sua própria experiência. Se você também deseja como isto
deveria ser realizado, irei lhe contar como.
Você deverá
observar três coisas antes de tudo: liberdade de todas as preocupações, não
somente sobre aquilo que é mau ou fútil, mas até mesmo das coisas boas, ou em
outras palavras, você deve ficar morto para tudo; a sua consciência deve estar
limpa em todas as coisas de forma que ela não o denuncia em nada e você deverá
ter uma completa ausência de apegos passionais, de maneira que o seu pensamento
não se incline para nada mundano. Mantenha a sua atenção dentro de você mesmo
(não em sua cabeça, mas em seu coração - aqui São Simeão descreve certos
métodos externos pelos quais algumas pessoas caem em tentação e desistem de seu
trabalho enquanto que outros distorcem o próprio trabalho. Uma vez que, devido
à falta de instrutores, esses métodos poderão conduzir a efeitos malévolos
enquanto que em si próprios nada mais são do que adaptações externas para um
trabalho interno e não tem nenhum valor essencial, apenas iremos mencionar
alguns desses processos: o da vigília, buscando aperfeiçoar e reforçar a
capacidade de identificar e eliminar os pensamentos gerados pelo demônio; o
jejum, para diminuir a força do apego às paixões, assim como enfraquecendo a
força com que o corpo tende a interferir no processo de contemplação,
abnegação: fixar-se na realização de uma determinada tarefa às expensas de
outras coisas chegando mesmo ao sacrifício pessoal; da auto-punição, que poderá
ir desde a punição física, com a negação de algo desejado até mesmo à dor
física, passando pela punição emocional, ao se trabalhar com a culpa e com o
nosso estado de miséria espiritual e falta de merecimento, indo até a
contemplação dos sofrimentos do Senhor por nossa causa e finalmente, a punição
intelectual, que poderá ser a forma mais difícil de punição, indo desde a
negação dos pensamentos, numa busca em eliminá-los completamente da esfera da
intenção até a manutenção de um pensamento fixo, continuamente mantido ao longo
de grandes períodos de tempo. Entretanto, tais técnicas, assim como outras
mais, como é o caso do retiro ou afastamento do mundo no deserto, são meramente
acessórias e devem ser necessariamente ser prescritas e controladas pelo
orientador espiritual pessoal. A coisa essencial é adquirir o hábito de fazer
com que a mente fique de guarda no coração - nesse coração físico, mas não
fisicamente. É necessário trazer-se a mente para baixo, da cabeça ao coração.
Como conseguir fazer isso? Busque e encontrarás. A melhor forma é andar na
presença de Deus e pelo trabalho na oração, especialmente indo à igreja. Mas
deve ser lembrado que o trabalho é apenas seu, enquanto que o objetivo disso
tudo, que é o da união da mente com o coração é um presente da graça, que o
Senhor lhe dá quando e a quem Ele quiser.). Mantenha a sua mente ali (no
coração) tentando através de todos os meios possíveis encontrar o lugar onde o
coração está, no sentido de, tendo o encontrado, sua mente venha a habitar ali
constantemente.
Assim,
senta-te numa cela tranqüila, afastado, num canto e aplica-te em fazer o que te
digo: fecha a porta, eleva o teu espírito acima de todo objeto vão ou
passageiro. Depois, apoiando a barba contra o peito, dirige os olhos do corpo,
ao mesmo tempo que todo o teu espírito, para o centro do ventre, isto é, para o
umbigo. Comprime o ar aspirado, que passa pelo nariz, de modo que não possas
respirar com facilidade; examina mentalmente o interior das duas entranhas, à
procura do lugar do coração, que todos os poderes da alma gostam de freqüentar.
No início encontrarás trevas e uma opacidade obstinada; mas se perseverares, se
noite e dia praticares esse exercício, encontrarás - que maravilha! - uma
felicidade sem limites. Pois, logo que o espírito encontra o lugar do coração ,
vê de súbito o que jamais tinha visto. Vê o ar que se encontra dentro do
coração, vê-se a si mesmo inteiramente luminoso e cheio de discernimento.
Lutando assim,
a mente irá encontrar o lugar do coração. Isto acontece quando a graça produz a
doçura e ternura na oração. Deste momento em diante, seja de qual lado o
pensamento venha a surgir, a mente o espanta para longe, antes mesmo que tenha
tido tempo de entrar e tornar-se um pensamento ou imagem, destruindo-o pelo
nome de Jesus, ou seja, Senhor Jesus Tende Piedade de Mim! Mais, daquele
momento em diante, um homem começa a sentir um ódio e uma ira contra os
demônios e constantemente os guerreia e os domina. O espírito, em seu
ressentimento contra o demônio, excitará a cólera que a natureza lhe deu,
contra os inimigos espirituais e os expulsará a grandes golpes. Com respeito
aos outros resultados que geralmente advêm desse trabalho, com a ajuda de Deus,
você irá aprender a partir das suas próprias experiências, ao manter a sua
mente atenta e Jesus em seu coração, ou seja, Sua oração - Senhor Jesus Cristo,
Tende Piedade de Mim! Um dos santos padres diz: 'Senta-te em tua cela e essa
oração irá te ensinar tudo.'
Pergunta: Mas,
por que o primeiro e segundo métodos de atenção e oração não podem produzir
isso? Resposta: porque fazemos uso errado deles. São João da Escada, ao
representar estes métodos a uma escada com quatro degraus disse: 'Alguns
dominam as paixões e tornam-se humildes; outros salmodiam, ou seja, oram com os
seus lábios; ainda outros praticam a oração mental; outros erguem-se à
contemplação. Aqueles que se propõem subir estes degraus não começam do topo e
em seguida descem, mas iniciam embaixo e seguem para cima - pisando primeiro no
primeiro degrau depois no segundo, terceiro e finalmente no quarto. O método
pelo qual aquele que assim deseja, pode erguer-se da terra e ascender aos céus
é assim: primeiro ele deve lutar contra a suma mente e dominar as suas paixões;
em segundo lugar, ele deve praticar a salmodia, ou seja, orar com os lábios
porque, quando as paixões estão vencidas, a oração de maneira bastante natural
traz doçura e alegria até mesmo à língua e são aceitas por Deus como
agradáveis; em terceiro, ele deve orar mentalmente e em quarto, deve erguer-se
à contemplação. O primeiro caso é apropriado para iniciantes; o segundo para
aqueles que já alcançaram alguma medida de sucesso; o terceiro, para aqueles
que estão aproximando-se muito dos últimos degraus da realização, e o quarto,
aos perfeitos.'
Assim, o único
começo possível é o da diminuição e domínio das paixões. Isto somente pode ser
alcançado na alma pela guarda do coração e pela atenção, porque, como disse o
Senhor, do coração é que nascem os pensamentos malignos que poluem o homem.
Assim a
atenção e a vigilância são necessárias. Quanto, através da oposição do coração
as paixões foram completamente dominadas, a mente começa a ansiar por Deus,
buscando aproximar-se Dele, e para tal começa aumentando as suas orações e fica
a maior parte do seu tempo orando. Deste anseio por Deus e orar, a mente
adquire uma força e elimina todos os pensamentos que circulam ao redor do
coração, buscando entrada e os elimina através da oração. Então a guerra
começa: com um grande rugido os demônios se erguem e através das paixões
semeiam o motim e a tempestade no coração. Mas pelo mesmo nome de Jesus Cristo,
tudo é dissolvido e desaparece, como a cera numa chama. Ainda assim, mesmo
banidos e expulsos do coração, os demônios não ficam quietos, mas fazem outras
tentativas de perturbar a mente, de dentro, através dos sentidos. Mas novamente
a mente rapidamente restaura e começa a sentir mais uma vez a sua quietude
usual; porque eles não tem o poder de perturbar as suas profundezas mas apenas
em agitar a sua superfície. Mas a mente ainda não é capaz de se livrar
completamente desta guerra, e não se perturbar pelos ataques dos demônios
malignos.
Isto é um
atributo apenas dos perfeitos - daqueles que renunciaram completamente a tudo e
cuja atenção permanece incessantemente no coração. Assim, se um homem pratica
tudo isso na ordem correta, fazendo cada coisa no seu tempo apropriado, então,
quando o seu coração está purificado das paixões, ele será capaz de se entregar
inteiramente à salmodia, lutar contra os pensamentos, olhar para o céu com os
seus olhos corporais ou contemplá-lo com os olhos internos de sua alma e orar
em verdadeira pureza, como sempre deveria.
Ainda assim,
não é aconselhável olhar para o céu com os olhos corporais com muita
freqüência, por temos aos demônios que podem ser encontrados no ar. Eles são
chamados de espíritos do ar, porque produzem neste várias formas de engano -
assim devemos tomar cuidado. Deus exige apenas uma única coisa de nós - que o
nosso coração seja purificado através da atenção. Com relação ao resto, será
como disse o Apóstolo: 'Se a raiz é santa, então também os ramos o serão'(Rm 11:
16). Mas um homem começa a erguer os seus olhos e mente ao céu e imagina algo
em sua mente, fazendo isso não na ordem que indicamos, ele irá ver sonhos, algo
falso ao invés de verdadeiro, porque o seu coração não está puro. Assim, como
dissemos mais de uma vez, o primeiro e segundo métodos de atenção e oração não
conduzem o homem a verdadeiras realizações. Quando desejamos construir uma casa,
não colocamos o teto antes de colocarmos as fundações, porque construir uma
casa desta forma é impossível.
Primeiro
coloque as fundações, que são: comece a vigiar o coração e limpá-lo das
paixões; então construa a casa espiritual, repila as insurreições contra nós,
estimuladas pelos maus espíritos através de nossos sentidos externos e somente
então devemos colocar o teto, ou seja, a completa renúncia de tudo, no sentido
de nos oferecermos inteiramente a Deus. Desta maneira iremos completar a nossa casa
espiritual em Jesus Cristo, com Quem esteja a Glória para Sempre. Amem. São
Simeão, o Novo Teólogo
São Simeão,
nascido na Paflagonia, foi educado em Constantinopla por seu tio, um cortesão.
Ao completar a sua educação, permaneceu por um curto espaço de tempo ligado à
Corte mas logo a abandonou e ingressou no monastério de Studit para se ligar ao
seu orientador espiritual (staretz), Simeão do Devoto, de cuja orientação já
tinha à disposição desde os seus tempos de escola. A excessiva disciplina de
sua vida fez com que caísse no desagrado da fraternidade e, seguindo os
conselhos de seu staretz, mudou-se para o monastério de São Mamas, onde, pela
morte do Abade, foi eleito para ficar em seu lugar e foi ordenado sacerdote
pelo Patriarca Nicolas Crisovergos. Tendo organizado o monastério, São Simeão
ingressou num retiro silencioso, colocando em seu lugar um sucessor digno e
experimentado - Arsenius. Mas não pode permanecer em silêncio por muito tempo.
Uma tempestade se montou contra ele, por ter instituído um dia de recordação em
honra de seu staretz, Simeão o Devoto, por ocasião de sua morte; e ele foi
expulso de Constantinopla. Não longe dali, ele escolheu um lugar onde havia se
erguido a igreja dilapidada de Santa Marina. O dono do lugar, um dos nobres, Cristofer
Fagura, que o venerava, cedeu-lhe a localidade inteira e o ajudou a organizar
um monastério ali. Quando ele havia organizado tudo a contento no monastério,
São Simeão mais uma vez entrou em retiro e depois de trinta anos de vida
pacífica em silêncio morreu no princípio do século 11, pacificamente. Suas
relíquias foram reveladas em 1050. Sua memória é celebrada em 12 de Março, dia
de sua morte.
São Simeão
deixou muitos escritos. Quando foi o cabeça de monastérios, freqüentemente
pregava em igrejas e durante os seus dois retiros, escreveu epístolas e
instruções, tanto para uso geral, para todos os cristãos e em especial, para
aqueles engajados na batalha espiritual. Estas últimas estão freqüentemente
compostas na forma de pequenos textos ou artigos. Seu discípulo, Nicetas
Stetatos, que escreveu a sua biografia, colecionou os seus escritos e começou a
fazer cópias destes antes mesmo da morte do santo.
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