quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A História da Igreja da Sérvia


A origem do cristianismo na Sérvia é bastante obscura já que encontramos registros da atividade de missionários latinos na região costeira da Dalmácia no inicio do século VII. Sobre a atividade de missionários bizantinos encontramos registros somente no século IX, quando o Imperador Basílio I enviou missionários para lá.

Devido a sua situação geográfica, a Igreja da Sérvia oscilou entre Roma e Constantinopla, mas, finalmente, os bizantinos prevaleceram. Em 1219, São Savas, foi consagrado pelo Patriarca de Constantinopla como primeiro arcebispo de uma Igreja Ortodoxa Autônoma que, naquele tempo, residia na cidade de Nicéia, devido a ocupação das tropas latinas em sua sede Patriarcal.

O reino da Sérvia alcançou seu apogeu durante o reinado de Stevan Dushan que foi quem estendeu o poder sérvio até Albânia, Epiro e Macedônia. O rei Dushan foi coroado Imperador dos sérvios, estabelecendo um Patriarcado sérvio em Pec, no ano de 1346. Esta situação foi reconhecida por Constantinopla somente em 1375.

Os sérvios foram derrotados pelos turcos em 1389, passando assim a integrar o Império Otomano. Este suprimiu o Patriarcado Sérvio em 1459 que somente teve sua condição restaurada em 1557. Novamente foi suprimido em 1766, quando todos os bispos sérvios foram substituídos por bispos gregos sob o omofórion do Patriarcado de Constantinopla.

O surgimento de um Estado autônomo sérvio, em 1830 esteve estreitamente ligado ao restabelecimento de uma Metropolia Ortodoxa Autônoma com sede em Belgrado e também com a substituição dos bispos gregos pelos de nacionalidade sérvia.

Em 1878, a Sérvia recebeu o reconhecimento internacional de país independente e um ano mais tarde, em 1879, o Patriarcado de Constantinopla reconheceu a autocefalía da Igreja Ortodoxa Sérvia.
 
 Em 1918, com a formação do Estado multinacional chamado Iugoslávia, as várias jurisdições ortodoxas fundiram-se em uma única, formando a Igreja Ortodoxa da Sérvia.

Em 1920, Constantinopla reconheceu a dita união, elevando esta Igreja ao status de Patriarcado.

A Igreja Sérvia sofreu duramente no período da II Guerra Mundial, especialmente na região que estava sob o controle do Estado fascista Croata, perdendo cerca de 25% de suas igrejas e mosteiros e 1/5 de seu clero. Após o estabelecimento do governo comunista em 1945, a Igreja Ortodoxa Sérvia teve que reformular sua relação com o novo Estado ateu. Durante esta época muitas propriedades foram confiscadas; a educação religiosa nas escolas públicas foram abolidas; houve preconceitos quanto os sérvios estarem num território Iugoslavo.

O Presidente Tito rompeu em 1948 com a então URSS estabelecendo melhores relações com os países do Ocidente. Com isso houve maior tolerância religiosa e uma posição mais amena em relação às Igrejas. Entretanto, a relação entre Igreja e Estado não esteve isenta de alguns arranhões , como por exemplo, na ocasião em que o governo apoiou o surgimento de uma Igreja Ortodoxa de Macedônia. Isto foi interpretado pela Igreja da Sérvia como um cisma.
 
Depois da desintegração da Iugoslávia , a Igreja da Sérvia envolveu-se em assuntos políticos, denunciando estrondosamente as práticas anti-religiosas do passado durante o regime comunista.
Em maio de 1992, começava a distanciar-se do governo de Milosevic.

A Igreja Ortodoxa da Sérvia , durante a Guerra da Bósnia Herzegovina, fez freqüentes apelos em favor da paz. A hierarquia da Igreja apoiou os esforços da minoria sérvia naquele país e na Croácia com o objetivo de integrar-se politicamente com a própria Sérvia.

Em 1994, os bispos ortodoxos sérvios se reuniram em Banja Luka (setor sérvio da Bósnia) e ali afirmaram que muitos sérvios estavam fora da Sérvia como resultado de fronteiras que foram artificialmente impostas pelo regime totalitário com fins administrativos, portanto, aquelas fronteiras poderiam não ser aceitas como definitivas.

Em 1996, os bispos sérvios chamaram a uma renovação moral do povo sérvio, mas perceberam que isto não se poderia conseguir, pois o sistema educacional permanecia com o espírito do antigo regime marxista. Denunciaram a reaparição de velhos métodos totalitários na sociedade e continuaram proclamando que as ações da Comunidade Internacional em Bósnia e no Tribunal de Haia, estavam predispostas contra a Nação Sérvia.

No mesmo ano, Milosevic, tratou de suprimir o resultado das eleições no qual foi condenado em duros termos pelo Santo Sínodo. Em janeiro de 1997, o Patriarca Pavle, organizou uma movimentação com mais de 300 mil pessoas pelas ruas de Belgrado, com intenções pré-democráticas.

Em meados de 1997, em um Assembléia em que se reuniram todos os bispos sérvios, fez-se um apelo aos seus compatriotas exilados na Croácia e Bósnia para regressar a suas antigas moradas, exigindo que os governos garantissem a segurança de seus compatriotas.
Os bispos também chamaram ao diálogo o governo da Iugoslávia para tratar de assuntos relativos às propriedades eclesiásticas que foram confiscadas durante o período comunista e o restabelecimento de instrução religiosa nas escolas públicas.

Quanto a questão do Ecumenismo , os bispos manifestaram abertura ao diálogo e interesse para promover a reconciliação e unidade entre os cristãos.

A mais alta autoridade na Igreja Ortodoxa da Servia é o Santo Sínodo dos Bispos, composta de todos os diocesanos que se reúnem uma vez a cada ano no mês de maio. O Santo Sínodo é constituído pelo Patriarca e pelos bispos que governam a Igreja.
 
Na cidade de Belgrado está o Instituto teológico (fundado em 1921). A Igreja conta com 4 seminários e uma escola para a formação de monges. São impressas 15 publicações patrocinadas pelo Patriarcado e pelas dioceses.

A Igreja Ortodoxa da Sérvia criou dioceses fora de seu país para os sérvios residentes no estrangeiro como nos EUA, Europa Ocidental e Austrália.

A Comunidade Sérvia na diáspora experimentou uma divisão em 1963 quando o Patriarcado Sérvio foi acusado de manter relacionamento com o Governo Marxista da Iugoslávia . Esta controvérsia deu origem a uma Igreja Ortodoxa Servia Livre que rompeu sua comunhão canônica com Belgrado.

Em 1991, ambos grupos se reconciliaram sob a condução do Patriarca Pavle. No entanto, frise-se que por algum tempos estas jurisdições co-existiram adotando uma constituição comum somente no ano de 1998, trilhando o caminho para uma futura unidade administrativa. Até 1998, estava sob a proteção do Metropolita Irineu que morava nos EUA que, devido a uma enfermidade, foi transferido para ocupar o cargo de Administrador em Dalmácia.

Síntese Histórica

Os povos da Sérvia adotaram o cristianismo na segunda metade do século IX (870), por intermédio de missionários enviados pelo Patriarcado Ecumênico, sendo a sede de seu bispado a cidade de Rask;
Os Papas conseguiram subjugar a Sérvia nos meados do século XI, porém na era do Rei Estêvão Niman (1159 - 1195), acabou-se a soberania de Roma sobre a Sérvia, ficando esta, entre o fluxo e refluxo políticos;
Em 1219 houve um levante na Igreja da Sérvia declarando-se o Arcebispado independente, na cidade de Ibik, e em 1346, o Santo Sínodo da Sérvia elevou o Arcebispado à categoria de Patriarcado, sem o consentimento do Patriarcado de Constantinopla, o que provocou uma dissidência entre as duas Igrejas, da Sérvia e de Constantinopla, que só veio a terminar quando as Dioceses, motivo da discórdia, voltaram para a Igreja do Patriarcado de Constantinopla;
Em 1766, o governo da Turquia aboliu o Patriarcado de Ibik, mandando submeter todas as Dioceses da Sérvia ao Patriarcado de Constantinopla, na era de seu Patriarca Samuel I;
Em 1831, a Igreja da Sérvia conseguiu a sua autonomia, sob o patrocínio do Patriarca Ecumênico e o Arcebispado de Belgrado e o Metropolita Sérvio e em 1879, declarou-se a sua independência integral na era do Patriarca Ecumênico Joaquim III.

Fonte: Pro-ortodoxia
Tradução do Espanhol por: Pe. André Sperandio, hieromonge

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