Em tudo o que se
refira à prática do jejum e da abstinência devemos sempre nos conformar às
regras estabelecidas pela Santa Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, recebendo
d´Ela, como de uma Mãe e Mestra, as normas e orientações para uma santa e
equilibrada prática do jejum.
Aos que procuram
viver como verdadeiros discípulos de Nosso Senhor, Deus e Salvador Jesus
Cristo, é sumamente necessário que disciplinem seus corpos, assim como seus
espíritos. Seja o jejum praticado na sobriedade em nutrir o corpo,
concedendo-lhe o justo e necessário alimento e negando-lhe todo o supérfluo,
para que a carne não venha a se levantar contra o espírito e, obscurecendo as
potências da alma, arruíne a vida espiritual.
O
jejum é "algo indispensável para se adquirir os frutos do Espírito
Santo em nossa vida" (São Serafim de Sarov)
O
jejum é uma maneira de exprimir o amor a Deus e a generosidade em buscá-Lo.
Através do jejum, sacrificam-se os prazeres terrenos para obter-se o verdadeiro
gozo das coisas celestiais. Uma parte excessivamente grande de nossos
pensamentos é abarcada pela preocupação com a subsistência (o que havemos de
comer e o que havemos de vestir). Assim, o jejum se mostra como um instrumento
de purificação da alma e do corpo, e um aliado indispensável na luta contra os
desejos egoístas. Ao lado da oração, o jejum é uma das mais poderosas armas
disponíveis ao homem para sua luta espiritual, tendo sido sempre recomendado,
seja pelo próprio Nosso Senhor, Deus e Salvador Jesus Cristo, seja pelos Santos
Padres da Igreja e pelos demais Santos e Santas de todos os tempos, lugares e
condições, cujos ensinamentos e exemplos são dignos de toda veneração e
acatamento.
"Pois se o desejo e a
gula em questão de comida e bebida tomam preponderância, e as vontades próprias
que os manobram o fazem insaciável, a tudo isto virá ajuntar-se, todavia, a
atividade do diabo. Ao contrário, o Espírito se ocupa daqueles que buscam uma
quantidade conforme a pureza, e mostra-lhes uma quantidade suficiente para
sustentarem seus corpos, sem conhecer o atrativo da concupiscência. Então se
realiza neles a palavra de São Paulo: “Quer comais, quer bebais, ou façais
outra coisa, fazei tudo para glória de Deus' (I Cor. 10, 31)" (Santo Abade
Antonio - o Grande)
"O jejum e a abstinência de certos
alimentos é a oração do corpo, pois educamos nossa vontade corporal para se
chegar à perfeição espiritual. O jejum refreia a tagarelice. Ele nos fará
misericordiosos e dispostos a obedecer; destrói os pensamentos maus e elimina a
insensibilidade do coração. O jejum é uma maneira de exprimir o amor e a
generosidade; através dele, sacrificam-se os prazeres da terra, para obter as
alegrias do céu". (Santo Abade João Clímaco)
São João Kolov dizia:
"Quando um rei quer conquistar uma cidade, ele primeiro corta o suprimento
dos alimentos. Daí, os cidadãos que sofrem de fome se submetem ao rei. A mesma
coisa acontece com os nossos desejos: quando o homem leva uma vida austera,
jejuando e até passando fome, as paixões morrem".
"... pois a sensualidade expulsa
do coração o espírito de penitência e o santo temor de Deus, assim como a
fumaça afasta as abelhas, extingue a graça e priva a alma do conforto e da
presença do Espírito Santo". (Santo Abade Poimén)
"Se você se jogar na comida ou
bebida com voracidade, você será carne, e se você jejuar e orar você será
espírito”. “Não
vos embriagueis com vinho, que é uma fonte de devassidão, mas enchei-vos do
Espírito” (Efésios 5,18). Jejue e ore, e você realizará grandes feitos. “O
saciado não tem capacidade para realizações”. (São João de Kronstadt)
"Devemos ingerir diariamente,
alimentos suficientes para fortalecer o corpo, para que o mesmo estando
fortificado seja amigo e auxiliar da alma na realização das virtudes; caso
contrário poderá acontecer que, através do enfraquecimento do corpo, a alma
também enfraqueça. Nas quartas e sextas-feiras, principalmente nos quatro
períodos de jejum, seguindo o exemplo dos Padres, devemos nos alimentar apenas
uma vez no dia, - e o Anjo do Senhor se afixará em você". (São Serafim de
Sarov)
"Domina teu ventre e não permita
que ele te domine, a fim de que não queira, logo que tenha sido envergonhado,
guardar a abstinência que não guardaste no momento oportuno." (Santo
Abade João Clímaco).
"Jejuar é violentar a natureza,
cercear os deleites do paladar, mortificar a carne, livrar-se das ilusões,
purificar a oração, iluminar a alma, desterrar a cegueira; é a porta do
arrependimento, humilde suspiro, alegre contrição, morte da loquacidade,
portador da quietude, guardião da obediência, alívio durante o sono, pureza no
trabalho, motivo de tranqüilidade, perdão dos pecados, porta de entrada dos
deleites do Paraíso. Tudo isto é o jejum, porque ajuda em tudo a dispormo-nos
para combater seu inimigo, a gula." (Santo Abade João Clímaco).
O JEJUM DA MENTE
O jejum da mente
consiste na permanente vigilância interior (guarda do coração) e no constante
combate contra as divagações dos pensamentos e as distrações inúteis da mente,
os quais desviam a alma da contemplação de Deus, fixando-a nas criaturas,
servindo ainda como portas de entrada para as tentações e os pecados
interiores.
"Não é suficiente abster-se das
conversas inúteis e palavras ociosas, mas igualmente das ações inconvenientes e
inúteis do corpo e da dissipação interior dos pensamentos e vãs cogitações do
espírito. A alma se afasta das más divagações, guardando o coração, para
impedir seus membros - os pensamentos - de divagarem pelo mundo".
(Santo Abade Macário - o Grande)
"O espírito que não está disperso
entre os objetos exteriores, nem espalhado pelo mundo por meio dos sentidos,
volta a si mesmo e sobe por si próprio ao pensamento de Deus". (São Padre Basílio – o Magno).
"Lembrai-vos, pois, de Deus,
para que Ele se lembre incessantemente de vós; lembrando-se de vós, Ele vos
salvará e vós recebereis todos os seus bens. Não O esqueçais em vãs distrações
se não quiserdes que Ele vos esqueça na hora de vossas tentações". (Santo
Isaac - o Sírio).
"Em três coisas se manifesta a vida
do cristão: nas obras, na palavra e no pensamento. Dentre elas, o lugar
principal é ocupado pelo pensamento, pois o pensamento é o princípio de toda
palavra; em segundo lugar, após a reflexão, se segue a conversação, que revela
através das palavras o pensamento concebido na alma; o terceiro lugar - em
seguida ao pensamento e à conversação – ocupam as obras, que realiza o que foi
pensado". (Santo Padre Gregório de Nissa)
"Coloquemos um freio na
efervescência dos pensamentos que nos angustiam e que brotam do nosso coração,
como uma água em ebulição, lendo as Escrituras e ruminando-as
incessantemente... e nós ficaremos livres..." (Santo Abade Pacômio).
O JEJUM DA
LÍNGUA
O jejum da
língua consiste no rígido controle do que se fala, evitando-se toda conversação
vã e inútil, principalmente aquelas que podem ofender a Deus e ao próximo.
Portanto, devem ser banidas de nossas bocas todas as conversas inúteis, que são
aquelas que não se destinam a fomentar a boa convivência com o próximo ou a
instruir, orientar e edificar as pessoas de nosso convívio, e com muito mais cuidado
ainda, as ironias, as queixas, as murmurações, os comentários desnecessários
sobre a vida do próximo, as difamações, os julgamentos e a vã curiosidade.
Tarefa muito
difícil e que exige grandes esforços é dominar a própria língua, mas com a
ajuda da Graça de Deus poderemos vencer esse tirânico inimigo. Tenhamos sempre
presente em nossos corações, as palavras de Nosso Senhor, Deus e Salvador Jesus
Cristo que declarou que até das palavras ociosas haveremos de prestar contas no
Dia do Juízo!
"Filhos, vinde escutar-me, vou
ensinar-vos o temor do Senhor. Qual é o homem que deseja a vida e quer
longevidade para ver a felicidade? Preserva tua língua do mal e teus lábios de
falarem falsamente". (Salmo 33: 12-14)
"Eu disse: Guardarei meu caminho
para não pecar com a língua". (Salmo 39: 2)
"Nas muitas palavras não
falta o pecado, quem retém os lábios é prudente".
(Provérbios 10: 19).
(Provérbios 10: 19).
"Quem vigia a própria boca guarda a
sua vida, mas se perde quem escancara os lábios". (Provérbios: 13, 3)
"A língua mentirosa odeia suas
vítimas e a boca fluente provoca a ruína". (Provérbios 26: 28).
"O homem sábio calará até o momento
oportuno". (Eclesiástico 20: 7)
"Quem fala muito se torna
detestável". (Eclesiástico 20: 8)
"Um golpe de chicote deixa marca,
mas um golpe de língua quebra os ossos. Muitos caíram pelo fio da espada, porém
muito mais foram os que caíram por causa da língua". (Eclesiástico 28:
17-18)
"Eu vos digo que de toda palavra vã
que os homens disserem, prestarão contas no Dia do Julgamento. Pois por tuas
palavras serás justificado e por tuas palavras serás condenado". (Mateus
12: 36-37)
"Mas o que sai da boca procede do
coração e é isto que torna o homem impuro". (Mateus 15: 18)
"Se alguém pensa ser religioso, mas
não refreia a língua, antes se engana a si mesmo, saiba que sua religião é
vã". (Tiago 1: 26)
"Aquele que não peca no falar é
realmente homem perfeito, capaz de refrear todo o corpo". (Tiago 3: 2a)
"Ora, também a língua é fogo. Como
o mundo do mal, a língua é posta entre os nossos membros maculando o corpo
inteiro e pondo em chamas o ciclo da criação, inflamada como é pela
geena". (Tiago 3: 6)
"Não saia dos vossos lábios nenhuma
palavra inconveniente, mas, na hora oportuna, a que for boa para edificação,
que comunique graça aos que a ouvirem". (Efésios 4: 29)
Na Tradição da
Santa Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, podemos encontrar diferentes formas
de ascese, mas em todas elas é prescrita a observância do silêncio, como
elemento indispensável ao recolhimento interior e exterior e manutenção do
espírito de compunção. O Santo Abade Benedictus, enumerando os instrumentos das
boas obras, prescreve aos monges em sua regra:
"Não gostar de falar muito (...)
Não falar palavras vãs ou que só sirvam para provocar o riso (...) Não gostar
do riso excessivo ou ruidoso". (Santo Abade Benedictus)
"Façamos o que diz o Profeta: ‘Eu
disse, guardarei os meus caminhos para que não peque pela língua; pus uma
guarda à minha boca; emudeci, humilhei-me e calei as coisas boas’. Aqui mostra
o Profeta que, se às vezes, se devem calar mesmo as boas conversas, por causa
do silêncio, quanto mais não deverão ser suprimidas as más palavras, por causa
do castigo do pecado?". (Santo Abade Benedictus)
"Quando o coração está, pois,
fortificado com o poder que recebe do Espírito, ele mesmo acaba purificado
primeiro, santificado, corrigido, e as palavras que confia à língua estão
isentas do desejo de agradar, assim como de toda vontade própria. Nele se
cumpre o que disse Salomão: `Minhas palavras são de Deus, não há nelas dureza
ou perversão' (Provérbios 8,8) e
'A língua do justo cura as feridas' (Provérbios 12, 18)" (Santo Abade Antonio - o Grande)
'A língua do justo cura as feridas' (Provérbios 12, 18)" (Santo Abade Antonio - o Grande)
O JEJUM DOS
OLHOS
O jejum dos
olhos deve consistir em evitar-se toda vã curiosidade de ver coisas
desnecessárias ao nosso progresso humano e espiritual.
No mundo tecnológico e globalizado no
qual vivemos, imersos num oceano de informações, as quais nos envolvem e nos
submergem, mobilizando nossas mentes, é preciso cuidadosa vigilância sobre
nossos olhos, para que eles não se tornem portas de entrada para o pecado e se
transformem em instrumentos de perdição. Neste sentido, o Cristão deve
utilizar-se dos meios de comunicação disponíveis, como a internet, a televisão,
a imprensa, e demais meios de comunicação de massa, sempre com temor de Deus,
santamente, com olhos e coração castos.
Conforme nos
adverte o Santo Padre João Chrisóstomo, todo Cristão fiel ao seu Batismo (no
qual renunciou a Satanás, e a todas as suas obras, e a todas as suas pompas)
deve evitar os espetáculos (teatros, circos, shows profanos e coisas do
gênero), ao que, segundo o mesmo espírito, poderíamos hoje acrescentar os
filmes perversos e anti-cristãos, as novelas da televisão e todos os programas
transmitidos pela televisão que não tenham uma finalidade instrutiva ou
informativa, como os programas de distração e variedades, os quais, comumente,
divulgam idéias e costumes contrários ao Cristianismo, como a libertinagem, a
sensualidade, a pornografia, a cobiça, a vaidade, a glutonaria, a inveja, a
avareza, a superstição, a mentira, a idolatria, o adultério, a soberba da vida,
e tantas outras coisas degradantes para o ser humano, das quais o Cristão deve
fugir como de um dragão diabólico.
Tudo aquilo que
afaste o Cristão de seu compromisso com Deus, a saber, operar a própria
salvação com "temor e tremor", conforme admoesta-nos o Santo
Apóstolo Paulo, é inútil e prejudicial. O Cristão deve viver neste mundo com
espírito de permanente compunção, e tudo aquilo que nos afaste dessa salutar
compunção deve ser evitado. É por isso mesmo que a Santa Igreja nos faz
suplicar em cada Divina Liturgia: "Que nos conceda passar o resto de
nossas vidas na paz e no arrependimento, peçamos ao Senhor ..."
"A luz do corpo é o olho. Portanto,
se teu olho estiver são, todo teu corpo ficará iluminado; mas se teu olho
estiver doente, todo teu corpo ficará em trevas. Pois se a luz que há em ti
forem trevas, quão densas serão estas trevas!" (Mateus 6, 22-23)
O JEJUM DOS
OUVIDOS
O jejum dos
ouvidos consiste em evitar-se a vã curiosidade em ouvir coisas que não
dizem respeito a nós ou não sejam necessárias para o nosso progresso humano e
espiritual, e mais ainda, em evitar ouvir tudo aquilo que possa nos desviar do
caminho da santificação.
"Devemos inclinar os ouvidos
somente às palavras decorosas; e o ouvido, não cedendo ao desejo de ouvir falar
das quedas e debilidades humanas, porá seu gozo em conhecer o bem e a
perseverança de cada um, e a graça concedida às criaturas; coisas da quais
estando enfermo, se havia desinteressado". (Santo Abade Antonio - o
Grande)
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