Conte-nos um pouco sobre como Death to the World começou. Justin Marler (Abestos Death, Sleep) ainda está envolvido?
Death to the World foi criado por punks convertidos a fé
Ortodoxa Oriental que se tornaram monges em um mosteiro no norte da Califórnia.
Eles começaram a publicação para chegar aos velhos amigos que ainda estavam
tragados pela cena punk. Sim, uma dessas primeiras pessoas era Justin Marler,
da banda Sleep, mas ele não é mais um editor principal. Nós ainda enviamos
zines e ele está trabalhando conosco para re-imprimir o livro "Youth of
the Apocalypse" que foi impresso pela primeira vez durante os primeiros anos
da existência do Death to the World.
Na sua opinião, quais são os principais desafios enfrentados
a pela nossa juventude do século XXI?
Como nosso Padre Serafim Rose disse uma vez, "Nossa
vida anormal de hoje pode ser caracterizada como mimada, "super
protegida". Desde a infância a criança de hoje é tratada, como regra
geral, como um pequeno deus ou deusa na família: seus caprichos são atendidos,
seus desejos são cumpridos, ele é cercado por brinquedos, de diversões,
conforto; ele não é treinado e educado de acordo com os rigorosos princípios do
comportamento Cristão, ao contrário, deixa-se desenvolver de maneira que
satisfaça suas inclinações". (The Orthodox World View). Nós somos a
geração "MEU", os narcisistas. Vivemos em um mundo de fantasia, um
Disneyworld, desde a juventude, raramente somos dirigidos para a seriedade da
vida e para o que o mundo exige de nossas almas. Assim, quando crescemos, somos
atormentados pelo mesmo desejo de nos cercar de tantas distrações e aparelhos
como pudermos. A vida no século 19 foi drasticamente diferente. Hoje, ao invés
de uma chama cintilante de uma vela de oração, que em outros tempos servia para
iluminar nossas casas, é a televisão que emite sua "des-luminada"
luz. Nossos valores já não são mais ditados pelas palavras de Cristo ou pela
vida de Seus Santos, os valores são regurgitados através deste aparelho
brilhante. As salas costumavam ser usadas para conversações sobre Deus e uns
aos outros, agora vejo o que temos feito! Nos cercamos em volta da televisão!
Quando isto aconteceu?! As crianças andam por aí com as cabeças coladas em
telefones celulares; preferem fones tocando música alta nos ouvidos
do que uma conversação séria. Onde tudo isso nos levou? Nós que somos tão
superiores aos antigos por causa de nossos "avanços". Nós esquecemos
a santidade; paramos de lutar pela sabedoria. Muitas almas hoje vivem do choque
elétrico que sai dos nossos computadores e não pela virtude ou pureza. Crimes
sexuais, assassinatos, suicídios, etc acontecem nas ruas de hoje como matilhas
de cães selvagens, consumindo muitos, alguns que conheço pessoalmente. Toda
nossa sociedade e a forma como ela está estruturada é um desafio para a
juventude de hoje. Um monge nos primeiros séculos do cristianismo perguntou uma
vez ao mais velho, "Será que nos últimos tempos, os Cristãos poderão
ressuscitar os mortos ou realizar milagres?" O ancião respondeu-lhe
"Será um esforço maior ainda, ser Cristão naqueles tempos". Estes são
os tempos em que estamos vivendo; a sociedade que vivemos é demasiadamente anticristã,
fazem que nos olhem como estranhos, radicais religiosos, as vezes até mesmo
para os cristãos dos nossos dias. Como Santo Antônio, um monge antigo disse uma
vez; "Está chegando a hora em que as pessoas irão enlouquecer e quando
encontrarem alguém que não é louco, irão atacá-lo, dizendo: "Você é louco,
você não é como nós.".”
Muitos veem a subcultura punk, aqueles perdidos nas drogas, com comportamento auto-destrutivo ou niilistas, como "causas perdidas". Você obviamente discorda. Por quê?
Ninguém é uma causa perdida. Como Santa Isabel, a Nova
Mártir, disse certa vez: "A imagem de Deus pode ser ofuscada, mas nunca
destruída." As vezes, essas subculturas criam uma forte rebelião no
indivíduo, mas o problema é que eles não sabem para onde direcioná-la.
Eles sabem que o mundo é ruim, mas a rebelião que eles têm é dirigida
politicamente, ou algumas vezes, em formas de autodestruição. Death
to the World tenta direcionar essa rebelião contra o mundo de uma forma
saudável, citamos Santo Isaac da Síria (séc VI d.C) em todas as
publicações, "O "mundo"
em geral é o nome genérico para todas as paixões [...] Observe para
quais
dessas paixões você está vivo. Então você vai saber o quão distante você
está
vivo para o mundo, e quão distante você está morto para ele". Assim,
DTTW
propaga que quanto mais você morre para seus desejos e quanto mais você
corta
sua própria vontade, maior a "rebelião" e a rejeição ao mundo. Dessa
forma, se torna não apenas uma luta física, mas se desenvolve em uma
luta espiritual
e interior.
Por que você usa a frase "A Última Verdadeira
Rebelião"?
Subculturas atuais estão cheias de jovens que querem lutar
pela verdade através da rebelião contra esse mundo. A subcultura punk é uma
rebelião, mas é falsa rebelião, pois se alguém segue até o seu fim, encontrará
o niilismo completo e o desespero. Essas rebeliões dentro das subculturas podem
ser eficazes, mas a verdade pela qual eles estão lutando, geralmente não é a
mesma verdade tal como a conhecemos, a Verdade como uma pessoa, como Jesus Cristo.
Ao contrário das rebeliões deste mundo, Death to the World é uma rebelião que
não é um beco sem saída, é uma aceitação de algo real, algo de outro mundo. É
por isso que é "A Última Verdadeira Rebelião", porque é a única
verdadeira.
Death to the World muitas vezes destaca sobre mártires e santos da Fé Ortodoxa. Por que histórias sobre mártires parecem ter alguma ressonância com o seu público?
As almas das pessoas de hoje que estão buscando pela Verdade
estão sufocadas pela nossa sociedade falsa. Os programas de televisão,
outdoors, filmes, etc, mais frequentemente não possuem nenhuma boa pessoa para
servir de inspiração. Nossa sociedade não apenas é rodeada, mas também é
bombardeada pela falsidade todos os dias. Parece triste dizer, mas algum de nós
nem sequer temos país que nos sirvam como inspiração. Os santos e mártires se
relacionam conosco de uma forma que sentimos que nenhuma outra pessoa poderia.
Com suas vidas, eles nos trazem a realidade da vida, a realidade do que
significa seguir Cristo de uma forma verdadeira, sem compromisso. As mortes
brutais dos Santos, Justino, Inácio, George, Pantaleão, e outros grandes
cristãos, durante os primeiros séculos contem algumas das mais incríveis
histórias de fé inabalável que uma pessoa pode ler. As vidas dos Santos João de
São Francisco, Nikolai do Zhica, Herman do Alaska, Raphael do Brooklyn, e
outros santos americanos ou aqueles que viveram durante o nosso tempo,
revela-nos como Deus não deixou Sua Igreja, mesmo nestes tempos escuros. Na
experiência Ortodoxa, os Santos são reais, vivos, e intercedem por nós diante
do trono de Cristo. Eles trazem o céu para próximo de nós através de suas
orações e adoração diante de nosso Criador nos Céus. Eles são os "amantes
da verdade" que sacrificaram completamente tudo e qualquer coisa terrena,
dedicando suas vidas para a Verdade Suprema, que é encontrada no Cristo
encarnado. Assim, ao ver essas vidas tão reais, radicais e seus testamentos
para a vida além-túmulo, as pessoas veem que nossa "rebelião" não é
falsa, mas muito real.
A Fé Ortodoxa tem uma rica tradição de ter belas obras de
artes e ícones. Como você incorpora essa tradição em suas publicações?
Iconografia está na Igreja desde seu início. Segundo a
tradição, o Apóstolo Lucas foi o primeiro que pintou Cristo e Sua Mãe em uma
prancha de madeira retirada da mesa na casa da Virgem Maria onde Cristo comia. Foi
proclamado ao longo dos séculos que o ícone é como uma janela para o céu,
revelando o mundo vindouro. Por dois mil anos, a Ortodoxia sempre deu uma
grande ênfase na adoração a Deus com todo o nosso ser, com todos nossos
sentidos, e o ícone é a representação visual da teologia para nós. Em um ícone,
a pessoa pode ver toda a salvação; a renovação da natureza humana, a promessa e
o brilho do céu, a exaltação da humildade, etc. O ícone intriga as pessoas
porque é uma forma de arte que é sagrada, provém de uma tradição apostólica e
move as almas das pessoas. Em nossas publicações, usamos muitas representações
de ícones e eles ressoam nos corações das pessoas, há algo neles que prendem a
atenção do indivíduo. São João Damasceno falou que os ícones eram o Evangelho
dos iletrados. É bem verdade, pois, mesmo que uma pessoa possa ler, a sua alma
pode ser analfabeta para as coisas espirituais e os ícones podem comunicar o
Evangelho a eles.
Muitas igrejas (protestantes, católicos, etc) oferecem o
evangelho para jovens utilizando música. O que torna a sua abordagem diferente?
Como a sua perspectiva única sobre Cristo apela para os seus leitores?
A Igreja Ortodoxa é a Igreja Cristã mais antiga, traçando
suas raízes diretamente aos Apóstolos. Tem existido antes tanto do Catolicismo
Romano quanto do Protestantismo, sendo abençoada pelo próprio Cristo, sendo os
Apóstolos os primeiros Cristãos Ortodoxos. Pode-se apontar as origens da Igreja
Ortodoxa até o tempo de Cristo, mas seria mais apropriado dizer que sempre
existiu, como nós exclamamos que nossa Fé "estabeleceu o Universo" (Synodikon
Ortodoxo). A Tradição Ortodoxa é muito profunda e não muda desde os primórdios
do Cristianismo, mantendo-se em linha com as palavras de São Paulo, quando
disse: "...esteja firme e conservai as tradições que vos foram ensinadas,
seja por palavra, ou nossas epístolas" (2 Tess. 2:15). O profundo
entendimento do homem e do que significa ser transfigurado através de Cristo
têm florescido abundantemente ao longo dos séculos em comunidades monásticas e
deu à Igreja um sentido muito espesso e denso do que significa ser cristão
neste mundo. Ortodoxia incubou e floresceu no Oriente, preservando os
ensinamentos de Cristo e continuar a celebrar a forma mais antiga de cultos
cristãos, a Divina Liturgia, que pode ser rastreada até o próprio Apóstolos
Tiago, o irmão de Cristo. Eu acho que é isso que nos destaca, o que nos torna
únicos para nosso público. Há muitas igreja hoje que oscilam com os tempos, que
mudam de ano para ano, dependendo da cultura que os cerca, porque eles acham
que irão trazer mais pessoas para dentro. As pessoas veem que a ortodoxia não é
assim, ela não muda com o mundo ao seu redor, porque ela é profundamente
centrada na vida do mundo por vir, jamais será tragada e está dirigida para o
céu. As pessoas que veem a falsidade neste mundo e querem a Ortodoxia porque
eles a enxergam como um refúgio que sempre será preservado e firme entre o
mundo que já está se desintegrando em torno deles.
Apesar de tudo, você sente que o Death to the World tem sucedido em trazer os jovens para Cristo?
Com a depressão, a tristeza e desconforto que assola a nossa
sociedade e as pessoas ao nosso redor, as perspectivas Ortodoxas sobre o
sofrimento é uma das principais coisas que o DTTW se relaciona. Os antigos
Cristãos e monges do passado viam as lutas e o sofimento como um meio para
colocar a nossa carne em sujeição, para aprender a carregar a nossa cruz sem
reclamar, tudo, em última análise, se relaciona com o sofrimento de Cristo. Como
a nossa sociedade frequentemente varre o sofrimento, o pobre e os miseráveis
para baixo do tapete, longe da vista do "civilizado", a Ortodoxia
estende a mão para eles e relacionam a um Deus que sofre com eles, não um Deus
envolto em uma bonita caixa Americana com um laço no topo. Nós gostamos de
falar das coisas como elas são, a vida não deve ser revestida de açúcar. Tanto
a alegria e o sofrimento devem ser reconhecidos como parte da nossa viagem em
direção a salvação. O sofrimento faz parte da nossa vida que deve ser abraçado
por nós com mais frequência, não fugindo dele, mas, infelizmente, nós que
crescemos em uma sociedade muito confortável e relaxada temos pouco tempo pra
isso, para nosso própria perda. (Ensino Prático sobre a Vida Cristã) Portanto,
o sofrimento é dado a nós com amor de Deus, para que pudéssemos lembrar a nossa
queda e cultivar dentro de nós um amor mais profundo para o Reino dos Céus. Quando
jovens e adultos que estão sofrendo veem as vidas dos Santos e os ortodoxos que
carregam seus sofrimentos com alegria, dá-lhes a esperança e a coragem para
abraçar e conquistar suas lutas. O coração humano é muito complexo e não pode
ser remediado por distração ou por prescrição de medicamentos, é necessário
algo mais, algo que o homem e este mundo não pode dar. Quando as pessoas que
sofrem vêm a nós, sempre nos humilha ver que estas pessoas em sofrimento estão,
por vezes, mais perto de nosso Cristo do que nós. Como nós cantamos para Deus,
em um culto chamado Akathist da Ação de Graças, "Tu descendeste para à
cama do doente e seu coração comunica Contigo. Tu inspiras a alma com paz no
momento de dor e sofrimento. Envias ajuda inesperada. Tu és o confortador. Tu
és o amor onisciente. A ti eu canto: Aleluia!"
O que você diria para os nossos leitores, que estão preocupados com a educação dos seus filhos em Cristo nesta geração?
Faça os crescer dentro da verdade. O mundo em torno deles
lhes dará muitas contradições e falsas doutrinas, ajude e explique essas coisas
para eles. Cultive dentro de si a pureza e amor para com o seu Criador. Seja
uma família, comam juntos, rezem juntos, unam suas almas, sua casa deve ser uma
pequena capela. Seja direto, em vez de vago sobre coisas como sexo, drogas,
etc, para que eles saibam o que essas coisas são e quais as suas consequências,
não só do corpo, mas o mais importante, sobre a alma. Ajude-os a abraçar o
sofrimento e não os mime, eles vão criar a resistência e atenção para com a
alma, em vez de distraí-los com coisas temporais. Acima de tudo, eles precisam
de buscar alguma verdade que os façam ser capazes de viver em nossa sociedade
anticristã - torne-os amantes da Verdade. Há um excelente livro sobre o
chamado, "Raising them Right" por São Theophan o Recluso que disse
uma vez que, de todas as obras santas, a educação dos filhos é o mais santo.
Onde é que os leitores interessados saber mais sobre Death to the World ou a Igreja Ortodoxa?
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