quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Anjo da Guarda

Santo Anjo da Guarda


1.     Introdução à natureza dos Anjos

    O fato de que existem outros seres racionais ao nosso lado, muito mais elevados, é testemunhado pelas crenças mais antigas da humanidade.  Esta verdade foi deformada por ignorância e por influência do maligno, da mesma forma com que as pessoas confundiram bem e mal e começaram a adorar ídolos.  A Bíblia, do primeiro ao último livro, apresenta-nos a realidade dos anjos como seres vivos e atuantes que servem a Deus e ajudam as pessoas.
     Um Querubim com uma “espada” flamejante foi colocado à porta do paraíso para impedir a entrada por alí após a queda (Gn, 3:24).
    Os Patriarcas foram dignos de serem visitados por Anjos.  Abrãao hospedou certa vez dois destes divinos mensageiros além do Filho de Deus que chegou com eles sob a forma de anjo (Gn.18:1-2).  Um anjo segurou a mão de Abrãao quando este estava prestes a começar o sacrifício de Isaac (Gn.22:11) e Hagar foi confortada e protegida por um anjo quando deixou a tenda de Abrãao (Gn.21:17).  Jacó viu toda uma congregação de anjos subindo e descendo os degraus da escada misteriosa, no topo da qual o Senhor (o Verbo de Deus) estava sentado (Gn. 28: 12-13).  Um anjo acompanhou os filhos de Israel através do deserto e guiou-os à terra prometida (Ex. 23:20).  Sob a orientação desses mensageiros, Gideão e os outros juízes de Israel levaram adiante as ordens de Deus (Juízes. 6: 12-18).  Davi os convidava a cantar salmos com ele.  Isaías viu o céu aberto e o Senhor, o Verbo de Deus, sentado num trono cercado pelas hostes angélicas, que Lhe cantavam um hino eterno (Is. 6: 1-3).  O anjo Rafael acompanhou o jovem Tobias durante a sua longa jornada, levou-o de volta à sua pátria e restaurou a visão de seu pai.
   Quando os judeus estavam no cativeiro, três jovens hebreus foram sentenciados à fogueira por se recusarem a louvar um ídolo, mas o Verbo de Deus apareceu em meio às chamas sob a forma de anjo, protegendo-os do fogo (Dn.3:25).  O santo profeta Daniel foi protegido das garras dos leões por um anjo que lhe apareceu saindo das brumas (Dn. 6:22).  O Arcanjo Gabriel anunciou ao profeta Simeão que em breve chegaria o Salvador do mundo, e o mesmo Arcanjo apareceu no templo ao sumo sacerdote Zacarias para informá-lo do nascimento de João Batista, a quem fôra ordenado ser o Precursor do Filho de Deus (Lc. 1:11-19).  O Arcanjo Gabriel foi, também, enviado a Nazaré para ver a Virgem Maria e anunciar-lhe que ela havia sido escolhida para ser a Mãe do Verbo aquando de Seu nascimento no mundo (Lc.1:26-27).  Os anjos apareceram aos pastores em Belém para proclamar o nascimento do Filho Eterno, cantando: “Glória a Deus nas alturas e paz aos homens de boa-vontade” (Lc.2:13).
    O Próprio Senhor nos deu algumas informações sobre os santos anjos.  Contou-nos sobre o amor que faz com que eles rejubilem pela nossa salvação e que velem sobre todos os nossos caminhos (Lc.15:10; Mt.18:10).  Os anjos proclamaram a Ressurreição de Cristo às miróforas (Mt.28: 5-6),  e por ocasião da Ascensão aos Céus, eles apareceram aos discípulos e disseram-lhes que, como Ele havia ascendido, retornaria uma outra vez para julgar os vivos e os mortos (At.1: 9-11).  Um anjo apareceu ao Apóstolo Pedro na prisão e libertou-o de suas correntes (At.5:19),  e a Cornélius, dizendo-lhe que ouvisse as palavras da Salvação (At.10: 7-8).  No “Apocalipse”, São João mostra-nos a força que têm os anjos no curso dos reinos terrenos e em todas as Igrejas.  Não podemos no entanto, determo-nos aqui mencionando todos os lugares onde se fala neles nas Escrituras.  A existência dos anjos como seres poderosos, indivíduais e criados é inegável, mesmo se levaramos em consideração somente estas poucas citações.
    Nossa crença nos santos anjos e no serviço que prestam está firmemente enraizada nas Santas Escrituras, e confirmada pelos ensinamentos dos nossos santos e teóforos Padres e na experiência dos santos e fiéis de todos os tempos e lugares.  Ensinamentos bem claros foram deixados por S. Dionísio, o Areopagita, S. Gregório, o Teólogo, S. Basílio, o Grande, S. João Crisóstomo e outros.  Além disso, durante a divina Liturgia a Igreja nos lembra de como eles estão próximos de nós o tempo todo e conosco celebram e louvam ao Senhor.
   Assim, fica claro através destas fontes, qual é o papel que os anjos têm na realização da vontade de Deus, e o serviço que prestam à humanidade.

2.    A Origem e a Natureza dos Anjos
      
      O amor de Deus fez com que Ele desse existência a seres racionais, capazes de conhecê-Lo e amá-Lo, e de participar de Sua bem-aventurança.  Os anjos - espíritos incorpóreaos e imateriais que O servem e com Ele cooperam - foram a primeira criação deste amor Divino..  Deus os trouxe à existência, derramou dons sobre eles e os estabeleceu nas moradas celestes.  Embora ricos em dons e graça, não são completamentes perfeitos por serem criaturas.  Tendo razão e livre-arbítrio, são capazes de render amor genuíno a Deus.  No entanto, alguns deles,  liderados pelo mais esplêndido dentre todos, começaram a admirar a sua própria perfeição limitada e entregaram-se à arrogância e ao orgulho.  Dizem as Sagradas Escrituras que o orgulho foi o maior motivo da queda deles (2 Tm 3:2-6).  O maior dos anjos tornou-se invejoso e cheio de vaidade, o que o levou a liderar outros anjos contra o Criador e, então, todos foram afastados do Senhor.   Os rebeldes caíram e perderam a visão de Deus, tornando-se anjos das trevas e da mentira;  os maus sucumbiram, atormentados por sua própria inveja e pelo ódio que os mobilizava.
   Os que permaneceram fiéis a Deus foram fortalecidos pela graça Divina e tornaram-se completamente abençoados.  São reflexos de glória e o brilho do Santo dos Santos os envolve.  Deleitando-se em êxtase na contemplação da beleza eterna, são possuídos por um amor incomensurável e livremente bebem da fonte de bênçãos.  Sem cessar louvam e aclamam o Deus Todo-Podereoso, que derrama muito amor sobre eles e lhes dá tarefas a serem executadas para a realização de Sua providência.  Estes anjos foram enviados a anunciar todos os acontecimentos proporcionados pela economia Divina da salvação.  Como arautos de Deus, são representantes de Sua Majestade.  Estão acima de todas as limitações humanas, sendo limitados apenas pelo fato de terem sido feitos criaturas  e servos do Senhor.
    Talvez alguém pergunte: “Como podem os anjos incorpóreos, sendo espíritos, aparecer aos sentidos humanos numa forma assemelhada a dos homens?”
    Poderíamos, então, responder: “Para Deus tudo é possível”.  No entanto, não podemos penetrar nas profundezas da sabedoria e do conhecimento de Deus.  Não temos como dizer de que maneira os anjos incorpóreos podem aparecer a nós sob forma humana.  Será que aparecem fisicamente ou apenas se revelam aos olhos do nosso coração?  Não sabemos.  É possível que sejam vistos por revelação mas é certo que o Criador tem poder sobre tudo e à uma ordem Sua tudo se fará segundo a Sua vontade.

3.     A Ordem e Hierarquia dos Anjos
   
    Segundo as palavras das Santas Escrituras, as hostes dos anjos celestes e benditos são incontáveis (Lc.10:17-20, Ap.12:4).  Quando o profeta Daniel teve a visão de Jesus como Filho do Homem, lá estavam milhares de anjos diante de Seu trono (Dn.7:10).  O grande profeta do Novo Testamento teve uma visão similar e viu em volta do trono de Deus tantos anjos que “seu número era de milhares de milhões” (Ap.5:2).
     Apesar de um número tão elevado, uma ordem perfeita e harmoniosa existe entre eles.  Esta ordem é a beleza da perfeição, da sabedoria, da verdade e do amor.  A sabedoria de Deus a tudo ordenou; apenas aquilo que está afastado d’Ele é desorganizado e instável.  Os anjos foram estabelecidos em nove ordens:  Arautos, Arcanjos, Poderes, Domínios, Principados, Potestades, Tronos, Querubim e Serafim (Col. 1:16; 1 Pe.3:22).  Estes seres são submissos uns aos outros em amor e humildade perfeitos.  A luz se propaga dos mais elevados em direção aos menos: o rio da vida, fluindo do coração Divino, derrama-se igualmente sobre todos eles.
     S. Dionísio, o Areopagita e outros padres da Igreja, nos mostram  que as nove ordens de anjos são divididas em três grupos.  Ao primeiro percentem os Tronos, Querubim e Serafim; ao segundo, Potestades, Domínios e Poderes; e ao terceiro, Arautos, Arcanjos e Principados.
    Primeiro vêm os Serafins.  O nome “seraph” significa fervor radiante do amor Divino; amor que os  inflama, e eles irradiam aos outros.  Eles são seres inteiramente inflamados de amor.
    Os segundos têm por  nome “cherub”, que significa a completude do conhecimento e da sabedoria.  Segundo S. Dionísio e os outros padres, estes espíritos abençoados são chamados querubins porque são permeados pelos mais abundantes raios de luz, contemplando diretamente a Fonte de Luz pré-eterna.  Eles conhecem a completude de tudo o que Deus permite às Suas criaturas conhecerem.  Dois Querubins cobrem com suas asas a arca do Velho testamento.  Além do conhecimento e da sabedoria, os Hebreus atribuíam-lhes grande poder.
   Os Tronos habitam junto de Deus e através deles o Senhor manifesta a justiça sobre a terra ao longo dos tempos.
    As Potestades regem com glória sobre os seres angélicos menores e dirigem o serviço destes.
   Os Poderes são, segundo muitos santos Padres, os espíritos através de quem o Senhor realiza Seus milagres.
    Os Domínios abreviam o poder dos espíritos malignos na guerra que movem contra a humanidade.
    A palavra “anjo”  significa “arauto” ou “mensageiro”.  Os anjos especialmente chamados de “arautos” são aqueles a quem o Senhor envia com as Suas ordens por todo o universo.  Os Arcanjos são os comandantes destes mensageiros Divinos.  São eles que anunciam os maiores mistérios à humanidade, assim como o fez o Arcanjo Gabriel ao anunciar à Virgem a proximidade do nascimento do Salvador.
   Nos ícones, os anjos são retratados com asas a fim de mostrar que, embora pareçam ter uma forma corporal, eles não têm realmente corpo físico.  As asas significam que eles são incorpóreos e imateriais e mostram que seus movimentos não são limitados como os dos homens, mas, com grande velocidade, podem deslocar-se para qualquer parte do universo.
    Os anjos são seres criados e por isso não são espíritos perfeitos como Deus é, e são limitados pelo tempo e o espaço, quer dizer, embora saibam muito, enquanto seres individuais não estão presentes em todos os lugares ao mesmo tempo (onipresença).  Não sabemos como os anjos se comunicam entre si, mas sabemos que o fazem.  Também compreendem a linguagem silenciosa das nossas almas que clamam por eles, e sempre nos ouvem com amor e compaixão e intercedem por nós junto ao Senhor.

4. Os Anjos decaídos 

   Podemos imaginar que terríveis consequências a queda acarretou aos anjos.  Estas pobres criaturas foram privadas da bem-aventurança e da santidade e,  pior, de qualquer esperança de eternidade.  Entretanto, não foram privados de seus dons naturais, ou seja, alguns poderes e uma inteligência penetrante, embora as habilidades que permaneceram com eles sirvam somente para o tormento, e não para o arrependimento e a salvação.  Eles foram totalmente cortados da fonte do amor, e então a sua existência volta-se apenas para a malícia e o ódio.  Seus poderes e inteligência são dedicados a tentar levar a humanidade na mesma direção da sua miserável e destrutiva rebelião.
   Nosso Salvador chama o antigo arcanjo, Satã, de “princepe deste mundo” (Jo.12:31), pois Satã inspira o orgulho maligno e a rebeldia deste mundo que causam as guerras, os crimes, a crueldade e toda a rejeição por parte dos homens para com Deus.  O Apóstolo Paulo se refere a Satã como “príncipe dos poderes do ar”, e distingue categorias de demônios, chamando-os “principados, poderes e legisladores das trevas desta era” (Ef. 6:12; Col.2:15).
     Daí pode-se concluir que os anjos decaídos existem na mesma ordem hierárquica dos anjos de Deus, e são subjugados por Satã, o mais poderoso e maligno de todos.
    O poder e a belicosidade dos espíritos malignos contra a humanidade são bastante conhecidos.  A compreensão e a consciência de sua existência e poder é comum à todas as pessoas, da mais primitiva à mais sofisticada, e somente os tolos negariam ou ignorariam a presença de tais criaturas, seus poderes malignos, e da força destrutiva da mentira, engano e corrupção no mundo.
    Satã sempre tenta nos enganar usando a esperança da satisfação sensual, dos prazeres mundanos e ganância.  E como recompensa àqueles que o seguem? Com destruição, doenças, guerras e tormento eterno.
     O livro “On Evil Spirits” ( Sobre os Espíritos Malignos) nos fala sobre a belicosidade que os demônios usam contra nós e sobre como devemos lutar para sairmos vitoriosos desta guerra.

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