1. Introdução à natureza dos Anjos
O fato de que existem outros seres racionais ao nosso lado, muito mais
elevados, é testemunhado pelas crenças mais antigas da humanidade. Esta
verdade foi deformada por ignorância e por influência do maligno, da
mesma forma com que as pessoas confundiram bem e mal e começaram a
adorar ídolos. A Bíblia, do primeiro ao último livro, apresenta-nos a
realidade dos anjos como seres vivos e atuantes que servem a Deus e
ajudam as pessoas.
Um Querubim com uma “espada” flamejante foi colocado à porta do paraíso
para impedir a entrada por alí após a queda (Gn, 3:24).
Os Patriarcas foram dignos de serem visitados por Anjos. Abrãao
hospedou certa vez dois destes divinos mensageiros além do Filho de Deus
que chegou com eles sob a forma de anjo (Gn.18:1-2). Um anjo segurou a
mão de Abrãao quando este estava prestes a começar o sacrifício de
Isaac (Gn.22:11) e Hagar foi confortada e protegida por um anjo quando
deixou a tenda de Abrãao (Gn.21:17). Jacó viu toda uma congregação de
anjos subindo e descendo os degraus da escada misteriosa, no topo da
qual o Senhor (o Verbo de Deus) estava sentado (Gn. 28: 12-13). Um anjo
acompanhou os filhos de Israel através do deserto e guiou-os à terra
prometida (Ex. 23:20). Sob a orientação desses mensageiros, Gideão e os
outros juízes de Israel levaram adiante as ordens de Deus (Juízes. 6:
12-18). Davi os convidava a cantar salmos com ele. Isaías viu o céu
aberto e o Senhor, o Verbo de Deus, sentado num trono cercado pelas
hostes angélicas, que Lhe cantavam um hino eterno (Is. 6: 1-3). O anjo
Rafael acompanhou o jovem Tobias durante a sua longa jornada, levou-o de
volta à sua pátria e restaurou a visão de seu pai.
Quando os judeus estavam no cativeiro, três jovens hebreus foram
sentenciados à fogueira por se recusarem a louvar um ídolo, mas o Verbo
de Deus apareceu em meio às chamas sob a forma de anjo, protegendo-os do
fogo (Dn.3:25). O santo profeta Daniel foi protegido das garras dos
leões por um anjo que lhe apareceu saindo das brumas (Dn. 6:22). O
Arcanjo Gabriel anunciou ao profeta Simeão que em breve chegaria o
Salvador do mundo, e o mesmo Arcanjo apareceu no templo ao sumo
sacerdote Zacarias para informá-lo do nascimento de João Batista, a quem
fôra ordenado ser o Precursor do Filho de Deus (Lc. 1:11-19). O
Arcanjo Gabriel foi, também, enviado a Nazaré para ver a Virgem Maria e
anunciar-lhe que ela havia sido escolhida para ser a Mãe do Verbo
aquando de Seu nascimento no mundo (Lc.1:26-27). Os anjos apareceram
aos pastores em Belém para proclamar o nascimento do Filho Eterno,
cantando: “Glória a Deus nas alturas e paz aos homens de boa-vontade”
(Lc.2:13).
O Próprio Senhor nos deu algumas informações sobre os santos anjos.
Contou-nos sobre o amor que faz com que eles rejubilem pela nossa
salvação e que velem sobre todos os nossos caminhos (Lc.15:10;
Mt.18:10). Os anjos proclamaram a Ressurreição de Cristo às miróforas
(Mt.28: 5-6), e por ocasião da Ascensão aos Céus, eles apareceram aos
discípulos e disseram-lhes que, como Ele havia ascendido, retornaria uma
outra vez para julgar os vivos e os mortos (At.1: 9-11). Um anjo
apareceu ao Apóstolo Pedro na prisão e libertou-o de suas correntes
(At.5:19), e a Cornélius, dizendo-lhe que ouvisse as palavras da
Salvação (At.10: 7-8). No “Apocalipse”, São João mostra-nos a força que
têm os anjos no curso dos reinos terrenos e em todas as Igrejas. Não
podemos no entanto, determo-nos aqui mencionando todos os lugares onde
se fala neles nas Escrituras. A existência dos anjos como seres
poderosos, indivíduais e criados é inegável, mesmo se levaramos em
consideração somente estas poucas citações.
Nossa crença nos santos anjos e no serviço que prestam está firmemente
enraizada nas Santas Escrituras, e confirmada pelos ensinamentos dos
nossos santos e teóforos Padres e na experiência dos santos e fiéis de
todos os tempos e lugares. Ensinamentos bem claros foram deixados por
S. Dionísio, o Areopagita, S. Gregório, o Teólogo, S. Basílio, o Grande,
S. João Crisóstomo e outros. Além disso, durante a divina Liturgia a
Igreja nos lembra de como eles estão próximos de nós o tempo todo e
conosco celebram e louvam ao Senhor.
Assim, fica claro através destas fontes, qual é o papel que os anjos
têm na realização da vontade de Deus, e o serviço que prestam à
humanidade.
2. A Origem e a Natureza dos Anjos
O amor de Deus fez com que Ele desse existência a seres racionais,
capazes de conhecê-Lo e amá-Lo, e de participar de Sua bem-aventurança.
Os anjos - espíritos incorpóreaos e imateriais que O servem e com Ele
cooperam - foram a primeira criação deste amor Divino.. Deus os trouxe à
existência, derramou dons sobre eles e os estabeleceu nas moradas
celestes. Embora ricos em dons e graça, não são completamentes
perfeitos por serem criaturas. Tendo razão e livre-arbítrio, são
capazes de render amor genuíno a Deus. No entanto, alguns deles,
liderados pelo mais esplêndido dentre todos, começaram a admirar a sua
própria perfeição limitada e entregaram-se à arrogância e ao orgulho.
Dizem as Sagradas Escrituras que o orgulho foi o maior motivo da queda
deles (2 Tm 3:2-6). O maior dos anjos tornou-se invejoso e cheio de
vaidade, o que o levou a liderar outros anjos contra o Criador e, então,
todos foram afastados do Senhor. Os rebeldes caíram e perderam a
visão de Deus, tornando-se anjos das trevas e da mentira; os maus
sucumbiram, atormentados por sua própria inveja e pelo ódio que os
mobilizava.
Os que permaneceram fiéis a Deus foram fortalecidos pela graça Divina e
tornaram-se completamente abençoados. São reflexos de glória e o
brilho do Santo dos Santos os envolve. Deleitando-se em êxtase na
contemplação da beleza eterna, são possuídos por um amor incomensurável e
livremente bebem da fonte de bênçãos. Sem cessar louvam e aclamam o
Deus Todo-Podereoso, que derrama muito amor sobre eles e lhes dá tarefas
a serem executadas para a realização de Sua providência. Estes anjos
foram enviados a anunciar todos os acontecimentos proporcionados pela
economia Divina da salvação. Como arautos de Deus, são representantes
de Sua Majestade. Estão acima de todas as limitações humanas, sendo
limitados apenas pelo fato de terem sido feitos criaturas e servos do
Senhor.
Talvez alguém pergunte: “Como podem os anjos incorpóreos, sendo
espíritos, aparecer aos sentidos humanos numa forma assemelhada a dos
homens?”
Poderíamos, então, responder: “Para Deus tudo é possível”. No entanto,
não podemos penetrar nas profundezas da sabedoria e do conhecimento de
Deus. Não temos como dizer de que maneira os anjos incorpóreos podem
aparecer a nós sob forma humana. Será que aparecem fisicamente ou
apenas se revelam aos olhos do nosso coração? Não sabemos. É possível
que sejam vistos por revelação mas é certo que o Criador tem poder sobre
tudo e à uma ordem Sua tudo se fará segundo a Sua vontade.
3. A Ordem e Hierarquia dos Anjos
Segundo
as palavras das Santas Escrituras, as hostes dos anjos celestes e
benditos são incontáveis (Lc.10:17-20, Ap.12:4). Quando o profeta
Daniel teve a visão de Jesus como Filho do Homem, lá estavam milhares de
anjos diante de Seu trono (Dn.7:10). O grande profeta do Novo
Testamento teve uma visão similar e viu em volta do trono de Deus tantos
anjos que “seu número era de milhares de milhões” (Ap.5:2).
Apesar de um número tão elevado, uma ordem perfeita e harmoniosa existe
entre eles. Esta ordem é a beleza da perfeição, da sabedoria, da
verdade e do amor. A sabedoria de Deus a tudo ordenou; apenas aquilo
que está afastado d’Ele é desorganizado e instável. Os anjos foram
estabelecidos em nove ordens: Arautos, Arcanjos, Poderes, Domínios,
Principados, Potestades, Tronos, Querubim e Serafim (Col. 1:16; 1
Pe.3:22). Estes seres são submissos uns aos outros em amor e humildade
perfeitos. A luz se propaga dos mais elevados em direção aos menos: o
rio da vida, fluindo do coração Divino, derrama-se igualmente sobre
todos eles.
S. Dionísio, o Areopagita e outros padres da Igreja, nos mostram que
as nove ordens de anjos são divididas em três grupos. Ao primeiro
percentem os Tronos, Querubim e Serafim; ao segundo, Potestades,
Domínios e Poderes; e ao terceiro, Arautos, Arcanjos e Principados.
Primeiro vêm os Serafins. O nome “seraph” significa fervor radiante do
amor Divino; amor que os inflama, e eles irradiam aos outros. Eles
são seres inteiramente inflamados de amor.
Os segundos têm por nome “cherub”, que significa a completude do
conhecimento e da sabedoria. Segundo S. Dionísio e os outros padres,
estes espíritos abençoados são chamados querubins porque são permeados
pelos mais abundantes raios de luz, contemplando diretamente a Fonte de
Luz pré-eterna. Eles conhecem a completude de tudo o que Deus permite
às Suas criaturas conhecerem. Dois Querubins cobrem com suas asas a
arca do Velho testamento. Além do conhecimento e da sabedoria, os
Hebreus atribuíam-lhes grande poder.
Os Tronos habitam junto de Deus e através deles o Senhor manifesta a justiça sobre a terra ao longo dos tempos.
As Potestades regem com glória sobre os seres angélicos menores e dirigem o serviço destes.
Os Poderes são, segundo muitos santos Padres, os espíritos através de quem o Senhor realiza Seus milagres.
Os Domínios abreviam o poder dos espíritos malignos na guerra que movem contra a humanidade.
A palavra “anjo” significa “arauto” ou “mensageiro”. Os anjos
especialmente chamados de “arautos” são aqueles a quem o Senhor envia
com as Suas ordens por todo o universo. Os Arcanjos são os comandantes
destes mensageiros Divinos. São eles que anunciam os maiores mistérios à
humanidade, assim como o fez o Arcanjo Gabriel ao anunciar à Virgem a
proximidade do nascimento do Salvador.
Nos ícones, os anjos são retratados com asas a fim de mostrar que,
embora pareçam ter uma forma corporal, eles não têm realmente corpo
físico. As asas significam que eles são incorpóreos e imateriais e
mostram que seus movimentos não são limitados como os dos homens, mas,
com grande velocidade, podem deslocar-se para qualquer parte do
universo.
Os anjos são seres criados e por isso não são espíritos perfeitos como
Deus é, e são limitados pelo tempo e o espaço, quer dizer, embora saibam
muito, enquanto seres individuais não estão presentes em todos os
lugares ao mesmo tempo (onipresença). Não sabemos como os anjos se
comunicam entre si, mas sabemos que o fazem. Também compreendem a
linguagem silenciosa das nossas almas que clamam por eles, e sempre nos
ouvem com amor e compaixão e intercedem por nós junto ao Senhor.
4. Os Anjos decaídos
Podemos
imaginar que terríveis consequências a queda acarretou aos anjos.
Estas pobres criaturas foram privadas da bem-aventurança e da santidade
e, pior, de qualquer esperança de eternidade. Entretanto, não foram
privados de seus dons naturais, ou seja, alguns poderes e uma
inteligência penetrante, embora as habilidades que permaneceram com eles
sirvam somente para o tormento, e não para o arrependimento e a
salvação. Eles foram totalmente cortados da fonte do amor, e então a
sua existência volta-se apenas para a malícia e o ódio. Seus poderes e
inteligência são dedicados a tentar levar a humanidade na mesma direção
da sua miserável e destrutiva rebelião.
Nosso Salvador chama o antigo arcanjo, Satã, de “princepe deste mundo”
(Jo.12:31), pois Satã inspira o orgulho maligno e a rebeldia deste mundo
que causam as guerras, os crimes, a crueldade e toda a rejeição por
parte dos homens para com Deus. O Apóstolo Paulo se refere a Satã como
“príncipe dos poderes do ar”, e distingue categorias de demônios,
chamando-os “principados, poderes e legisladores das trevas desta era”
(Ef. 6:12; Col.2:15).
Daí pode-se concluir que os anjos decaídos existem na mesma ordem
hierárquica dos anjos de Deus, e são subjugados por Satã, o mais
poderoso e maligno de todos.
O poder e a belicosidade dos espíritos malignos contra a humanidade são
bastante conhecidos. A compreensão e a consciência de sua existência e
poder é comum à todas as pessoas, da mais primitiva à mais sofisticada,
e somente os tolos negariam ou ignorariam a presença de tais criaturas,
seus poderes malignos, e da força destrutiva da mentira, engano e
corrupção no mundo.
Satã sempre tenta nos enganar usando a esperança da satisfação sensual,
dos prazeres mundanos e ganância. E como recompensa àqueles que o
seguem? Com destruição, doenças, guerras e tormento eterno.
O livro “On Evil Spirits”
( Sobre os Espíritos Malignos) nos fala sobre a belicosidade que os
demônios usam contra nós e sobre como devemos lutar para sairmos
vitoriosos desta guerra.
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