São João (Maximovitch), Arcebispo de Shangai e São Francisco.
Nascido em 1896 no vilarejo de Adamovka, na província de Kharkov, o
bem-aventurado Hierarca João pertencia à família nobre dos Maximovicth.
Batizado com o nome de Michel, ele recebe sua educação secundária na
Escola Militar de Poltava e completa, em seguida os estudos de Direito
na Universidade de Kharkov.
Aquando da guerra civil, e a seguinte Revolução (1921), sua família
exila-se em Belgrado, onde termina seus estudos de teologia. Em 1926,
fora tonsurado monge pelo Metropolita Antonio Khrapovitsky, um dos mais
brilhantes hierarcas russos que pôde escapar à tormenta revolucionária.
Recebendo o nome de seu santo parente, João de Tobolsk (memória aos 10
de Junho), fora em breve colocado como tutor e professor no Seminário
sérvio de Bitol, onde influencia grandemente seus estudantes pela sua
conduta ascética e sua solicitude paternal.
Depois de ter inspecionado os dormitórios, ele costumava passar à noite
em oração, sentado ou prostrado, diante dos ícones. Reconheceu, em
seguida, que após sua recepção monástica, jamais havia se estendido para
dormir. Comia uma vez por dia, um pouco antes da meia-noite, e durante a
Grande Quaresma, alimentava-se somente como pão do Altar, passando
tanto a primeira como a última semana em completo e restrito jejum.
Em 1934 fora sagrado Bispo, apesar e suas reticências, e enviado a
Shangai, onde se dispõe inteiramente ao apoio e a consolação de muitos
refugiados russos. Ele começa por reconciliar os ortodoxos de diferentes
nacionalidades, outrora dispersos por querelas de jurisdições, e
organizando, seguidamente, a assistência aos mais pobres. Percorria, a
toda hora, as ruas para recolher as crianças doentes e os órfãos, tanto
russos como chineses. O orfanato que ele funda, sob a proteção de São
Tikon de Zadonsk começa com oito crianças e chega a alcançar 3.500,
quando então a chegada dos comunistas obriga a comunidade a se refugiar,
primeiramente em uma das Ilhas Filipinas e em seguida nos E.U.A.
Apesar de suas funções pastorais, São João continuava – pela sua vida
ascética – a celebrar cotidianamente a Divina Litugia. Atingindo por uma
úlcera nas pernas, recusa de antemão ser operado, mas submete-se
finalmente às pressões dos paroquianos; na mesma noite da intervenção
cirúrgica, ele encontrava na igreja, celebrando a vigília da Exaltação
da Santa Cruz.
Contentava-se com vestes simples e humildes e quase sempre trazia
sandálias simples nos pés, as quais ele geralmente ofertava a um pobre,
celebrando sempre descalço, para o espanto de muitos.
É desta forma, inclinado a Deus pela ascese e com o mesmo rigor dos
Santos Padres de outrora, que recebera de Deus o dom da clarividência, o
qual exercia com discernimento para salvação e a edificação das almas.
Ele passava a maior parte de seu tempo visitando os doentes,
levando-lhes a Santa Comunhão, consolando-os pela presença de Deus; não
desprezava nem um sequer, tanto os prisioneiros como os doentes,
mentais, os quais o acolhiam com mansidão e alegria, ouvindo com atençao
seus sermões.
Durante a ocupação japonesa, como a colônia russa de Shangai
encontrava-se constantemente ameaçada, o corajoso Prelado, arriscando
sua vida, continuava a visitar suas ovelhas, mesmo até nos locais mais
perigosos possíveis. Com a chegada dos comunistas em 1949, os refugiados
russos são evacudaos, em números de cinco mil, para uma Ilha das
Filipinas, frequentemente submissa ao tifo, peste daquela época.
Todavia, protegidos pelas orações de seu Pastor, o campo dos refugiados é
poupado durante os 27 meses de sua estadia. Um pouco depois da partida
da maioria dos refugiados, um terrível tufão destroi totalmente o campo.
Tendo conseguido obter a autorização de emigração para os E.U.A de seu
rebanho, o infatigável Pastor é nomeado Arcebispo da Igreja Russa
Fora-das-Fronteiras para a Europa Ocidental (1951). Tendo sua sede,
primeiramente em Paris, ele reside em Bruxelas. Longe de se limitar às
necessidades pastorais dos emigrados russos, mostra vivo interesse pela
restauração da Ortodoxia adormecida no Ocidente e manifestava profunda
devoção pelos Santos ocidentais anteriores ao Cisma, os quais ele
procurava restabelecer a memória litúrgica.
Tanto na Europa como na China, e em seguida nos E.U.A, o bem-aventurado
continuava a reger sua conduta unicamente baseada sobre a Lei divina,
sem levar em consideração convenções sociais, o que atirava a crítica de
uns, mas o fazia considerar-se como “louco-em-Cristo”, por outros.
Certo dia, um Padre católico-romano querendo assegurar a seus fiéis que
a santidade não é algo do passado, cita sua virtude em um de seus
sermões “Eis que nas ruas de Paris circula, nos dias de hoje, um São
João de pés descalços!”
Em 1963 é enviado de urgência a São Francisco, a fim de restaurar a paz
no seio da comunidade russa, dividida em virtude da construção da
Catedral. Suportando as calúnias sem contradizê-las e jamais julgar o
próximo ou perder sua paz interior, ele aceita comparecer contrariamente
aos Santos Cânones, diante de um tribunal civil, para responder às
acusações de desvios de fundos a ele impostas. Agia e obrava
estritamente naquilo que concernia a moral de seus fiéis e a preservação
da tradição eclesiástica, mas derramava em profusão o amor divino sobre
todos aqueles que a ele recorriam, demonstrando em todo o tempo uma
solicitude apurada para com as crianças.
Tendo prevido muito tempo antes o dia de sua partida, ele repousa em
paz aos 19 de Junho (02 de Julho do calendário civil) de 1966, em
Seattle. A cerimônia de seu funeral, na Catedral de São Francisco marca
um triunfo da Ortodoxia reconciliada, onde milhares de fiéis afluem para
venerar suas relíquias. Muitos foram aqueles que remarcaram que seu
corpo não mostrava sinal algum de corrupção e exalava um aroma suave.
Desde então, o Hierarca deu testemunho por muitas vezes de sua
assistência celeste junto aos fiéis de todas as “jurisdições” que o
invocavam.
Pelas
orações do nosso Santo Pai João o Taumaturgo, Hierarca de Shangai e São
Francisco, ó Cristo nosso Deus, tem piedade de nós e salva-nos. Amém!
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